Mostra revela "As Semanas de 22"

O pintor Romolo Lombardi estava entre os artistas que ficaram de fora da famosa semana e terá sua obra exposta no Complexo Júlio Prestes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Em setembro de 1922, o Palácio das Indústrias, atual sede da Prefeitura de São Paulo, ainda estava em obras (só foi inaugurado dois anos depois), mas uma intensa movimentação acontecia entre andaimes e instalações elétricas - pintores, escultores e arquitetos que não participaram da Semana de Arte Moderna se apressavam para aprontar uma mostra de seus trabalhos. Assim, no dia 7 daquele mês, aconteceu a "1.ª Exposição Geral de Belas Artes". "Foi uma outra semana de arte moderna, mas reunindo os que ficaram de fora da primeira", afirma Dario Bueno, curador da exposição Semanas de 22, mostrando aspectos desse movimento. A mostra será aberta na quinta-feira para convidados e sexta para o público, na Galeria do Complexo Cultural Júlio Prestes, em realização da Secretaria de Estado da Cultura. São 12 quadros e 15 painéis reproduzindo parte da obra exposta naquela semana de setembro, que reuniu 67 artistas entre pintores, escultores e arquitetos. Apesar da qualidade técnica de seu trabalho, eles não participaram do movimento liderado por Mário e Oswald de Andrade. "Eles não perteciam à elite paulistana, daí a demora em conseguir expor seu trabalho e, ainda assim, no Palácio das Indústrias ainda em obras e não no Teatro Municipal", observa Bueno que, para homenagear os artistas, elegeu a obra do pintor Romolo Lombardi (1891-1957) como representativa de todos os outros. "Teremos quatro obras originais dele, que serão exibidos na abertura da mostra." Além da pintura, que estudou com Guilherme Pangella, Lombardi dedicou-se também à cenografia. Começou na Companhia Sebastião Arruda e, em 1919, foi contratado pelo Teatro Municipal como cenógrafo, além de trabalhar para várias companhias teatrais da época, como de Procópio Ferreira, Zaira Medici e Clara Weiss. Sua habilidade consagrou-o como o mago da cenografia brasileira. Sua morte acontece no auge da carreira, quando se preparava para uma grande exposição individual. "Lombardi participou de diversos salões paulistas, além de trabalhar no Municipal durante 25 anos, construindo painéis de até 10 metros de altura", comenta Bueno. "É irônico, portanto, que ele não tenha exposto sua obra durante a semana organizada por Mário e Oswald no teatro." Nas pesquisas que realizou em busca de informações sobre a Exposição Geral de Belas Artes, Bueno descobriu uma pequena nota publicada pelo Jornal do Comércio, no dia 8 de setembro de 1922, informando sobre a abertura da mostra. Lá, além da notícia da presença do Presidente do Estado (cargo equivalente hoje ao do governador), uma curiosidade: o discurso proferido pelo poeta Menotti del Picchia, um dos expoentes da semana ocorrida no Municipal. "Foi uma presença importante pois como os artistas não tinham dinheiro suficiente, não foi feita uma propaganda devida e poucos ficaram sabendo." Lobato elogia - A qualidade das obras, porém, não passou desapercebida pelos intelectuais da época. O escritor e editor Monteiro Lobato, que ajudou a incitar os ânimos dos modernistas ao criticar, em artigo publicado em 1917 em O Estado de S.Paulo, uma exposição de Anita Malfatti, visitou o Palácio das Indústrias e, entusiasmado, publicou cinco páginas sobre a exposição na edição de outubro de 1922 da Revista do Brasil, enaltecendo o evento. "A divulgação, porém, foi restrita e, terminada a exposição, pouco se falou da sua relevância", comenta Bueno, lembrando que um dos principais esforços para recuperar sua importância partiu, anos depois, de Pietro Maria Bardi, então diretor do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. Em um artigo, que estará reproduzido na exposição Semanas de 22, Bardi fez um levantamento de pintores injustamente esquecidos, buscando ressaltar suas qualidades. "Ele cita, por exemplo, Waldemar Belisário, Inocêncio Borghese, Angelo Simeone, entre outros, que começaram a pintar por vocação e criaram uma obra respeitável", comenta Dario Bueno. Além da reprodução de obras dos artistas e de textos jornalísticos, a exposição tem ainda o catálogo original e uma coleção de fotos, das quais a mais curiosa é a que exibe alguns dos participantes em frente do Palácio das Indústrias, um conjunto de três edificações alinhadas, projetado em estilo florentino pelo arquiteto italiano Domiziano Rossi, que trabalhava no escritório de Ramos de Azevedo. "Foi uma tentativa de repetir a famosa foto dos participantes da primeira semana, durante um almoço, no Municipal", conta o curador. "O contraste, no entanto, é grande, pois, enquanto no teatro predominava o luxo entre os participantes, o Palácio das Indústrias ainda estava em obras e o que mais existia era pó." Serviço - As Semanas de 22. De terça a quinta, das 10 às 19 horas. Complexo Júlio Prestes. Praça Júlio Prestes. Até 19/4. Abertura quinta-feira, 18 horas.

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