A moda é um repórter do seu tempo, uma fotografia fiel de uma época. A moda é uma expressão individual e podemos nos comunicar através das roupas que vestimos. Foi com essas certezas que me apaixonei pela indústria da moda em 1992. Na virada dos anos 2000, senti que a moda tinha perdido o foco e, longe das mudanças que o mundo pedia, havia entrado em descompasso com o seu tempo. De um lado, verdades inconvenientes sobre as alterações climáticas e uma sociedade carente, e de outro, a moda, a minha paixão, alienada às necessidades do seu tempo e de sua época. Fui em busca de uma moda que pudesse vestir as pessoas do século 21 e de marcas que apontassem caminhos mais conscientes, incluindo toda a sua cadeia de valor e os consumidores finais. Foi assim que, há 13 anos, nasceu o Movimento Ecoera.
Com a chegada inesperada da pandemia da covid-19, as corporações perceberam que a sustentabilidade não é, apenas uma ideia. Trata-se de um plano de ação e nesse movimento, o discurso precisa sair da teoria, e rápido. Aquelas que já tinham ingressado em uma jornada mais verde e justa com o planeta e com as pessoas, com processos de menor impacto no meio ambiente, uso responsável dos recursos naturais e valorização do capital humano, estão encontrando um ambiente mais confortável para se comunicar com seus colaboradores e com seus clientes. Perceberam que estão um passo à frente, afinal os consumidores dos nossos tempos são mais conscientes e atentos às práticas de impacto positivo das marcas.
Nesses quase cinco meses, entramos em quarentena, nos isolamos. Interrompemos planos, viagens, projetos e compromissos. A moda também! Na verdade, o mercado de moda foi obrigado a mudar de rota com uma velocidade sem precedentes. Mas e agora? A verdade é que estamos vivendo o desconhecido, mas já podemos prever que a moda será obrigada a ressignificar seu sistema. Na outra ponta, o consumidor final, que na pré-pandemia já havia integrado o conceito de consumo consciente, sai desses meses de reflexão forçada mais atento e exigente.
A pandemia da covid-19 apertou o botão da urgência e escancarou a necessidade de posicionamento social e ambiental das marcas. Novos tempos vão exigir novos modelos e a moda mais uma vez vai ajustar suas lentes.
Chiara Gadaleta participa do mercado da moda desde 1992, quando ainda era modelo. É fundadora do Movimento Ecoera que tem como missão integrar os mercados de moda, beleza e design com a sustentabilidade ambiental, social, cultural e econômica.
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