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Cinema, cultura & afins

Opinião|Mostra 2024: O Vidreiro e outros filmes

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
 

Diário crítico (3)

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Na maratona de sábado, o melhorzinho foi a animação paquistanesa O Vidreiro. O pior, o francês Uma Terra em Chamas. No meio de campo, O Banho do Diabo, da Áustria, e TWST - Things We Said Today, da Romênia e França. 

O Vidreiro, de Usman Riaz, é uma animação bastante bonita, cujo enredo mescla romance e amor. O filho do vidreiro se apaixona pela filha do chefe militar de um país. Os dois jovens, que se conhecem quando crianças, são talentosos: ele como continuador do pai na arte do vidro; ela, como virtuose do violino. Mas a guerra vai separar os namorados. Como terminará o caso?

Como disse, o desenho é muito bonito, com traços realistas, e a história - adulta - é bem contada. Discute guerra, amor e pacifismo. É legal. Foi indicado pelo Paquistão a uma das vagas no Oscar. É falado em inglês e dá para ver sem susto. 

Já O Banho do Diabo, de Severin Fiala e Veronika Franz, da Áustria, pesa como chumbo. Estamos na Áustria do século 18 e logo no início assistimos a um infanticídio. Uma mulher joga um bebê cachoeira abaixo. Depois assistimos a um casamento. 

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Agnes se casa e sonha em ter um filho, mas o marido não colabora. A sogra intervém na vida do casal. Tudo é escuro, sujo, triste, sofrido. E a saúde mental de Agnez vai indo para o brejo. Ela quer dar fim à vida e se encaminha para a única solução que lhe parece viável. 

O filme é sólido, reconheço. Mas, nessa trajetória de sofrimento, me parece bastante redundante. Havia uma maneira de terminá-lo de modo um pouco mais sintético, mais elegante (se o termo cabe), mas a dupla de cineastas optou por um volteio a mais, com uma execução bárbara e um festim sangrento da comunidade. De cortar os pulsos. 

Vendo os créditos, vi que o austríaco Ulrich Seidl é o produtor. Conheço os filmes dele. Não dão o menor refresco ao público. É o caso deste aqui, indicado pela Áustria a uma vaga no Oscar de filme internacional. Será uma surpresa se a Academia de Hollywood selecioná-lo. Claro, tem qualidades, apontando, em especial, a questão religiosa na tragédia de Agnes e outras tantas mulheres daquele tempo - os dados são documentados em estudos históricos do período. Mas, como filme, é de um sofrimento sem fim.  

Já o documentário romeno TWST, dirigido por Andrei Ujica, poderia ser bem melhor do que é, caso dispusesse de melhor material. Registra a passagem dos Beatles pelos Estados Unidos em 1965. A ideia é boa: contrapor a visita e o show dos astros de Liverpool ao incendiário panorama dos EUA na época, com seus conflitos raciais literalmente pegando fogo. 

Vemos a chegada dos Beatles a Nova York, a histeria das adolescentes, uma caótica entrevista coletiva. Depois eles somem. Não há música dos Beatles porque, sabemos, os direitos são caríssimos. Por outro lado, o registro dos conflitos é muito rico. E, mais ainda, das comunidades negras em suas festas e fazendo música. Um show de alegria em meio ao caos social. O filme perde o seu foco. 

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Ainda assim, é bem melhor do que Uma Terra em Chamas, de Mona Convert. Ela mostra uma família, na floresta de Landes, na França, dedicada à arte dos fogos de artifício. Os experimentos são até interessantes. Uma das personagens, Margot, se veste como autômato, expelindo chamas para todos os lados. Assiste-se a muitas queimas de fogos, bonitas até. Mas fica por aí. Ainda bem que é curto. Às vezes penso que há filmes demais no mundo.  

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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