Nas redes sociais, os jovens se posicionam contra o consumismo, a publicidade encoberta e a prática de exibir suas compras, conhecida como “haul”, e pedem para se desfazer do supérfluo.
Reparar, reciclar, frugalidade e minimalismo: o “núcleo do subconsumo” é tendência no TikTok. Estas publicações incentivam o retorno aos prazeres e habilidades simples, em total contraste com o tipo de conteúdo popular na plataforma.
“Eles promovem um estilo de vida de consumo moderado: em vez de ter 15 produtos de beleza ou 50 pares de sapatos, ter apenas três”, explica a analista francesa de comportamento digital Anissa Eprinchard.
Em um momento no qual tudo se tornou “objeto de consumo, desde o discurso político aos cuidados com a pele”, esta tendência indica “um cansaço com o consumismo de conteúdo”, opina.
“Quando as pessoas tentam constantemente lhe vender algo e os preços não param de subir, você acaba sofrendo de esgotamento financeiro”, explica à AFP Kara Perez, influenciadora americana especializada em questões financeiras e responsabilidade ambiental.
“Uso elementos da natureza para decorar meu apartamento, a maioria das minhas roupas é de segunda mão... Reaproveito potes de molho para guardar comida, é gratuito e muito prático”, conta uma internauta em um vídeo publicado em julho no Instagram.
Rotinas pouco realistas
Para Eprinchard, esta tendência está ligada ao cansaço de “rotinas pouco realistas ou ‘hauls’ (aquisições) indecentes”.
Este tédio é ainda mais agudo nos Estados Unidos, onde os jovens adultos têm sofrido com o aumento dos preços desde a pandemia de covid-19. Os consumidores se sentem “alienados” em um contexto geopolítico e econômico instável, explica Tariro Makoni, especialista na análise de movimentos sociais e de consumo.
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De acordo com os especialistas consultados pela AFP, as gerações mais jovens estão começando a perceber que não conseguem acompanhar a abundância de produtos promovidos nas redes.
Em busca de identidade, muitos jovens consomem “compulsivamente” moda descartável e substituível, explica à AFP a criadora de conteúdo britânica Andrea Cheong, autora de um livro sobre moda sustentável.
Em sua conta no Instagram, ela mostra a seus seguidores como reutilizar peças inesperadas, como lingeries, e transforma um vestido de noiva em uma regata.
Simples e atemporal
O “núcleo do subconsumo” pretende retomar a estética imperfeita e faz parte de uma busca pela atemporalidade que contrasta com as tendências do Instagram e do TikTok que o precederam.
“Gostaria que fosse mais do que uma tendência. Para algumas pessoas, é um modo de vida”, diz Cheong.
Especialistas entrevistados confirmam um interesse crescente por conteúdos autênticos, se distanciando da clássica cultura influenciadora que incentiva o hiperconsumo.
Reciclar e preservar “virou moda”, diz Makoni, acrescentando que “um movimento semelhante foi criado após a crise financeira de 2008″.
Cada vez mais jovens desenvolveram uma consciência ecológica, mas o principal motor desta tendência continua sendo o poder de compra, diz Cheong, que, no entanto, considera isto uma mudança positiva para o planeta.
Para ela, ao transmitir a mensagem de “consumir menos” o “núcleo do subconsumo” ajuda a popularizar uma abordagem sustentável, ecologicamente responsável e acessível a todos.
O espírito de “subconsumo” ultrapassa as redes sociais.
Em Washington, Anjali Zielinski, de 42 anos, e sua filha Mina, de sete, participaram recentemente de um workshop de costura. Zielinski quer instigar a criatividade da filha, mas também incutir “o valor das coisas” e “o trabalho necessário para produzi-las”, em um mundo que considera cada vez mais desligado destas realidades.
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