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Opinião | O Último Desafio

Em O Último Desafio, do coreano Jee Woon-Ki, o charme do filme vem da volta às telas do herói envelhecido, Arnold Schwarzenegger. John Wayne em O Último Pistoleiro, Sylvester Stallone em Os Mercenários, Michey Rourke, em O Lutador, que acabou por vencer um festival importante como o de Veneza, são alguns exemplos desse contínuo reciclar de Hollywood. O herói na terceira idade fica na fronteira entre o patético e o digno. O envelhecimento dos astros e estrelas é algo que nos toca. O tempo passa para nós e passa para todos. É democrático.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio

Passou para o personagem de Arnold, Ray Owen, um fortão da polícia que se retirou para um posto afastado, próximo da fronteira com o México. Lugar tedioso, onde as infrações mais graves são uma bebedeira ou um eventual roubo de galinhas. No entanto, o xerife será confrontado com uma missão à altura do seu passado, quando um chefão do tráfico de drogas, Gabriel Cortez (Eduardo Noriega), em fuga, passar por seu território.

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Cortez era conduzido sob escolta ao corredor da morte quando consegue escapar, debaixo do nariz do agente John Bannister (Forest Whitaker). Fuga espetacular, com todos os requintes do cinema de ação. Acontece que o bandido embarca num carro poderoso - uma Corvette envenenada - para escapar por terra. Leva consigo uma refém, uma policial.Escapa a tudo, mas para cruzar a fronteira, deverá passar pelo território de Schwarzenegger.

Verossimilhança não é o forte desse tipo de filme. Algum chato pode conjecturar por que um bandido com tantos recursos como Cortez resolve dirigir um carro, por melhor que seja este, através de estradas baldias da Califórnia. Por que não usa um jatinho? Bem, porque aí não haveria história. Depois, o mesmo chato poderia meditar por que o FBI, com tantos recursos, depende da boa vontade de um xerife à moda antiga e seus ajudantes meio desengonçados? Mesma resposta da pergunta anterior.

Deixemos, portanto, a verossimilhança de lado. A referência clara, em O Último Desafio, além da temática do herói envelhecido mas que ainda dá no couro, é a um faroeste clássico de Howard Hawks - Onde Começa o Inferno (Rio Bravo). Neste filme, tido como perfeito pelos fãs do western, e um dos favoritos do cinéfilo Quentin Tarantino, também uma espécie de armada Brancaleone espera pelos bandidos. Uma velha cadeia, da qual um bando muito bem armado tenta resgatar um preso, é defendida por Wayne, um jovem pistoleiro (Rick Nelson), um velho e um alcoólatra. Em O Último Desafio, além de Arnold, há o rapaz problemático posto de molho na cadeia por uns dias, Frank (Rodrigo Santoro), um excêntrico fanático por armas e uma garota valente. São eles a enfrentar o poderoso bandido e uma comitiva que o precede com a finalidade de limpar o caminho para a fuga.

Apesar de momentos de diversão, O Último Desafio não esconde a marca de material reciclado. É bastante previsível. Mera diversão, não tenta inovar em qualquer aspecto que seja. Investe em clichês dos filmes de ação (perseguições de carros, explosões, destruição à vontade) e não reserva qualquer surpresa. Aposta na rotina como a maneira mais objetiva de seduzir um público avesso a variações. Santoro tem presença na história. No começo, aparece e some. Na parte final, ressurge e participa bastante.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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