BRASÍLIA - A ministra da Cultura, Margareth Menezes, declarou nesta terça-feira, 10, que o relógio de Balthazar Martinot pode ter sofrido danos irreparáveis após ataques de golpistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Realmente foi uma falta de sensibilidade muito grande. O relógio, que foi quebrado, não sabemos se vai ter condição de restaurar, uma peça única. O quadro de Di Cavalcanti também pela mesma forma”, declarou a ministra após uma reunião com a primeira dama, Rosângela da Silva, a Janja, no Palácio do Planalto.
O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, e o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, estiveram ao lado da ministra durante a entrevista.
O relógio teria sido fabricado na época de Luís XIV na França. Segundo relatos do Planalto, um século depois foi presenteado pela Corte francesa ao rei de Portugal, Dom João VI, que o trouxe para o Brasil em 1808 com a vinda da família real portuguesa ao Brasil. De acordo com informações do governo federal, existem apenas duas unidades do peça. A outra está no Palácio de Versailles, na França, mas possui a metade do tamanho do exemplar que foi destruído neste domingo.
“O relógio talvez seja a obra mais sensível. Existem outros daquele tipo, mas de tamanhos menores. Está muito danificado, muito danificado. Não está fechada (a avaliação), mas está muito danificada a peça, bastante danificada”, afirmou a chefe da pasta da Cultura.
Também citado pela ministra, o quadro do artista plástico Di Cavalcanti se trata da obra “As Mulatas”. Segundo o governo, a peça, que é a principal obra do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi encontrada com sete rasgos de diferentes tamanhos. “A avaliação sobre o quadro de Di Cavalcanti está sendo feita, inclusive o valor real, que está variando entre R$ 20 milhões, R$ 10 milhões. É algo muito sensível e delicado”, afirmou Margareth. Outras peças de arte também foram destruídas com os ataques.
Margareth também afirmou que o governo federal deve criar um memorial para repudiar o quebra-quebra feito no último domingo, 8, na sede dos Três Poderes. “Há a ideia de criar um memorial sobre essa violência que sofremos para que nunca mais aconteça de novo. É um tesouro do povo brasileiro, isso é um pertencimento da nação, do Estado e que precisa ser respeitada sua integridade”, declarou. “É uma violência muito desrespeitosa e profunda. Esse memorial é para gente deixar marcado isso para que nunca mais possa acontecer outra violência desse nível com a memória, o intocável, que é a nossa democracia”, completou.
De acordo com a ministra, não há ainda um planejamento definido de como será a estrutura desse memorial e e nem sobre o local que ele deve ser instalado. Margareth afirmou que a ideia foi discutida pela primeira vez na segunda-feira, 9, quando voltou de Salvador para Brasília e se reuniu com a equipe da pasta.
“Esse processo ainda está em andamento. A ideia do memorial começou ontem, mas vamos agora formular. Tem que ter um pouco de paciência porque não é muito simples fazer o levantamento. Tem um processo, que é lento mesmo, mas muita gente dando as mãos nesse momento para a gente fazer essa recuperação”, explicou.
Correções
Diferentemente do que informou a primeira versão desta reportagem, o relógio teria sido fabricado na época de Luís XIV na França e posteriormente foi presenteado pela Corte francesa ao rei de Portugal, Dom João VI. O texto foi corrigido.
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