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Opinião | Paris Está em Chamas

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio

Esse filme de culto de René Clément ficou um pouco esquecido com o correr dos anos. No entanto, na época (1966), foi um acontecimento, talvez pela presença de um elenco estelar e internacional. Paris Está em Chamas apresenta um cast formado por gente como Yves Montand, Simone Signoret, Orson Welles, Alain Delon, Robert Stack, Kirk Douglas e um longo etc. Além desses grandes atores, há outra surpresa nos créditos - o roteiro é assinado por um então muito jovem Francis Ford Coppola. A música é de Maurice Jarre.

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Não são apenas os nomes que impressionam. É todo um trabalho cinematográfico digno de nota, mas que talvez tenha saído em época errada e por isso foi um tanto esquecido pelos cinéfilos. Bom que a Lume tenha lançado o DVD, um épico de quase três horas de duração - 2h50 para ser preciso.

A época talvez "errada" diz respeito a um cinema francês tradicional, do qual fazia parte Clément, então sob forte contestação da nouvelle vague. Essa outra guerra - a dos críticos e cineastas - já estava então perdida para os "jovens turcos" dos Cahiers du Cinéma, que haviam imposto um gosto. Talvez não ao público, mas à própria intelligentsia francesa e decerto mundial.

A própria participação da Resistência Francesa na liberação de Paris, então contestada, é heroicizada sob os olhos de Clément. O que pode ter parecido pouco realista para o olhar crítico dos anos 1960, mais interessados em enxergar a fragilidade francesa diante do inimigo alemão durante a guerra que fazer o balanço dos heróis que de fato haviam resistido. Isso era coisa para um pouco depois, quando a lembrança do morticínio de 1939-1945 já pudesse ser visto à distância.

Jean Tulard, em seu Dicionário do Cinema, faz carga pesada tanto sobre realizador como sobre filme: "Obra de uma desavergonhada hagiografia, a ponto de cair no ridículo". Tacha Clément de cantor maior da Vª Resistência Francesa. Embora admita filmes como Jogos Proibidos e Os Malditos como testemunhos poéticos e lúcidos da guerra, diz que Clément se tornou o cineasta oficial da Vª República, da mesma forma que no tempo da monarquia os reis tinham seus biógrafos autorizados. A crítica azeda pode até proceder. Mas não faz justiça a um épico bem trabalhado e com passagens empolgantes.

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De seja qual for o grau de verossimilhança histórica, ou seu viés ideológico e patriótico, a trama revela-se eletrizante. A história é baseada no livro de Lapierre e Collins, ambientado nos dias finais da 2ª Guerra. O ponto central é que o general alemão destacado para assumir a direção em Paris recebe ordem, do próprio Hitler, de destruir por completo a cidade caso os Aliados estejam próximos de liberar a capital francesa. Em outros termos, se a guerra for perdida, que só reste cinzas após a passagem dos alemães.

Numa trama muito baseada em cenas de ação e fuzilaria, o tônus central emana dessa decisão individual do general alemão Dietrich Von Cholitz (Gert Fröbe). Ele oscila e quem tenta convencê-lo a poupar Paris é o cônsul sueco Rauol Nordling, interpretado por ninguém menos que Orson Welles. Essa é a questão central, que se irradia para tramas paralelas e às vezes francamente secundárias. Se falta ao filme poder de síntese, ele compensa com outras qualidades, além do já citado elenco estelar. Tais como a recriação de um clima empolgante às vésperas da liberação da grande cidade. Além do registro documental impecável da Paris tomada pelos inimigos.

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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