Honra e aprendizado. É assim que a cantora Agnes Nunes, de 19 anos, resume o significado da sua participação na nova produção do YouTube Originals, Abre Alas, que estreia nesta quinta, 16, no canal da artista. A série com seis episódios criada pela Hysteria (plataforma de conteúdo produzida por mulheres), mostra o encontro da jovem com nomes consagrados da música brasileira que foram e continuam sendo suas inspirações.
"Quando recebi o convite, fiquei super surpresa e um pouco com medo, porque eu pensei 'sou tão jovem, como é que eu vou guiar um programa desses? Como eu vou ser anfitriã dessas mulheres tão maravilhosas?'", conta.
Elza Soares, Sandra de Sá, Preta Gil, Liniker, Tássia Reis e Margareth Menezes. Em cada um dos episódios, cada uma delas compartilha com Agnes sua experiência de vida e carreira, além de cantarem juntas. A ideia é fazer uma reflexão sobre o passado e o presente das mulheres negras na música produzida no País. A equipe que trabalha na produção é composta por integrantes majoritariamente mulher e negras.
“Fazer o Abre Alas, mais do que falar sobre mulheres pretas e como o mundo recebe esses talentos, é um encontro com a ancestralidade. Estar cercada de mulheres pretas, com todas trabalhando pelo mesmo objetivo, é reconhecer todas as que vieram antes de nós. Cada cantora que relata uma fase de sua vida conecta a gente com tradições, percalços, dores e delícias das mulheres de nossas famílias. E ouvir as mulheres mais novas é um alívio por saber que tudo o que fizemos, fazemos e faremos vai abrir caminhos menos difíceis e encorajá-las para lidar e reagir às micro agressões racistas disfarçadas de mudança de mundo”, revela Maristela Mattos, diretora e roteirista da “docussérie”.
O projeto faz parte do Fundo Vozes Negras do YouTube, que desde junho de 2020 investe em valorizar e ampliar vozes e perspectivas negras na rede social. “Ver aquela equipe me deixou muito mais confiante e muito mais à vontade. Você percebe que a mulher negra vem ocupando espaços que, há 4, 5 anos atrás não era visto pela sociedade como o normal”, reflete Agnes.
A parceria da equipe é o coração da série. De acordo com Maristela, tudo foi pensado e conversado. "Faz parte desse projeto derrubar o padrão da hierarquia vertical e colocar todos juntos com ideias, pensamentos e palavras lado a lado. Isso faz com que toda a troca, antes, durante e depois, gere uma entrega única de toda a equipe”, conta Maristela. “A participação da Agnes foi essencial na escolha das histórias que iríamos contar, nas mulheres que são referência para ela. Ela é mais do que uma porta voz, ela dá a voz ao projeto e solta a voz em encontros musicais inéditos. Agnes mostra que apesar de jovem, sua voz e talento são maduros."
Do sertão para o estrelato
Agnes Nunes é um talentos mais relevantes de sua geração. Sua história inspiradora mostra que o sonho é possível. “Eu morava numa cidade em que a expectativa de você sair e virar artista era muito mínima. Uma cidadezinha do interior, do sertão da Paraíba. E a minha expectativa era crescer, estudar e casar”, lembra ela, que viu a vida mudar aos 12 anos, quando ganhou um teclado de sua mãe. “Ela me apresentou a música e aí eu comecei a gravar os meus vídeos e as minhas coisas e postar na internet. Meu primeiro vídeo foi escondido dela porque era uma exposição muito grande, né? Mas quando eu vi tinham muitas pessoas ali apreciando a minha arte”, conta.
Hoje, a cantora conta com 2,6 milhões de fãs no Instagram e singles e parcerias gravados com nomes como Xamã e Tiago Iorc. Sua voz, inconfundível, casa bem com qualquer ritmo. “Eu não me limito. Eu canto o que meu coração pede pra eu cantar, eu só canto, só faço música”, garante.
Justamente por esse jeito decidido, a jovem já arrancou elogios de Caetano Veloso, Lázaro Ramos e Elza Soares. “Foi com ela que eu fiquei mais nervosa. Elza faz parte da minha vida desde que eu me entendo por gente e faz parte da vida da minha mãe desde que ela se entende por gente. Então pra mim ela é uma referência bem grande. Foi muito intenso, eu fiquei muito emocionada porque ela é muito inspiradora. Só o fato dela existir já é um acontecimento”, diz.
A inspiração não surge, segundo Agnes, somente na música, mas sim na vida. “Eu pude ouvir a história de cada uma dessas mulheres, sair um pouco do mundo da música. Teve artista que eu conhecia só a música, que eu nunca tinha parado pra escutar a sua história e cada uma dessas mulheres tem uma particularidade na história. E com cada uma delas eu aprendi uma coisa diferente, com cada uma eu fui sensível de uma maneira diferente."
Ela diz que, durante o processo de fama, enfrentou episódios de racismo, bullying e xenofobia. “Foi um processo que eu tive que amadurecer muito mais rápido, de olhar a vida e a perspectiva da vida com outros olhos.”
De acordo com Maristela, o lançamento de Abre Alas vem como uma mostra de resistência, coragem e amor. “Depois de quase dois anos pandêmicos, uma série musical sobre histórias de vida e resistência ajudam a despertar mais esperança. Todo mundo estáprecisando reaprender a olhar o futuro com mais inspiração e renovar compromissos com os sonhos. A série vem celebrar um ano em que nada aconteceu de forma simples e fácil. Mesmo assim conseguimos enxergar belezas na vida”, coloca a roteirista.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.