Dezembro chegou, e com ele a temporada de festas que se multiplicam exponencialmente. De segunda a segunda, há jantares, almoços e eventos que transformam até o café da manhã em um acontecimento especial. Decorações impecáveis, presentes desejados e um clima contagiante de celebração. Num único dia, cheguei a contar cinco convites imperdíveis, cada um com uma atração que eu gostaria muito de prestigiar. Mas algo me incomoda na maioria dessas ocasiões. Explico. Sou convidada para confraternizações com pessoas que não vi durante o ano, com quem não mantive qualquer relação – seja pessoal, seja profissional. Sou chamada como uma peça em um tabuleiro de xadrez, mas, ao contrário do jogo, muitas vezes me sinto sem função.
Os convites chegam, na maioria das vezes, por WhatsApp ou e-mail, quase nunca por uma ligação pessoal. Muitas vezes, vêm de pessoas ou marcas com as quais ainda não tive a oportunidade de me conectar. Em algumas ocasiões, acabo perguntando, movida pela curiosidade e pelo real interesse de uma interação, sobre o motivo do convite. A interlocutora se assusta, se retrai, não é a função dela saber, foi tudo departamentalizado.
“Ah, Alice, mas pode ser o início de uma relação, não?”, me dizem. Também já pensei assim e tentei dar essa chance. Mas, na prática, esses eventos são lugares onde a presença é contabilizada, mas não valorizada.
Outro dia, assisti a um depoimento emocionante da Marília Gabriela no programa de Astrid Fontenelle. Ela compartilhou como, durante sua carreira, era convidada para todo tipo de evento e entrevistava tantas pessoas que o “social” se parecia com relações reais. Hoje, contudo, reconhece que essa vivência não construiu as relações que, agora, a alimentam emocionalmente. Esse processo de distração social a levou a um tipo de solidão. Sou fã de Marília Gabriela. Sua inteligência e sua lucidez me inspiram e quero aprender com sua experiência.
Me propus, então, neste dezembro, a ir a menos eventos e estar presente onde realmente existiu uma relação consistente durante o ano. Exerci essa liberdade de escolher onde vou e devolver o carinho recebido durante o ano para parceiros profissionais que estavam ao meu lado e me deram a alegria de poder estar com eles.
Me senti pressionada e mal interpretada por tentar algo novo, mas assim é a vida. Sei que sou a única responsável pelo meu tempo e por como irei construir minhas relações para o futuro. Em 2025, quero mais encontros pessoais ao longo do ano e mais conversas ao telefone. Estou fechada para marcar presença sem sentido, mas aberta a relações que nutram o presente e o futuro. Como só sabemos vivendo, espero, em breve, voltar aqui para contar como foi esse experimento.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.