Modernismo em construção

Exposição em NY mostra a arte de uma América em busca de nova identidade

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Por Lúcia Guimarães/NOVA YORK
Atualização:

A silhueta da casa em estilo vitoriano, além dos trilhos do trem, é uma imagem conhecida de um dos mais queridos artistas americanos, Edward Hopper. Mas muitos não sabem que a obra de 1925 foi a primeira adquirida para a coleção do nascente Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, fundado em 1929. A pintura de Hopper recebe o visitante na entrada de American Modern, Hopper to O’Keeffe (Moderno Americano, de Hopper a O’Keeffe), exposição recém inaugurada e que fica no MoMA até 26 de janeiro.

 

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O modernismo desembarcou atrasado nos Estados Unidos, com o Armory Show, que comemorou seu centenário este ano. E a percepção predominante é que o MoMA, numa suposta reação compensatória, foi negligente com os artistas nativos e se concentrou nos europeus. Quem poderia condenar a escolha de privilegiar artistas como Picasso e Matisse, Kandinsky e Mondrian? Mas American Modern não é um esforço de reabilitação por comitê. A exposição, organizada pelas curadoras Kathy Curry e Esther Adler, com150 obras da coleção permanente do museu, é um exame da arte americana modernista da primeira metade do século 20. Foi no MoMA que Edward Hopper teve sua primeira retrospectiva, em 1933.

 

American Modern, sem mudar a avaliação crítica da produção americana daquele tempo, é uma oportunidade para acompanhar uma narrativa de transformação cultural do país, que carecia de tradição artística visual inovadora, mas se transformava num superpoder.

 

As curadoras destacam a obra de cinco artistas - Edward Hopper, Georgia O'Keeffe, Charles Burchfield, Charles Sheeler e Stuart Davis - e ancoram a exposição em temas que servem de exemplo ao choque de linguagens e representações do período. Há cenas urbanas e rurais, paisagens industriais, retratos e naturezas mortas.

Hopper, com suas cenas de solidão e melancolia, é talvez o mais conhecido exemplo da nostalgia por um mundo que desaparecia com rapidez. Paisagem Americana (1930), de Charles Sheeler, contrapõe ironia a idílio. Nada de campos verdejantes e sim o poder industrial da Ford, representada em uma fábrica do Estado de Michigan.

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Entre os suspeitos habituais no coração do público, há várias as obras de Georgia O’Keefe, que dizia não ser suficiente se declarar americana. Era preciso amar o país. Uma pintura em pastel de O’Keeffe, Uma Orquídea (1941), está em exibição no museu pela primeira vez. Christina’s World (1948), a mais famosa pintura de Andrew Wyeth, morto em 2009, é uma obra que críticos desprezam como o pôster obrigatório de dormitório de estudante. A crítica pode ser subjetiva mas tem seu lado factual: a reprodução de Christina’s World é o pôster mais vendido das lojas do MoMA.

 

Traumas. Nesta arte das décadas entre duas guerras mundiais e marcada pela Grande Depressão, há fartos sinais de trauma e falsos começos. O Expressionismo Abstrato, o primeiro movimento artístico Made in USA, só tomaria força depois da Segunda Guerra. "Parte do motivo pelo qual Edward Hopper era tão celebrado no seu tempo", diz a curadora Kathy Curry, "é por seu realismo, que era considerado especialmente americano". "A critica da época resistia à abstração, que via como um esforço de imitar europeus."

 

É fascinante acompanhar a experimentação abstrata de artistas como John Marin, infelizmente pouco representado mas presente com Lower Manhattan (1922). A industrialização acelerada inspirava, alem da abstração, a geometria, na fotografia de Walker Evans ou na pintura New Moon (1945), de George Ault.

 

Preocupações sociais aparecem na série sobre as Migrações, de Jacob Lawrence, que documenta a fuga dos negros americanos para o Norte, em busca de trabalho. A intensidade urbana tem um belo exemplo nas gravuras de Charles Bellows representando lutas de boxe. Para um público que, à distância e pelo cinema, acompanhou imagens otimistas dos Estados Unidos até a década de 50, American Modern é uma boa oportunidade de acompanhar a narrativa nada homogênea do país que formava uma nova identidade.

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