‘Mob Wife’: Jovens do TikTok estão se vestindo como ‘mulheres da máfia’; entenda tendência

Estética maximalista, inicialmente inspirada em estereótipo de filmes internacionais, também é reflexo de personagens de produções nacionais, como Bibi Perigosa da novela ‘Força do Querer’

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Foto do author Bárbara Correa
Por Bárbara Correa (Estadão)
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Cabelos volumosos, casaco longo de pele, com estampa de oncinha, batom vermelho, silhueta marcada e muita confiança. A descrição atende perfeitamente ao retrato, quase caricato, de personagens femininas de filmes sobre máfia italiana. Mas, desde o início deste ano, esses trajes se transportaram, por meio do TikTok, das telonas dos cinemas para o armário da geração Z.

Vestir-se como “mulheres da máfia” ou “esposas de mafiosos” é a nova tendência, denominada nas redes como Mob Wife. Nas plataformas, as hashtags mob wife (esposa da máfia, em inglês) e mob wife aesthetic (estética de esposa da máfia) possuem mais de 25 mil visualizações.

Adriana la Cerva em 'Família Soprano' e Bibi Perigosa em 'A Força do Querer' Foto: Divulgação/ HBO Max/ Divulgação/ TV Globo

O estilo ganhou ascensão após a grande adesão da tendência “clean girl”, também viral nas redes sociais. Em junho do ano passado, a moda era justamente apostar em acessórios, maquiagem e roupas minimalistas, com o aspecto de “garota limpa”.

“É natural neste universo que uma tendência seja substituída por outra completamente oposta. Depois da ‘clean girl’, já era de se esperar que uma estética maximalista como a ‘mob wife’ viesse à tona. Eu acredito que a Geração Z tenha se interessado tanto por essa tendência pelo fato dela transparecer, sobretudo, poder. A busca por uma imagem mais experiente”, explica a influenciadora de moda Carolline Azevedo.

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O que é a tendência Mob Wife?

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Diferentemente das últimas tendências, a Mob Wife tem grande influência do estereótipo da representação estética da máfia no cinema. Não à toa, a influenciadora cita personagens como referências desse estilo: Carmela Soprano (Família Soprano), Elvira Hancok (Scarface) e Ginger Mckenna (Cassino).

A consultora de imagem e influenciadora de moda Jenniffer Thalía descreve as peças que conquistaram jovens entre 18 e 25 anos. “Geralmente, inclui roupas ajustadas, como vestidos de cintura marcada, saias lápis, estampa de animal, casacos de pele, peças em couro, muitos acessórios dourados e unhas vermelhas. A maquiagem costuma ser dramática, com olhos e lábios destacados e cabelos mais volumosos.”

Por que o interesse da geração Z por essa estética?

Cláudia Regina Garcia, professora da Pós-graduação em Têxtil e Moda da USP, explica que as tendências são cíclicas. Para além do contraponto à estética minimalista em vigência no ano passado, ela observa que as redes sociais apenas viralizaram um estilo que, inclusive, já possui referências de personagens brasileiras.

“Prega exponenciação das formas femininas, é uma coisa um pouco barroca, muito dourado, muito volume, tudo que chamar muito atenção”, descreve a especialista que, em seguida, analisa o comportamento desse consumo.

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“Saímos de uma pandemia. Quando voltamos no tempo, depois da gripe espanhola ou das grandes guerras, vimos que surge uma alegria de viver e isso se materializa nos bens de consumo. Os valores de uma época se refletem nas vestimentas. Na minha opinião, essa estética ostentatória está muito mais ligada a satisfação de vida, de brilho, de mostrar poder aquisitivo. A moda tem o poder de nos ancorar no momento vivido, então acredito que isso diz muito mais sobre a época que estamos vivendo”.

A professora enfatiza que o estilo não visa romantizar ou reverenciar o narcotráfico, na verdade, é a utilização das roupas como reafirmação de uma identidade e de uma ascensão social. Ela cita a personagem Bibi Perigosa, vivida por Juliana Paes na novela Força do Querer (2017), da Globo, como exemplo nacional já conhecido desse estilo.

“A estética fala sobre estar vivo, de poder comprar, de ter acesso a bens de consumo caros e ostentar esse estilo como reafirmação de uma identidade. Estamos falando de consumos que vão mobilizar subjetividades, afirmar identidades. Precisamos prestar atenção quando esse modo de vestir é mais do que roupas. Estamos falando de um modo de viver a vida, concretizando valores sociais que estão em circulação”, conclui.

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