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Margareth Menezes é convidada para ser ministra da Cultura de Lula

Segundo assessoria, cantora ainda não decidiu se vai aceitar o convite para assumir Ministério

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Foto do author Adriana Moreira
Foto do author André Carlos Zorzi
Foto do author Lavínia  Kaucz
Atualização:

Margareth Menezes foi convidada a assumir o Ministério da Cultura no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A assessoria de imprensa da artista confirmou o convite, mas disse que a cantora ainda não definiu se vai aceitar.

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Margareth integra a equipe de cultura no governo de transição de Lula. O convite para assumir a pasta ocorre em meio a críticas sobre a falta de mulheres e pessoas negras no comando de ministérios do petista. Na última sexta-feira, 9, Lula anunciou cinco ministros que irão compor seu governo: Fernando Haddad na Fazenda, José Múcio na Defesa, Rui Costa na Casa Civil, Flávio Dino na Justiça e Mauro Vieira no Itamaraty. Antes mesmo da eleição de Lula, diversos nomes foram cotados para a Cultura, como os artistas Chico César, Daniela Mercury e Emicida e o ex-ministro Jucá Ferreira.

Em seus primeiros mandatos como presidente (2003-2010), Lula contou com Gilberto Gil e Juca Ferreira na área. Durante o mandato de Jair Bolsonaro, o ministério foi extinto e se transformou em secretaria especial de Cultura, ocupada por nomes como Roberto Alvim, Regina Duarte, Mário Frias, Helio Ferraz e André Porciuncula. Com o novo presidente, a pasta retomará o status de ministério.

Margareth Menezes já deu declarações públicas de apoio ao presidente eleito. Em live realizada na campanha eleitoral, em setembro, ela declarou seu apoio já no primeiro turno: “Eu acho que a gente precisa dar esse voto de confiança para a gente respirar, se fortalecer e recuperar o Brasil”.

O apoio vem de longa data: em 2011, ano seguinte ao segundo mandato do petista, postou no Twitter: “Desejo ao nosso amado Lula força e fé. Para nós, brasileiros, ele é um exemplo de conquistas importantes e transformou a vida do povo”. Em outro tuíte, destacava: “Eu sei o que o povo pobre desse País comia antes e depois de Lula.”

Associação Fábrica Cultural

Margareth Menezes é criadora e presidente da Associação Fábrica Cultural, entidade privada sem fins lucrativos na Bahia, mais especificamente na região da Península do Itapagipe, em Salvador, onde nasceu. Fundada oficialmente em 29 de março de 2004, entrou em atividade cerca de quatro anos depois, possivelmente em uma de suas experiências mais próximas à do cargo de ministra da Cultura.

Entre os projetos da instituição, ações de qualificação profissional para jovens em áreas como costura, design gráfico, estamparia e artesanato de pedras semi preciosas, oficinas de arte, educação, língua e literatura para crianças, inclusão digital e fórum de discussão para “fortalecer os vínculos familiares” da comunidade local.

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A cantora Margareth Menezes durante apresentação na Virada Cultural 2022, em São Paulo Foto: TABA BENEDICTO

A instituição afirma trabalhar com base em sete Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): Erradicar a pobreza; educação de qualidade; igualdade de gênero; trabalho digno e crescimento econômico; reduzir as desigualdades; cidades e comunidades sustentáveis; produção e consumo responsáveis.

Críticas ao pagode: ‘porcaria’

Em 2009, Margareth fez uma série de declarações polêmicas, criticando artistas e fãs de pagode: “Eu tive a oportunidade de fazer um show num lugar aqui mesmo, em Salvador, onde tinha outra banda, uma banda de pagode, que cantaria depois de mim. Eu cantei samba-reggae, cantei reggae, música popular brasileira, e o povo não reagiu. O povo só reagia na ‘quebradeira’, aquela coisa ridícula.”

“Eu acho ridículo. Desculpa, mas eu acho ridículo a exposição, a falta de postura, acho ridículo quando você mobiliza uma comunidade para falar porcaria, para ficar cantando coisas... Sinceramente. Olha, eu já tive adolescência, mas eu nunca gostei de porcaria. Nunca prestei a minha mente para ficar consumindo merda. Nunca mesmo. Porque eu me dou valor. Eu me dou valor e eu respeito todo mundo que vai a um show meu. No meu show pode ir uma criança, velho, adulto, jovem, o que for. Sempre cantei para todos”, continuou.

As falas foram feitas durante o debate “Paz sem voz não é paz, é medo”, na Universidade Católica do Salvador (UCSal), ao lado dos músicos Marcelo Yuka (O Rappa) e Serginho (Adão Negro), em 12 de maio de 2009.

Polêmica com público LGBT

Nos anos 2000, também deu declarações que foram mal vistas pelo público LGBT, que compunha a maior parte de seu bloco no carnaval de Salvador à época, Os Mascarados. “Estão falando que Margareth havia entrado para uma igreja e que não aceitava mais os gays que saem no bloco. Isso é mentira! Ela nem tem uma religião definida e nunca abandonaria o público do bloco, que sabe ser GLS [Gays, Lésbicas e Simpatizantes, sigla utilizada à época]”, informou a assessoria de Menezes ao site Ego em 2008. Em 2021, a artista gravou um vídeo em que desejava “vida longa e saúde” ao Grupo Gay da Bahia, em ocasião do aniversário da entidade.

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Questões raciais

Sobre as particularidades da cultura brasileira, exaltou, em entrevista ao Programa do Porchat (Record TV) em 2018: “Já tem umas duas gerações pra cá que o pessoal tá assumindo mais (a negritude), mesmo, o jeito de ser. Não tem muito pra onde correr, gente, vai fazer o quê? Tá tudo misturado, é nós, é o Brasil, essa beleza, todo mundo contribui da sua forma, com a sua cultura, com a sua mistura. Eu acho muito bacana. O Brasil é um País diferenciado por isso. Quando a gente começa a imaginar quantas pessoas vieram pra cá, tanto de África, quanto de outros países da Europa, e outros lugares, e essa coisa foi se cruzando, se juntando, de comportamento, de cultura, de comida, de tudo, é um lugar diferenciado de qualquer outro lugar. A gente começar a entender que riqueza é essa é muito legal.”

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

”Essa polaridade tem que ser aceita. Não é porque eu moro num lugar em que a maioria é negra que eu vou achar que o Brasil todo é negro. Não é porque você mora num lugar em que a maioria é branca que você vai achar [que o Brasil todo é branco]. Não é. O Brasil é assim. E onde você mora também tem pessoas negras, tem descendentes de índio, pessoas brancas. Isso é a história nossa, a gente não pode ter vergonha disso. Isso complica demais até pra gente se desenvolver”, continuou.

Juventude

Margareth Menezes da Purificação nasceu em 13 de outubro de 1962, filha de uma doceira e um motorista, sendo a mais velha entre seis filhos. A paixão musical surgiu por conta dos pais, que ouviam artistas como Jackson do Pandeiro, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Angela Maria, Luiz Gonzaga, Dicró, Martinho da Vila, Clara Nunes, Noite Ilustrada, Marinês e Sua Gente e Moreira da Silva. Também fez parte do coral de Boa Viagem na infância.

Ganhou seu primeiro violão quando era adolescente, época em que frequentava grupos teatrais fazendo peças como Ser Ou Não Ser Gente (1980), Máscaras (1982) e O Inspetor Geral (1982). Em 1983, participou do Gran Circo Troca de Segredos, espaço cultural inspirado no Circo Voador, do Rio de Janeiro.A parte musical seguia presente: numa montagem de O Menino Maluquinho, inspirada na obra de Ziraldo, fez a trilha sonora, operação de som e gerenciamento da técnica vocal do espetáculo. “Dentro dessa questão de teatro foi que eu vi com uma consciência do meu potencial artístico”, defendeu, anos depois.

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Sucesso na música

Em 1986, dá os primeiros passos a valer em sua carreira musical, com apresentações em cidades do interior baiano, e também no Teatro Castro Alves, por meio do Projeto Pixinguinha. Seu primeiro show, Banho de Luz, lhe valeu um Troféu Caymmi de melhor intérprete.Em 1987, grava o single Faraó - Divindade do Egito, considerado o primeiro samba-reggae lançado, ao lado de Djalma Oliveira. Em seguida foi contratada pela gravadora PolyGram e lançou seu primeiro disco, Margareth Menezes, em novembro de 1988. Nele, e chamou atenção com uma versão da composição de Rey Zulu e Ytthamar Tropicália, Uma Historia De Ifa (Elegibô).

A canção também abriu Elegibô (1990), álbum produzido por David Byrne (Talking Heads) e lançado somente no exterior. A parceria com o músico escocês ajudou a impulsionar sua carreira internacional, e o disco atingiu o primeiro lugar da parada Billboard World Albums graças às boas vendas nos Estados Unidos. À época, a cantora havia chamado atenção também por conta de uma série de apresentações ao lado de Gilberto Gil e Dominguinhos.

Quando Byrne divulgou seu álbum Rei Momo (1989), fez uma turnê por dezenas de países e chamou Margareth Menezes para abrir os shows. Em maio de 1990, quando estavam pelo Brasil, o Estadão definia a cantora como a dona de um “gingado irresistível e vozeirão acima da média entre as novas cantoras que têm tentado a sorte na MPB”.

Seu álbum Kindala (1991) também teve grande repercussão internacional. No começo dos anos 2000, fez sucesso com Dandalunda, composição de Carlinhos Brown que foi considerada a “música do carnaval de 2003″ em Salvador. Entre outros lançamentos e shows, Margareth Menezes continuou sendo presença frequente nas rádios e TVs do Brasil pelas décadas seguintes.

Ao Grammy, foi indicada em 1993 na categoria de melhor álbum de World Music em 1993 e 2007, além de indicações ao Grammy Latino em 2006 (melhor álbum de pop brasileiro) e 2020 (melhor álbum de música de raízes em língua portuguesa).

Em 2019, lançou Autêntica, seu álbum mais recente, mas seus planos de turnê foram interrompidos por conta da pandemia de covid-19. Durante o período, atuou na série Casa da Vó, da Wolo TV, que também foi exibida na TVE e outros canais. Em 26 de novembro de 2022, estreou seu novo show, Elevante, em apresentação no festival Afropunk Bahia.

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