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Alice Ferraz: Entendi e aceitei que não se pode lutar contra o que nos liga aos nossos antepassados

Esta semana fui presenteada ao ver de perto uma mistura que deu origem a alguém genial e que, por acaso, pode até ter genes possíveis de serem achados no meu DNA

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Foto do author Alice Ferraz

“A fruta não cai longe do pé”, diz o ditado que cresci escutando em casa. Muitas vezes temi a frase enquanto olhava criticamente para defeitos que via em meus pais, tios, avós – e que temia ver espelhados na minha própria personalidade. Quando meu filho nasceu, lembro-me de, apavorada, ter achado seus pés idênticos aos do meu sogro, cujas inúmeras qualidades que possuía não incluíam a beleza dos pés.

Ivan reverenciava com palavras a herança dos doces criados por sua avó, a alegria em fazer parte de uma família que tinha o gosto pela comida e, sem precisar falar, a resiliência e trabalho dos sonhadores empreendedores que antecederam sua jornada. Foto: Juliana Azevedo/Divulgação

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Quanto mais o tempo passou, mais entendi e aceitei a impossibilidade de se lutar contra características que, por meio dos genes, nos ligam por bem e por mal aos nossos antepassados. Claro que também agradeci ao descobrir a rapidez de raciocínio que me orgulho de ter herdado do meu pai, além dos olhos puxados e da espessa sobrancelha que faz com que me reconheça e veja também em meu filho parte do rastro que ele deixou por aqui.

Bem, esta semana fui presenteada ao ver de perto uma mistura que deu origem a alguém genial e que, por acaso, pode até ter genes possíveis de serem achados no meu DNA.

Altíssimo, magro, nariz proeminente, olhos profundos e cabelos encaracolados. Essa era a figura do chef que nos recebeu na porta de seu restaurante na última quarta-feira. De uma elegância aristocrática quase fora de moda, Ivan nos guiou por uma narrativa que mais parecia um conto de fadas moderno. Do pátio principal, onde uma jabuticabeira trazia a memória da herança afetiva da fazenda de sua avó, passando pelo salão principal e chegando ao momento em que fomos apresentados ao living, para pura continuidade do deleite de sentidos no espaço pós-refeição, tudo compunha a sinfonia da vida sonhada pelo jovem à minha frente.

Ivan reverenciava com palavras a herança dos doces criados por sua avó, a alegria em fazer parte de uma família que tinha o gosto pela comida e, sem precisar falar, a resiliência e trabalho dos sonhadores empreendedores que antecederam sua jornada. Faltava a imagem fundamental para que o mosaico se formasse e desse origem a essa crônica, o que aconteceu quando Ivan começou sua delicada valsa na cozinha aberta, em meio ao seu público. Esqueça tudo o que você já ouviu falar de chefs gritalhões e desesperados com seus funcionários apavorados. Pense na harmonia e no gentil encaixe das melhores e mais finas orquestras. Pense em um maestro gentil, presente, atento e profundamente amoroso. A partir daí, não posso, por pura falta de vocabulário, seguir tecendo, unindo todos os gostos da gastronomia do chef Ivan Ralston. Só devo ressaltar o impacto que o momento me causou e, quem sabe, procurar aqui dentro se por acaso encontro as semelhanças que adoraria ter com meu primo.

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