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O vidro como um veículo para a essência

Com exposição inédita no Brasil, o artista americano Rob Wynne revela seu interesse pela fluidez estética entre fronteiras

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Foto do author Alice Ferraz

O potencial do vidro: sua formação e transformação fluida em arte. Referência internacional no trabalho com esse material, o americano Rob Wynne evita o rótulo de “artista de vidro” e se considera um “artista de concepção”. Pela primeira vez, sua obra será exibida ao público brasileiro, a partir deste sábado, 19, na mostra Always Sometimes, na Galeria Luciana Brito.

Obra reflete sobre relação entre forma e linguagem Foto: Rob Wynne/Luciana Brito Galeria

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Amplamente conhecido pelas suas criações artísticas interdisciplinares, Wynne começou sua carreira em Nova York, após estudar no Pratt Institute. Sua obra ganhou destaque internacional em exposições como a do Brooklyn Museum, em 2018, em que sua série Float dialogou com objetos e pinturas da coleção permanente do museu. Além disso, suas obras já foram exibidas em importantes instituições, como o Centre Pompidou, em Paris, e o MoMA, em Nova York.

Explorando o que chama de fluidez do vidro, o artista desafia técnicas tradicionais em busca de novas estéticas. “Meu trabalho é acidental. Nunca sei aonde vai dar. Não sou um artista de vidro clássico nem estou interessado nisso. Trato o vidro como um material quente, fluido. Começo a desenhar e a fluidez, a temperatura e a liquidez me guiam nas direções que sigo”, explica Wynne em entrevista exclusiva ao Estadão, diretamente de seu ateliê no Soho, em Nova York.

A exposição reúne 14 obras inéditas, realizadas em colaboração com o consultor de arte francês e fundador da Kreëmart, Raphael Castoriano. Para Wynne, muitas de suas obras fazem referência não apenas à fluidez e à transformação do tempo, mas também àquilo que ele chama de ambiguidade. “Como humanos, também temos essa fluidez e até uma certa ambiguidade na vida e no nosso senso de ‘self’”, observa.

Always Sometimes também centraliza a essencialidade da poética na obra de Wynne. Ao incorporar palavras e textos em suas criações, ele reflete sobre a relação entre linguagem e forma, na qual cada obra é tanto uma escultura quanto uma narrativa visual. A presença simultânea de poesia e materialidade em suas peças reforça o potencial do vidro como um veículo expressivo que vai além da arte tradicional. “Quando percebi que a arte era meu caminho, fiz questão de incorporar a linguagem como um componente, como uma construção”, afirma. Por isso, na exposição, trabalhos como Hope (2024), Eternity (2023) e Joy! (2024) se fundem às obras Pink Exclamation (2024) e Exclamation (2024).

Alquimias

Outro aspecto menos conhecido de sua trajetória é a atuação no universo da moda. Wynne teve uma colaboração significativa com a marca Dior, com destaque para seu trabalho na decoração da House of Dior, em Seul, em 2015. Lá, ele criou esculturas de texto, incluindo a peça J’Adore, de vidro espelhado, que se tornou parte icônica da instalação. Essa colaboração, que ele chama de “acidente orgânico” e da qual ele fala com carinho e entusiasmo, acabou por criar um ambiente luxuoso e sofisticado que se alinhava com a estética da Dior. Para o artista, este é apenas um exemplo de como a fluidez pode proporcionar novas alquimias. “Cada vez mais, o mundo da arte, do design e da moda tende a desafiar esses limites, fundindo-se em estéticas”, comenta.

Um exemplo dessa fusão são as joias artesanais de Wynne. O artista apresentou um anel feito com sua própria impressão digital. Inspirado pelos debates contemporâneos sobre inteligência artificial e reconhecimento facial, Wynne propõe um anel que leva a impressão do próprio dedo, demonstrando a fluidez não apenas entre a arte e o design, mas também entre o mundo virtual e o sensorial, sublinhando as fronteiras cada vez mais tênues entre esses universos.

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