Na última sexta-feira de setembro, durante a Semana de Moda de Paris, uma multidão se reuniu para assistir ao desfile da Balmain. A marca tradicional francesa ultrapassa 70 anos de história e há mais de uma década vem chacoalhando o mundo da moda com o trabalho de seu diretor criativo Olivier Rousteing.
Tendo assumido o comando da casa em 2011, ainda aos 25 anos, ele se manteve fiel ao propósito de democratizar a informação de moda – e nesta temporada foi responsável por reunir mais de 8 mil pessoas no estádio Jean-Bouin, na capital francesa, para apresentar suas novas coleções de primavera-verão em um formato apelidado por ele de Balmain Festival.
A tarefa não deve ter sido difícil para Olivier que, além de diretor criativo, ocupa o posto de popstar fashion no imaginário dos apaixonados pelo meio. Ele tem uma legião de fãs e seguidores no Instagram – 8,6 milhões, o maior número entre os estilistas das casas de moda europeias.
Alessandro Michele, o festejado diretor criativo da Gucci, por exemplo, tem 1,1 milhão, Maria Grazia Chiuri, da Dior, 515 mil e Virginie Viard, Chanel, 64,6 mil.O número de seguidores é fruto, claro, de um trabalho focado nas mídias digitais e de associações de imagem com celebridades como Kim Kardashian, Beyoncé e Carla Bruni.
PRÊT-À-PORTER. Com o novo formato de desfile, a marca apresentou na mesma noite seu prêt-à-porter feminino, o masculino e também a coleção de alta-costura, tudo de forma extremamente teatral, numa enorme passarela que se assemelhava a um palco, shows de luzes, telões de LED e até a presença de uma superestrela da música. A icônica Cher fechou o desfile aos 76 anos, vestindo um macacão estampado ajustado perfeitamente ao seu corpo com ombros bem marcados e botas de plataforma
O formato híbrido entre desfile e show mostra como Rousteing enxerga o mundo contemporâneo e entende o poder nas redes sociais através das quais criou a comunidade #BalmainArmy, como é chamado o “Exército Balmain”. Além disso, há anos ele traz a questão da diversidade como ponto importante de seu trabalho. Faz isso ao trazer modelos de diferentes etnias, idades e corpos para a sua passarela e também diferentes histórias para suas coleções.
Na última apresentação, a marca uniu estampas de pinturas renascentistas europeias a referências da cultura africana. Oliver se apropria de sua herança ao utilizar materiais naturais trabalhados com técnicas como trançados e patchworks para criar esculturas com requintes de alta-costura.
Com isso se forma um contraponto entre as roupas em tons crus, marrons e beges e os looks rosados e azuis com estampas trazidas do Renascimento – todas aplicadas em tecidos levíssimos e esvoaçantes. Uma sobreposição de conceitos que é marcante e nova.
O fator renovação também é algo destacável do festival de moda orquestrado por ele. Neste novo formato, o grande público pode comprar ingressos para um tipo de desfile que em outras grifes continua restrito a poucos convidados.
Abrir os desfiles ao público, democratizar a beleza do trabalho dos ateliês e o valor cultural da moda é uma das grandes pautas do ano no mercado têxtil. Em 2022, eventos como o Festival Balmain e o desfile de Valentino em Roma – que aconteceu em julho a céu aberto, no coração de Roma – são indícios de um momento de renovação na comunicação das mensagens da moda.