O desfile da Prada, apresentado na quinta, 22, em Milão, foi pautado por um olhar romântico e nostálgico para a história, colocada em relação direta com a contemporaneidade. “O conhecimento da história não só informa o contemporâneo, mas o define. As roupas são referentes a diferentes épocas, ecos sincrônicos recontextualizados. O passado é um instrumento, uma ferramenta de aprendizagem utilizada para tentar inventar algo novo”, explica o texto da coleção.
O conceito intenso, denso e totalmente Prada permeou todo o desfile e foi o ponto de partida para a criação de roupas extremamente desejáveis, que reforçaram a assinatura estética do duo formado por Miuccia Prada e Raf Simons.
Ao explorar a relação entre passado e presente, os diretores trouxeram para a passarela uma sequência de looks que se equilibram entre contrastes e evocam silhuetas históricas.
Vestidos retos de shape solto trouxeram à mente imagens das melindrosas dos anos 1920. Os modelos surgiram cobertos por laços, que se uniam para formar uma interessante textura, e com um styling que combinava as peças de essência romântica a botas pesadas de cano alto e a bolsas tamanho máxi. As jaquetas de colegial desfiladas devem se transformar em hits comerciais.
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À mistura, foram adicionadas peças de alfaiataria com ângulos afiados e proeminentes, que chegaram com a memória dos powersuits dos anos 1980, além de turtlenecks, boinas e listras que vieram como a atualização perfeita para looks à moda dos beatniks, movimento de contracultura dos 1950.
À trama da temporada chegam também as referências a uniformes e ao technical wear, que, desde a estreia da dupla nas passarelas, permeiam todas as coleções em diferentes formas. Simons e Prada trazem uma narrativa pautada por elementos utilitários, silhuetas mais pesadas e cores que transitam entre extremos - ora em tons lavados, escuros neutros, ora em matizes supersaturados e vibrantes. Nesta temporada, a estética veio mais suave, mas ainda assim se fez presente. Surgiu em peças com silhuetas nostálgicas, como as saias rodadas, em construções que evidenciam as padronagens geométricas do estilo brutalista dos uniformes.
Reflexo
Olhar intelectual, pensamento crítico e espírito revolucionário são fatores fundamentais no DNA de marca da italiana Prada. E todos chegam como um reflexo direto da mulher responsável por escrever essa grande história de sucesso: Miuccia Prada. Com sua visão e seu comprometimento, ela transformou a marca familiar de acessórios de viagem e produtos de couro em uma das mais celebradas grifes globais ao lançar, na década de 1980, a primeira coleção de moda Prada. A partir dali, a italiana se afirmou no mercado como uma criadora de espírito questionador e mente afiada, que traz à vida coleções que instigam o pensamento e, ao mesmo tempo, são absolutamente desejáveis.
Há cerca de quatro anos, no entanto, a história da marca ganhou um novo capítulo, com a chegada do celebrado estilista belga Raf Simons ao posto de codiretor criativo. Com currículo que inclui a direção de grandes marcas, como Dior e Calvin Klein, Simons tem uma abordagem para a moda cuja complexidade ressoa com a de Miuccia, fator decisivo para o nascimento de uma troca criativa certeira e emblemática. Em confluência de pensamentos, o duo vem escrevendo um novo capítulo na história da grife e, ano após ano, lança tendências e produtos de grande sucesso comercial.
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