Mostra homenageia arte abstrata do suíço Max Bill

Amigo de Pietro e Lina Bo Bardi, ele foi figura essencial na divulgação do abstracionismo no Brasil, nos anos 1950

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Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

É notório o fato de que o escultor suíço Max Bill (1908-1994) teve um papel fundamental na difusão da arte abstrata no Brasil, especialmente por ter recebido o grande prêmio de escultura na 1.ª Bienal de São Paulo, realizada em 1951. O que poucos sabem é que sua obra premiada, Unidade Tripartida, já havia sido exibida, no primeiro semestre daquele ano, em uma outra exposição organizada pelo então diretor do Museu de Arte de São Paulo, Pietro Maria Bardi (1900-1999), no próprio museu por ele criado.

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Bardi e sua mulher, a arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992), foram amigos de Max Bill, que agora está sendo homenageado – ao lado de outras obras dela – com uma exposição na Casa Zalszupin, aberta no sábado passado, dia 15.

“Foi em 1949 que Pietro Bardi tomou a iniciativa de convidar o escultor suíço Bill para fazer sua primeira exposição individual no Brasil”, conta o curador da mostra Diálogo Bardi/ Bill, Francesco Perrotta-Bosch. Analisando o conjunto do trabalho, ele classifica a conversa silenciosa entre Bill e Lina como uma feliz confluência de filosofia e estética. E foi com essa perspectiva que ele organizou a mostra.

Poltrona desenhada por Lina Bo Bardi Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Do conjunto na exposição estão telas, litogravuras e esculturas de Bill, móveis de Lina e cartas trocadas entre eles, além de fotografias históricas significativas, como um encontro do suíço com o casal Bardi na biblioteca do Masp, em 1953, e imagens da primeira individual de Max Bill no Masp, em 1951, registradas pelo fotógrafo Peter Scheier.

A pequena retrospectiva com obras de Max Bill e Lina Bo Bardi, na Casa Zalszupin, vai até dezembro e mostra mais que afinidades entre Bill e o casal Bardi, que colecionou, inclusive, obras do amigo – 10 litogravuras dos anos 1940 que pertenciam à coleção particular da dupla estão na exposição. A mostra revela uma identificação intelectual de Lina com o projeto racionalista do suíço, que ela definiu, num texto de abril de 1951, como um matemático pertencente a uma geração “que quer explicar os fatos, que assistiu à catástrofe da guerra e à falência da cultura tradicional”.

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O jovem colecionador de origem suíça Pascal Duclos, que mora há dez anos em São Paulo, emprestou as pequenas esculturas de Bill que estão na mostra. São obras que justificam sua importância como escultor e designer (ele foi diretor da histórica Escola de Ulm, que fundou, além de ter passado pela Bauhaus).

Telas concretas de Max Bill dos anos 1960 na Mostra “Dialogo Bardi/Bil”, que conta com documentos e correspondências trocadas entre o casal  Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Além disso, as obras apontam a ressonância de seu pensamento estético entre os brasileiros. “Com certeza destacaria o designer Alexandre Wollner como seu mais conhecido discípulo brasileiro formado em Ulm, mas não se pode esquecer o papel que ele teve, nos anos 1950, como inspirador dos artistas construtivos, tanto os cariocas do Grupo Frente como os concretos do grupo paulista Ruptura”, ressalta Duclos.

Não é difícil notar a convergência de soluções formais entre as pinturas de Max Bill expostas na Casa Zalszupin e as pinturas, por exemplo, de Luiz Sacilotto, que pertenceu ao grupo Ruptura. Mais fácil ainda é descobrir que a famosa cadeira Bowl, desenhada por Lina Bardi em 1951, é diretamente ligada a uma série de semiesferas esculpidas em granito por Max Bill nos anos 1960. O curador colocou lado a lado o protótipo da Bowl (em acrílico com almofadas vermelhas) e as semiesferas do suíço, num esforço relacional que acentua ainda mais a convergência do projeto formal de ambos.

Outro exemplo é a cadeira de beira de estrada (1967) que Lina fez com apenas três galhos de árvores cruzados e unidos por cordas. Instalada na área externa da Casa Zalszupin, ela tem relação direta com a escultura Konstruktion aus Drei Gleichen Prismen (1975), de Max Bill, como nota o colecionador Pascal Duclos. A diferença está no material: Lina recorreu ao precário para enfrentar o sol do Nordeste, oferecendo uma solução para os usuários à espera do ônibus. Bill buscou o bronze, material nobre da história da arte.

Móveis de Lina Bo Bardi expostos na Casa Zalszupin na mostra “Dialogo Bardi/Bil” Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Outras cadeiras desenhadas por Lina estão na mostra – entre elas, as que criou para o auditório do Masp em 1948 (em madeira e couro) e as produzidas na época de sua sociedade com Giancarlo Palanti, como a poltrona com estrutura em tubo de ferro leve e forro solto de lona, desenhada por Lina para o Studio de Arte Palma, em 1948.

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Também fruto dessa época é a Poltrona com Três Pés (1951), um clássico reeditado pela Etel em 2015. Analisando melhor, esse diálogo entre Lina e Max Bill não foi, segundo o curador Francesco, um “diálogo plácido”. Lina, diz ele, logo se desencantou com o desenho industrial. Bill tomou um trilha diferente.

Depois de sua participação na Bienal, Max Bill retornou ao continente europeu, onde um ano antes havia criado a Hochschule für Gestaltung, em Ulm, na Alemanha. Em 1950, o Brasil já tinha ingressado na abstração e vivia um momento particularmente favorável à modernidade, preparando as bases para a bossa nova e Brasília. Dois outros alunos de Bill, além de Alexandre Wollner – Mary Vieira e Almir Mavignier –, tiveram um papel importante na difusão do pensamento do mestre, lembra o curador da mostra, Francesco Perrotta-Bosch.

Litogravura de Bill da coleção Bardi na exposição Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

O diálogo entre Max Bill e Lina foi igualmente intelectual, mas de outra ordem, segundo o criador. “As estruturas geométricas, sintéticas, de Lina Bardi estão em consonância com o ideário concreto de Max Bill”, argumenta o curador. “Cada um ao seu modo desenhou formas rigorosas para materializar sua postura ética.”

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