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O valor de preservar: investimentos que salvaguardam história e cultura

Empreendi algumas vezes e, em todas, a sensação de trazer algo novo ao mundo foi uma mola propulsora

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Foto do author Alice Ferraz

O sonho de todo empreendedor é ter dinheiro para transformar sua visão em realidade. Na cabeça de quem tem a ideia, parece simples enxergar o valor do negócio, embora ele ainda só exista para o mundo no campo do imaginário. Empreendi algumas vezes e, em todas, a sensação de trazer algo novo ao mundo foi uma mola propulsora. O novo podia vir no propósito, na forma ou só nos detalhes, mas até nas nuances a crença do empreendedor é a de que ele vai fazer a diferença com seu negócio.

'O empreendedor tem na alma a crença da sua visão e, no corpo, a energia da certeza aliada à pressa de colocar a cena em pé o mais rápido possível.' Foto: Juliana Azevedo/Divulgação

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Conseguir neste caminho alguém que enxergue a mesma oportunidade e coloque recursos no sonho de outro é das tarefas mais desafiadoras. O empreendedor tem na alma a crença da sua visão e, no corpo, a energia da certeza aliada à pressa de colocar a cena em pé o mais rápido possível – o tempo para essa construção parece ser seu pior inimigo. Já o investidor é sempre descrente, cheio de dúvidas sobre o potencial e “desperdiça” um precioso tempo em análises, com a intenção de correr menos riscos. Depois do negócio fechado e da prova de que a ideia valia a pena, o empreendedor segue na missão de também mostrar que seu sonho dá dinheiro, muito dinheiro, para provar que seus investidores fizeram um bom negócio. E, assim, jovens sonhadores da nossa época surgem com suas ideias já embasadas em elaborados “business plans”, os planos de negócio que apresentam sonhos traduzidos em bons números.

Agora imagine um empreendedor na Paris de 1824, decidindo montar um negócio no qual o diferencial era o objetivo de fazer a melhor culinária francesa da época, em um pequeno restaurante de 14 lugares, na parte de baixo da casa onde morava. Com muita vontade, e sem plano de negócios, ele, sua família e as gerações futuras vivem desse pequeno negócio, que, com dedicação diária, se transformou discretamente em símbolo da tradição e da excelência de um país. A história é verídica e seu final feliz aconteceu esta semana, com a compra do pequeno restaurante L’Ami Louis pelo maior conglomerado de luxo da Europa, o grupo LVMH.

O mais extraordinário nessa história é que o motivo da compra não é usar a marca já reconhecida para “escalar” o negócio, como diriam os melhores experts em investimento. “Preservar a tradição do savoir-faire francês, o modo único, artesanal de se fazer algo na França, e proteger a identidade e o charme dessa joia francesa são os propósitos do grupo”, afirma o comunicado distribuído à imprensa. E, em conversa com o proprietário Louis, que ainda mantém 20% do estabelecimento, tive a certeza de que foi exatamente esse o negócio fechado.

Em um mundo onde a concentração de renda gera o maior número de bilionários da história, investir para preservar histórias e um legado transmitido de geração para geração pode ser um exemplo original a ser seguido.

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