A bossa do açúcar: o estilo único de Isabella Suplicy

Uma fonte na Itália, uma luminária na França, uma exposição: tudo molda o universo particular da confeiteira, uma das maiores do País

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Foto do author Alice Ferraz

Foi em 1994, impactada pela trágica e precoce morte de Ayrton Senna, que Isabella Suplicy tomou uma decisão que transformaria sua trajetória. Refletindo sobre a brevidade da vida, abandonou a advocacia para se dedicar à sua verdadeira paixão: a confeitaria. Essa escolha marcou o início de um caminho que a consagraria como uma das mais renomadas confeiteiras do Brasil.

Isa com escultura doce de 1,7 m de altura, criada para uma festa recente, que reuniu 106 bolos em um só. Foto: Alice Ferraz/Estadão

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Desde os 15 anos, Isabella já demonstrava interesse pela criação de doces. Decidida a profissionalizar-se em uma área ainda pouco explorada no País, buscou formação nos Estados Unidos, onde estudou na prestigiada Peter Kump’s NY Cooking School, em Nova York. No entanto, ela credita grande parte de sua formação ao convívio com seu tio, um homem sofisticado e bem conectado que vivia na cidade na mesma época. “Ele recebia em sua casa intelectuais como Paulo Francis e Paulo Henrique Amorim. Ali aprendi a arte de receber bem”, relembra. Essas experiências moldaram não apenas sua visão sobre confeitaria, mas também a importância de criar momentos memoráveis.

De volta ao Brasil, Isabella começou de forma artesanal, utilizando a cozinha da casa da mãe como ateliê inicial. Sua rede de contatos abriu portas – e sua primeira grande encomenda veio de Eliana Tranchesi, da Daslu, que solicitou 500 tarteletes. “Era um volume imenso para a época, equivalente a milhares de doces hoje”, lembra ela, com um sorriso. Desde então, sua operação cresceu significativamente. Atualmente, Isabella lidera uma equipe que produz cerca de 40 bolos e 5 mil doces por semana. Apesar do volume, ela reforça: “Nosso trabalho não é sobre quantidade. É como alta-costura”.

Escultura

O exemplo mais impressionante dessa filosofia é uma recente obra-prima: uma exuberante escultura doce de 1,7 metro de altura, criada para uma festa há dois meses, que reuniu nada menos que 106 bolos em um só.

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O cuidado, a habilidade e a personalização de seus doces trouxeram para seu portfólio clientes estrelados e eventos de alto padrão. O segredo dessa demanda exclusiva, além do talento, está na originalidade.

Seu sucesso vai além da técnica impecável: reside também em sua criatividade. “Os doces precisam ter bossa. Técnica não é suficiente”, afirma. Essa bossa não se limita ao glacê duro ou às suas tradicionais flores de açúcar. Isabella busca inspiração em diferentes fontes: viagens pelo mundo, que trazem novas cores, texturas e formas; uma fonte na Itália, uma luminária na França, uma exposição. Tudo molda o universo particular de Isabella, que reflete esse repertório em suas criações a cada ano.

Desafio

A escuta das clientes também é um dado essencial para Isabella. “Muitas vezes, elas chegam com fotos de obras de arte, flores ou outras referências, pedindo que eu as transforme em bolos únicos. Cada pedido se torna um desafio criativo e emocional no qual traduzo afetos e histórias em açúcar. Sempre procuro entregar mais do que a expectativa”, diz a confeiteira.

Durante a pandemia, ela lançou o projeto Take Me Home, permitindo que suas criações fossem enviadas para diferentes localidades do Brasil. O sucesso da iniciativa despertou o desejo de expandir sua operação e transformar sua confeitaria em algo que ela chama de “prêt-à-porter”, mantendo a sofisticação e exclusividade da alta-costura.

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“O brasileiro adora celebrar, e isso é lindo. Poder contribuir para essa alegria com doces e bolos que falam com todos os brasis é um sonho”, diz, entusiasmada.

Que esse sonho se torne realidade, adoçando cada região do País com sua forma única de construir narrativas por meio de suas criações.

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