Depois da abertura, com o excepcional Anatomia de uma Queda, surge na Mostra mais um contundente drama de tribunal francês, O Caso Goldman, de Cédric Kahn, inspirado numa história real.
O filme acompanha o julgamento de Pierre Goldman (1944-1979), judeu e militante de esquerda, acusado de assaltos e do assassinato de duas mulheres durante uma tentativa de roubo em 1969.
Desta vez, diferentemente de Anatomia de uma Queda, o drama se passa por inteiro dentro de um tribunal de justiça. Por curiosidade, um dos advogados de defesa é interpretado por Arthur Harari, corroteirista de Anatomia de uma Queda e companheiro da diretora vencedora da Palma de Ouro, Justine Triet.
Enfim, O Caso Goldman é, em sua essência, um filme da palavra, em que valem não apenas os torneios verbais de defesa e acusação, mas as próprias (e ríspidas) intervenções do acusado, e de testemunhas do crime.
Exige muita atenção, pois as pessoas falam muito e rápido, um francês de metralhadora. O que dizem não é banal e, sem estarmos numa convenção de filósofos, no fundo o que se discute é a questão da verdade e como (e se) é possível alcançá-la. O que se disputa é a vida e a morte de um homem. Nada menos.
Já havia ouvido falar muito bem desse filme, em especial em debates entre críticos franceses. A maior parte deles adora o filme e este é bem cotado no site Allociné, que agrega críticas de diversos veículos, desde a mais popular Première até a exigente Cahiers du Cinéma.
O filme se debruça sobre o segundo processo contra Goldman. No primeiro ele havia sido condenado à prisão perpétua. Neste segundo, admite vários crimes cometidos, mas declara-se inocente dos dois assassinatos. Provocador e insolente, tenta, em certo momento, partir para cima do promotor e agredi-lo. O papel é defendido com brio por Arieh Worthalter. Arthur Harari faz o jovem advogado Georges Kiejman, também judeu, que pena para defender cliente tão incontrolável.
O julgamento é politizado e parte da esquerda francesa adota Goldman como ídolo. Por seus antecedentes políticos, é certo, mas também pela maneira corajosa como enfrenta seus acusadores e os tacha de racistas e antissemitas.
O filme é tenso do começo ao fim. Você não desgruda os olhos da tela e nem os ouvidos das falas. Cédric Kahn, com requintado trabalho visual, consegue nos fazer esquecer da monotonia daquela austera sala de tribunal. Filmaço.
Horários de exibição
19/10
21:20
RESERVA CULTURAL - SALA 2
20/10
13:30
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 1
22/10
14:00
KINOPLEX ITAIM SALA 2
26/10
17:00
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1
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