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Ao inserir o Rio Sena, as ruas e avenidas abertas ao público, Paris resgatou a origem das Olimpíadas

Posso provar minha inabilidade no tema, mas, ao passear pela capital francesa, fui capturada pelo espírito olímpico

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Foto do author Alice Ferraz

Esta semana fui pega pelo tal espírito olímpico. Sempre gostei de acompanhar a Olimpíada, já estive pessoalmente na de Londres e na do Rio de Janeiro, mas de alguma forma só agora esse sentimento me atingiu em cheio. Formei, então, uma tese do por que esta Olimpíada têm sido diferente para quem, como eu, se considerava uma outsider – ou seja, alguém que nunca fez parte do mundo dos esportes.

Para provar minha inabilidade no tema, conto que na escola, segundo minha gentil professora, consegui me tornar a pior aluna de atletismo entre os 5 mil alunos do Porto Seguro. Mas, em 2024, o espírito olímpico me pegou pelas mãos enquanto eu acreditava que estava somente passeando por uma rua em Paris. Assisti, sem querer, aos treinos da prova de ciclismo. E aí está a tese. Os esportes e seus grandes estádios, as Olimpíadas e seus locais construídos especialmente para os Jogos, definem de antemão o espaço feito para determinada função e para quem gosta daquele esporte.

Os Jogos Olímpicos Paris 2024 ocorrem na rua Foto: Alexandre Loureiro/COB.

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Quem adora futebol vai ao jogo de futebol. Quem não gosta não vai. A cidade onde os eventos esportivos acontecem segue sua vida quase normal, com seu calendário paralelo. Em Paris, nesta Olimpíada, com a decisão revolucionária de fazer a cidade e seus monumentos icônicos como o palco principal das competições, essa perspectiva mudou.

A princípio, a decisão de ocupar a cidade como um todo não foi bem aceita pelos franceses, que protestaram – como costumam fazer para resolver suas questões. A ideia, no entanto, seguiu e literalmente parou Paris, que se transformou de cidade em cenário para esportes de todos os tipos.

O dia a dia de quem mora lá parou e a ideia encabeçada por Pierre Coubertin, fundador da era moderna dos Jogos Olímpicos, foi colocada em prática. Para Coubertin, os Jogos não eram só entretenimento, mas uma plataforma que criava força moral e social e tinha na competição valores éticos fortalecendo amizade e paz entre os povos. Quando os jogos acontecem longe dos homens comuns, só para quem ama esporte ou pode comprar ingressos, ele afasta de alguma forma parte da sociedade desse sentimento. O famoso espírito olímpico que nos une como iguais.

Ao inserir o Rio Sena, as ruas e avenidas abertas ao público, Paris resgatou a origem grega do evento, em que o essencial não seria vencer, mas competir com lealdade e valor. Na qual a força física encontra a força moral. Em que a competição é maior consigo mesma do que com o outro.

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