‘Um sapato deve seduzir homens e mulheres’, diz designer Christian Louboutin em visita à Faap

Instituição pode receber mostra retrospectiva da obra do artista de 59 anos, que lançou sua linha de sapatos femininos em 1991, quando criou sua marca registrada: a sola vermelha

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Por Marcelo Gomes Lima
Foto: Danny Moloshok/ Reuters
Entrevista comChristian LouboutinDesigner

Reza a lenda que, em 1993, dois anos depois de lançar sua primeira coleção de sapatos, um jovem designer parisiense, de nome Christian Louboutin, estava criando um novo modelo a partir da tela Flowers, de Andy Warhol. Quando a amostra chegou da Itália, Louboutin sentiu que faltava algo. A tradicional sola preta simplesmente não fazia o sapato se destacar. Não o fazia vivo. Uma de suas assistentes estava então pintando as unhas e Louboutin não teve dúvidas: sacou seu esmalte vermelho e pintou o par de solas com ele. O resto é história.

Mundialmente conhecida por seus sapatos suntuosos - invariavelmente com suas solas vermelhas -, ultimamente a grife Christian Louboutin tornou-se uma marca mundial, com mais de 40 lojas em todo o mundo, incluindo o Brasil, e mais de 850 mil sapatos produzidos a cada ano. Em sua grande maioria, ainda fiéis à indefectível sola vermelha, hoje sua quase marca registrada. Em passagem rápida nesta terça-feira, 28, por São Paulo, para uma visita de reconhecimento à Faap, onde foi recepcionado por uma calorosa trupe de estudantes de moda, o designer falou ao Estadão.

Christian Louboutin no Museu de Arte Brasileira. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Qual o propósito da visita?

Atendendo a um convite da Faap, vim avaliar as instalações do museu para uma futura exposição da minha obra, nos moldes da que aconteceu em Paris, em 2020, e que apresentou uma retrospectiva de meu trabalho como designer e minhas principais realizações.

Em quais critérios se baseia ao desenhar seus modelos?

Costumo dizer que, para ser bom, um sapato tem de seduzir homens e mulheres. Sempre começo com um esboço, a lápis, e desenho em qualquer lugar. Preciso apenas estar isolado e em condições de me concentrar, livre de distrações. Depois, me concentro na forma, no objeto em si, e em como ele vai efetivamente funcionar no pé de alguém. Nunca, em tempo algum, penso em roupas ou estilos que combinariam.

Você se tornou conhecido por seus sapatos femininos. Mas tem desenvolvido também modelos masculinos. Como se aproxima de cada um dos projetos?

Desenvolvo sapatos para homens desde 2010, a princípio, atendendo a pedidos dos maridos ou namorados de minhas clientes, mas, mais especificamente de um cantor pop libanês, que reside na França, de nome Mika, que um dia me disse querer sentir, usando meus sapatos, a mesma sensação de encantamento de suas duas irmãs ao calçar um modelo meu. Não sei se exatamente por isso, mas, fato é que, desde então, meus sapatos masculinos obedecem a essa vertente mais contemporânea, mais pop. Não são clássicos, como alguns dos meus modelos femininos costumam ser. Em Paris, local da primeira butique masculina da marca, os homens me abordavam na rua para agradecer. Diziam que viam meus sapatos nas namoradas ou esposas e ficavam com ciúmes.

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O estilista esteve na instituição para uma visita técnica; espaço pode receber uma exposição retrospectiva de sua obra.  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Você é particularmente interessado em arquitetura e divide com Oscar Niemeyer o amor pelas linhas curvas. Chegou a conhecer alguma de suas obras?

Enquanto crescia, fui gradualmente me sentindo sensível à forma. Estudei arquitetura e objetos. Sempre prestei muita atenção nas linhas - é muito importante, porque a beleza tem tudo a ver com a forma. E, naturalmente, acabei me apaixonando pela obra de Niemeyer. A ponto de acreditar que meu trabalho e o dele se encontram em um ponto: amamos os contornos e as linhas curvas. Um dia, tive a coragem de dizer isso a ele.

E o que ele disse?

Que estava de acordo. E que ficou tão feliz com tal analogia que me presenteou com um poema, escrito de próprio punho, no qual ele louva a beleza das curvas na topografia do Rio de Janeiro e no corpo feminino, duas de suas maiores paixões. Um presente, claro, que conservo, com carinho até hoje.

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