A moda que faz o bem

Com sede na cidadela de Solomeo, na Itália, a grife Brunello Cucinelli trabalha de forma humana para manter vivas sociedade e tradição

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Por Alice Ferraz

Grandes centros urbanos são reconhecidos como lugares de oportunidades profissionais. No Estado de São Paulo, a taxa da população urbana, segundo informações oficiais, representa 96,52% dos habitantes totais. Dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), mostram que, em 2020, a população da capital paulista estava em 11,9 milhões de habitantes – a projeção para os próximos dez anos é que este número aumente em 1,3 milhão. 

Brunello Cucinelli, de sua casa em Solomeu, em conversa com o Estadão Foto: Arquivo pessoal/Bruno Cucinelli

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Este é um movimento que ocorre motivado principalmente pela busca de oportunidades de trabalho e que se repete em outras grandes cidades do Brasil e do mundo. Afinal, são nos polos urbanos que estão concentradas as operações das maiores empresas dos mais diversos ramos, entre eles, a moda. Mas, será mesmo necessário abrir mão de raízes e família para conseguir desenvolver uma carreira ou empreender? Novos tempos pós-pandemia vão pedir novas atitudes e aqui trazemos um exemplo inspirador vindo da Itália.

Brunello Cucinelli, 67, empreendedor à frente de sua marca homônima que nasceu nos anos 70 especializada na produção de peças em cashmere – um tipo específico de lã conhecido por sua textura fina, pela leveza e resistência – decidiu ir na contramão da tendência de estabelecer o centro de operações de uma grande casa de moda em uma metrópole. 

Ele fez do pequeno povoado de Solomeo, na província italiana da Perugia, o coração de sua marca que ganhou o mundo com mais de 130 lojas próprias espalhadas por 38 países. A grife tem forte presença em multimarcas internacionais de peso como Bergdorf Goodman em Nova York e MatchesFashion no Reino Unido

Em relatório divulgado para investidores no ano passado, a empresa divulgou uma receita líquida registrada em 2019 de 607,8 milhões de euros. Brunello contribuiu para o desenvolvimento econômico e humano da região onde mora fazendo com que a cidadela medieval não só sobrevivesse, mas fosse reconhecida pela oportunidade de trabalho com qualidade de vida. Ele colaborou, dessa forma, também para a manutenção das tradições e do legado de seu país.

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A marca que é conhecida mundialmente pela qualidade primorosa de suas peças feitas na Itália, tem cerca de 60% do seu quadro de funcionários trabalhando e vivendo em Solomeo. Desde a fundação do grupo, o modelo de trabalho está baseado no chamado capitalismo humanístico, que se traduz na prática no pagamento de salários acima da média do mercado, na criação de ações para melhorar a qualidade de vida dos colaboradores e em uma norma rígida, que, de acordo com informações da marca, é seguida à risca na empresa.

Por exemplo, é proibido trabalhar fora do horário de expediente. Não deixa de ser uma forma de sustentabilidade social em alinhamento com as necessidades do mundo contemporâneo.“Neste momento, particularmente, nos esforçamos ainda mais para colocar o ser humano no centro, tentando proteger a segurança e a saúde em primeiro lugar. Também aprendemos a valorizar o tempo e o espaço, um propósito que sigo desde a fundação da marca e que certamente continuaremos a cuidar e a manter no futuro”, afirma 

O modelo de negócios de Brunello Cucinelli traz um valor agregado importante: ao comprar uma peça, o cliente está adquirindo qualidade, tradição e contribuindo para manter viva e pulsante a sociedade e cultura de uma cidade no interior da Itália. Ao cuidar da comunidade, Brunello está prezando também por suas origens – sua esposa, Federica, nasceu em Solomeo – e criando um ambiente humanamente sustentável. 

Os valores da marca refletem uma visão de moda e um entendimento de mundo muito esclarecidos, traduzidos em peças de roupa que fazem sentido para os dias atuais. “Precisamos encontrar uma nova confiança no futuro e trabalhar juntos para esse objetivo com amabilidade, seriedade e concretude. 

Existe uma forte necessidade de usarmos as coisas em vez de consumi-las, também gosto da ideia de consertá-las e restaurá-las para que nossos produtos possam ser usados ao longo dos anos e passados para as gerações futuras”, explica o empresário. “O monge beneditino Jean Leclerq, que viveu no final do século passado, disse que ‘a reparação é um fato natural de ordem universal e consiste em fazer passar de um estado considerado menos bom para um estado melhor’. 

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A questão aqui é respeitar o valor das coisas e das pessoas que ao longo do tempo criaram essas coisas com dedicação e amor”, afirma Cucinelli. Moda humana e com tradição Made in Italy.

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