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Moda e natureza

Fauna do Pantanal inspira comparações inusitadas com coleções estrangeira

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Por Alice Ferraz

Ao descrever uma peça de roupa, nós, da mídia especializada, buscamos falar primeiramente de características ligadas a cor e forma, elementos visuais que chamam atenção logo na primeira impressão e, com isso, comunicamos intenções. Uma das utilidades da moda para os seres humanos é transmitir mensagens, exatamente por isso, nos cobrimos de códigos. 

No reino animal, o visual também comunica, reflete questões internas e passa mensagens claras. A coluna desta semana foi escrita durante uma imersão no Pantanal do Mato Grosso do Sul, onde a exuberância da vida selvagem fez com que o olho treinado para analisar moda, criasse comparações imediatas com o que estamos vendo nas coleções de moda internacional. 

Conjunto de fotos que exemplificam a inspiração do Pantanal Foto: Juliana de Souza, Valentino, Burberry, Michael Kors e Marques'Almeida

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Entre as associações imediatas que podemos fazer é impossível não pensar na onça-pintada. Os felinos, que são os maiores das Américas e só são encontrados nessa parte do mundo, têm o corpo coberto por uma das estampas mais icônicas da moda, que no nosso vocabulário muitas vezes é conhecido como “oncinha”. 

Se na natureza as manchas em roseta sobre a pelagem dourada do animal é ótima para camuflagem, no mundo humano o padrão é visto como um símbolo de força, uma ligação direta com todo o poder que a onça exibe na natureza. A estampa que já se tornou um clássico da moda ganhou destaque na coleção de outono-inverno 2021 de Michael Kors, mas registros encontrados por arqueólogos mostram vestimentas com este tipo de desenho retratadas em hieróglifos egípcios feitos há 3 mil anos antes de Cristo. 

Da imponência das onças para a sutileza bege dos veados, o tom neutro é ótimo para se esconder, passar despercebido e fugir de predadores. Na moda, a cor se torna curinga no guarda-roupa, é atemporal e fácil de combinar. Escolha cromática perfeita para se usar em um casaco, como os que se tornaram ícones da grife inglesa Burberry, é uma peça que pode ser usada por várias temporadas sem parecer datada ou chamar muita atenção. Uma forma de se camuflar – com muito estilo – nas cidades. 

Além de suas funções práticas, as cores também transmitem sensações. Este é o caso do tuiuiú, a ave símbolo do Pantanal. Com uma combinação de penas muito brancas, cabeça totalmente preta e uma faixa num tom vermelho-vivo ao redor do pescoço, o animal, que pode chegar a medir 1,60 m de altura, reina com elegância no céu. Adjetivo este que descreve muito bem a Valentino de Pierpaolo Piccioli, que, por pura coincidência, apresentou em sua coleção de pré-outono-inverno 2021 um look totalmente tuiuiú, com o característico vermelho Valentino combinado a um conjunto de calça e blazer p&b. 

Essa relação entre as formas da moda e as que são encontradas na natureza inspiram também mentes criativas como a de Jill Sherman, responsável pelo perfil @fashion.biologique, que acumula mais de 128 mil seguidores. Na página, Sherman compara looks de passarela com imagens de animais e insetos e mostra como existe uma conversa, muitas vezes inconsciente, entre os diretores criativos e a fauna do nosso planeta. 

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Terminamos o texto dessa semana com mais um jogo de associações entre a fauna pantaneira e as passarelas internacionais, dessa vez entre um dos pássaros mais curiosos da região, o colhereiro – que leva este nome por conta do seu bico em formato de colher. A ave ganha um tom cor-de-rosa em suas penas em consequência de uma dieta de pequenos crustáceos que a deixam com esse tom. Um rosa suave, quase como se fosse o tie dye do conjunto Marques’ Almeida, que, curiosamente, traz babados na blusa que podem até parecer asas.

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