Você se lembra onde estava no dia em que aconteceu o infame conjunto todo de jeans de Britney Spears e Justin Timberlake?
Caso a internet não tenha mantido a imagem viva para você: em janeiro de 2001, o então casal da moda, Justin e e Britney, chegou ao tapete vermelho do American Music Awards usando conjuntos combinando de jeans da cabeça aos pés.
Nos anos seguintes, o vestido longo sem alças de patchwork jeans de Spears e o terno todo de jeans de Timberlake - com um chapéu de cowboy jeans e um bolso na parte de trás onde normalmente estaria um bolso no peito - tornaram-se uma piada, um meme de advertência sobre o quão constrangedoras algumas modas dos anos 2000 eram quando avaliadas sob a perspectiva contemporânea.
Para os millennials, a imagem é “um gatilho”, ri Emma McClendon, professora assistente de moda na Universidade St. John em Nova York.
Quando McClendon mostrou isso aos alunos de graduação em aula nos últimos anos, no entanto, eles ficaram apenas intrigados.
“Eu não tenho a sensação de que eles estão tão horrorizados com isso quanto nós,” diz McClendon, e as comparações que fazem (frequentemente incluindo um look de casal jeans sobre jeans de 2022 usado por Kanye West e Julia Fox) são, em geral, favoráveis.
Uma rápida olhada no Instagram ou uma caminhada pelo shopping confirmam: a moda mainstream está firmemente do lado dos alunos de McClendon.
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Nos sites de marcas populares como COS e Abercrombie & Fitch, você encontrará vestidos de jeans com painéis semelhantes àquele de Spears à venda.
Da’Vine Joy Randolph usou um vestido de jeans com painéis da Gap desenhado por Zac Posen no Met Gala deste mês. Enquanto isso, Tory Burch e Staud estão vendendo blazers de jeans no estilo Timberlake para mulheres. A mais recente coleção masculina da Louis Vuitton oferece vários ternos completos de jeans.
As tendências do jeans tendem a ser um pêndulo, oscilando ao longo das décadas entre simples e contido e experimental e decorado. Em 2024, as tendências estão avançando rapidamente em direção a um patamar ainda mais radical. Jeans cargo estão na moda; jeans largos estão na moda; jeans flare, boot-cut e barrel-cut estão na moda; também estão patchworks, bordados, brilhos, adornos.
Qualquer coisa pode ser feita de jeans. Jeans podem ser feitos de qualquer coisa.
(Basta perguntar à Rag & Bone, cujos populares jeans Miramar são na verdade calças de moletom estampadas; ou à Bottega Veneta, cujas calças de couro com estampa de jeans custam $7.000.)
“A relação da moda com o jeans sempre será uma relação de amor. Atualmente, estamos em uma fase de amor vezes mil,” diz Somsack Sikhounmuong, diretor criativo da Alex Mill, que descreve a abordagem híbrida de sua marca para o vestido de jeans como “um shift clássico cruzado com os detalhes de uma jaqueta jeans.” Ele acrescenta. “Estamos em uma era de ‘ver até onde podemos ir’”.
Mais é mais, no momento, e quanto mais inesperado, melhor.
Graças a uma confluência de forças culturais - incluindo uma renovada apreciação pelo Velho Oeste e pela era Y2K - estamos agora bem e verdadeiramente em outra era estranha, gloriosa e exuberante do jeans.
Uma década atrás, os sempre elegantes anos 2010 foram uma era mais conservadora para o jeans. Viram o retorno triunfante dos “mom jeans” e dos jeans estilizados como os Levi’s 501 originais. A forma padrão e quadrada da jaqueta jeans que a Levi’s popularizou no século 20 estava onipresente mais uma vez.
Os jeans masculinos e femininos pareciam semelhantes: os estilos femininos de jeans elásticos, colantes e de cintura baixa relaxaram em relação há década anterior, enquanto os jeans masculinos largos da era Y2K evoluíram para algo mais fino.
“Não havia esse tipo de momento ‘Frankenstein’ do jeans que está acontecendo agora”, diz McClendon. “Há essa superação dos limites agora - saias jeans, looks falsos de jeans, jeans sobre jeans. O jeans pode ser qualquer coisa [agora], em vez de apenas essas peças tradicionais.”
De fato, criações fantásticas de jeans estão de repente em toda parte.
Taylor Swift foi fotografada jantando no outono passado em algo que parecia uma jaqueta jeans clássica esticada até o joelho; uma silhueta semelhante está disponível nas prateleiras da H&M.
Anne Hathaway posou em um bustiê de jeans em uma campanha publicitária da Versace nesta primavera; a Shein vende um conjunto de macacão curto estilo corpete, enquanto a Alice + Olivia de Stacy Bendet vende também um corpete de jeans, além de uma jaqueta de jeans encrustada de strass e uma saia trompete de jeans funky.
A Diesel, a marca italiana que recebeu uma reformulação quando o designer Glenn Martens assumiu em 2020, oferece uma jaqueta masculina de jeans oversized adornada com uma sobreposição desgastada de linha vermelha e uma jaqueta bomber masculina de jeans. Também colocou jeans masculinos de cintura baixa e flare com bolsos de zíper exagerados na sua passarela para a primavera de 2024.
Como McClendon aponta, a revisão dos primeiros looks de jeans nos anos 2010 contribuiu para a ascensão da cultura “denim-head” (ou “jeans-maníacos”, em tradução livre), uma obsessão com as roupas de trabalho americanas dos séculos 19 e 20 e os tipos de jeans que essas roupas de trabalho popularizaram. Essa fascinação persistiu no mainstream - e agora transforma o uso do jeans de uma maneira diferente.
Hoje em dia, a velha moda ocidental está tendo seu momento.
O desfile masculino de janeiro da Louis Vuitton em Paris, por exemplo - o terceiro desfile de Pharrell Williams como diretor criativo da marca - celebrou o Velho Oeste americano. Beyoncé, por sua vez, ajudou a alimentar a fascinação pelo estilo de rancho de cowboys nesta primavera com seu álbum country inovador Cowboy Carter e suas apresentações e aparições correspondentes. Em uma música intitulada Levi’s Jeans, ela canta, “Boy I’ll let you be my Levi’s jeans / so you can hug that ass all day long”. (Garoto, te deixo ser meu jeans da Levi‘s/ Para você ficar abraçado a essa bunda o dia todo, em tradução livre)
“Ambos esses projetos estão falando diretamente ao fato de que estão revisando a história para recuperar essas narrativas perdidas, e o fato de que a cultura dos cowboys é diversa desde o início,” diz McClendon.
A coleção masculina da Louis Vuitton, de fato, infunde o Velho Oeste com elementos de streetwear e glamour tipicamente feminino, resultando em peças como um terno de jeans patchwork, um conjunto de shorts jeans usado com botas Timberland e uma jaqueta jeans encrustada com joias coloridas em um padrão floral.
E, claro, muitas das modas emergentes dos anos 2020 fazem referência à era Y2K - e seria virtualmente impossível comemorar a virada do milênio sem recriar seu ethos aventureiro com jeans (veja: o conjunto de Timberlake-Spears, os vestidos de jeans do designer Junya Watanabe da Comme des Garçons).
Como McClendon aponta, muitas das modas da era Y2K eram revivals das modas dos anos 1970, e os usos do jeans de ambas as eras invocavam a reputação do material dos anos 1960 como um símbolo da juventude e da contracultura. Em todos esses períodos, havia uma abordagem lúdica, “por que não?” em relação ao jeans, como o que frequentemente vemos nas lojas e nas celebridades hoje em dia. “Tipo, ‘Vamos fazer um maiô de jeans. Vamos fazer uma bolsa. Vamos fazer tamancos. Vamos ter chapéus. Vamos ter ternos de três peças inteiros.’”
Designers e varejistas sentiram a mudança acontecendo diante de seus olhos - e, na maior parte, sentiram-se revigorados por isso. Na Rag & Bone, os consumidores podem comprar um colete jeans, sandálias jeans ou até mesmo um par do que a marca chama de jeans “tweed”, consistindo em jeans rígidos texturizados com tecnologia a laser para parecer e sentir como o tecido de lã nubby mais frequentemente usado para blazers e ternos.
“Estávamos procurando ultrapassar os limites das silhuetas que normalmente criaríamos em jeans - expandindo muito além dos jeans de cinco bolsos,” disse Jennie McCormick, diretora de merchandising e design da categoria feminina da Rag & Bone, ao The Post em um comunicado. “Procuramos aplicar a ideia de que, à primeira vista, um tecido pode parecer uma coisa, como um tweed polido, mas, com um olhar mais atento, ser algo completamente diferente.”
A Reformation - uma marca cuja nostalgia da virada do milênio é mais discreta “Dawson’s Creek” do que “The O.C.” - está, no entanto, participando alegremente da renascença do jeans. De acordo com Alexandra Avdey, diretora sênior de compras da marca, o vestido Kendi de jeans com painéis da Reformation “foi inspirado na ideia de traduzir a fixação atual da moda pelo minimalismo dos anos 90 e vestidos slip em jeans.”
“Estamos vendo muito apetite dos consumidores para experimentar silhuetas além dos jeans,” acrescenta Avdey, “o que é interessante de brincar e testar como designer.”
Apesar de tudo isso, ainda há algum apetite por estilos tradicionais. Levi’s 501 vintage, por exemplo, especialmente aqueles de antes de a empresa transferir sua fabricação para o exterior, são eternamente procurados entre os fashionistas. Valentino até colocou uma silhueta semelhante à do Levi’s em sua passarela de alta-costura em 2023 (embora, em uma perfeita encapsulação de todas as coisas jeans nos anos 2020, as calças fossem, na verdade, calças de seda gazar tingidas para parecer jeans).
E, inevitavelmente, a preferência por looks de jeans mais atemporais e menos extravagantes se tornará mainstream novamente, em algum momento no futuro não muito distante. Os pêndulos balançam para os dois lados; as tendências são feitas para serem seguidas e depois deixadas de lado.
“Definitivamente vai chegar um momento no futuro em que nos afastaremos disso, e olharemos para trás e acharemos realmente cafona. Aconteceu com os anos 70. Aconteceu com os anos 2000,” diz McClendon com uma risada.
“Assim que nos afastamos disso, pensamos, ‘Oh, Deus. Isso é horrível. Por que fizemos isso?!’”
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