Muitos anos atrás, tive por acaso a oportunidade e a sorte de conhecer pessoalmente a genial arquiteta Zaha Hadid (1950-2016). Era uma noite fria de inverno em Londres e a figura imponente era homenageada em um evento de alta joalheria mundial. Zaha era foco de inúmeros jornalistas, fãs e curiosos e foi a primeira vez que tive a sensação de que alguém tinha o tamanho energético de uma montanha, como tentei traduzir na época, em uma só imagem.
Zaha tinha um vigor absurdo e transmitia imediatamente essa potência para quem estava em seu entorno. Impacto estabelecido, durante muitos anos conseguia reconhecer de imediato pessoas que tinham essa dimensão única e a consciência desse tamanho se fez inspiração pessoal para que eu mesma ocupasse meu próprio espaço.
Tendo sido criada em uma casa com muitos irmãos, tive de, inúmeras vezes, restringir meu espaço e lutar com certo constrangimento para encontrá-lo. Perceber que eu poderia ocupar um tamanho de montanha me trouxe forças para, durante muitos anos, avançar com determinação. Até que, já na maturidade e tendo meu próprio território definido, comecei a sentir certo incômodo inexplicável com algumas personalidades “montanha” e comecei pessoalmente um lento e determinante movimento de restrição em situações em que a palavra de ordem seria avante!
Esta semana, mediando conversas em novos formatos de eventos nos quais diversos experts em assuntos atuais são convidados para mesas-redondas, percebi que personalidades “montanha” têm enorme dificuldade de estabelecer conexões com o pensamento do outro e a constante ampliação de seu território impede a atuação de quem está margeando sua fronteira.
A potência dessas pessoas, a mesma que positivamente atrai e surpreende, também as prejudica a adquirir novos conhecimentos na interação com o outro. Percebi que, em vez do lema “ocupar sempre”, a enorme montanha que completa e apropria-se do todo deveria ceder espaço externo para conseguir ganhar novos espaços internos de conhecimento.
Como sabemos desde a descoberta de Newton, “dois corpos distintos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço e ao mesmo tempo”. Sem abrir espaço para ser ocupado, menor o território para aprender.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.