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Alanis Morissette: ‘Minhas músicas são um convite a três emoções - medo, raiva e tristeza’

Aos 50 anos, a cantora fala dos hábitos noturnos, da paixão pelo vermelho, de Judy Garland e relembra o começo da carreira, nos anos 1990, dizendo que discordava da crença de que tudo girava em torno da indiferença e do tédio: ‘Eu não sou indiferente’

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Por Reggie Ugwu (The New York Times)

Se os álbuns de Alanis Morissette fossem seus filhos, Jagged Little Pill seria o mais mimado – muito amado e celebrado no mundo todo. Ela tem um carinho especial por seu segundo álbum, Supposed Former Infatuation Junkie, que ganhou uma reedição com novos materiais no mês passado para seu 25º aniversário. (Ela toca músicas do álbum em sua atual turnê, que vai até setembro).

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Morissette tinha apenas 25 anos quando lançou Supposed, em 1999, mas Jagged a transformou numa veterana do complexo industrial da It Girl. Ela esperava que o sucesso trouxesse uma comunhão com outras estrelas da música popular e alternativa. Em vez disso, ela se viu isolada e criativamente esgotada.

“Senti que discordava do credo dos anos 90″, disse ela. “Achei que haveria mais intimidade, vulnerabilidade e kumbaya, mas tudo girava em torno da indiferença e do tédio, e eu não sou indiferente.”

A cantora canadense Alanis Morissette se apresenta no Alianz Parque, em Sao Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

A inspiração veio do amor incondicional de seus amigos de Toronto e de uma viagem de um mês à Índia, cuja influência fundamental pode ser ouvida no single de lançamento do álbum, Thank U. “Minhas músicas podem ser um convite a três emoções que a cultura americana geralmente não permite: medo, raiva e tristeza”, disse ela. “Fico empolgada ao encarnar essas coisas no palco e ver as pessoas me vendo e sentindo essas emoções em si mesmas.”

Numa entrevista feita em Nova York, Morissette falou sobre as partes de sua vida que lhe dão força e perspectiva. Aqui vão trechos editados da conversa.

1. Óleos essenciais da Living Libations

Nadine Artemis tinha uma lojinha de óleos essenciais chamada Osmosis no centro de Toronto. Quando eu era adolescente, entrei lá e pensei: “Nossa, essa mulher é mestre. Ela é minha guru”. Então, basicamente – meio que brincando, mas de maneira semiformal – estou sob a proteção dela há décadas.

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2. Inteligência financeira

Tive o prazer de entrevistar Howard Gardner, que criou a teoria das inteligências múltiplas, para meu podcast, e perguntei a ele se poderia acrescentar mais algumas inteligências. Acho que a inteligência financeira é uma inteligência. É uma sensação de ativismo ser uma mulher com poder em relação ao dinheiro e com conhecimento sobre dinheiro e entrar no empreendedorismo.

3. Judy Garland

Vê-la dançando e cantando, ver sua força e também sua vulnerabilidade, numa época que era muito antifeminista. A bela tortura da necessidade de se expressar de várias maneiras. Vejo isso nela, em Carrie Fisher, em Shirley MacLaine e em Liza Minnelli também.

4. Sem partes ruins

Escrevi o prefácio do livro No Bad Parts [algo como “Sem Partes Ruins”, em tradução direta], de Richard Schwartz, e adoro esse livro porque ele nos oferece um mecanismo para interagir com as várias partes que nos constituem, em vez de só nos sujeitarmos às vicissitudes delas. Em vez de fazer com que minha parte raivosa assuma o controle e arruíne todos os meus relacionamentos, a teoria é que posso dialogar com ela, em vez de simplesmente surtar com as pessoas.

5. Exposição ao frio

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Por ser canadense, os mergulhos no frio são um pouco menos aterrorizantes para mim. Sempre mergulho antes dos shows. Uns dias atrás, Joan Jett e eu mergulhamos juntas e talvez tenha sido uma das dez melhores experiências de toda a minha vida.

6. Ser notívaga

Quando estou em turnê, vou para a cama entre quatro e cinco da manhã. Sempre me envergonhei do fato de que ganho vida à noite. Como mãe e como pessoa que vive num mundo superestimulante, tenho algo especial com a noite, com esse mundo inteiro envolto em escuridão, que dá permissão para ouvir as várias mensagens que podem estar tentando passar.

7. Pesos mais pesados

Durante muito tempo, vivemos essa confusão de pesos para as mulheres. Mas, à medida que envelheci e cheguei aos 50, vi os benefícios de pegar mais pesado. Carrego kettlebells de 7 a 9 quilos comigo e me sinto forte pra c... agora.

8. Vida dentro e fora

Onde quer que eu vá, quero derrubar paredes. Minha avó dizia: “Você é alérgica a paredes, Alanis, é alérgica a portas e janelas”. Como cultura, somos meio que sugados por nossa tecnologia. Mas como faço para me manter conectada com a terra? Como posso pisar descalça na grama e me sujar de lama? Gosto da combinação de ficar um pouco suja, mas também chique, com estética, tecidos e peças de alta qualidade.

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9. Integralidade em vez de “bem-estar”

Nos últimos dez anos, as pessoas se concentraram muito no bem-estar. Gosto de olhar para o ser humano sob todos os aspectos: o espiritual, o sensual, o somático, o intelectual, todas as partes de nós que foram escondidas ou perdidas. Ou sobre as quais mentimos para nós mesmas. Ou varremos para debaixo do tapete.

10. Qualquer coisa vermelha

Adoro vermelho desde que era pequena. Meu quarto era vermelho, meu papel de parede era vermelho, minha cama era vermelha, meu primeiro aparelho de som era vermelho. Como pessoa curiosa em relação aos chacras, o vermelho para mim também está associado à tribo e à comunidade, bem como à sobrevivência e à longevidade. Não é a cor mais relaxante de se olhar, mas, toda vez que a vejo, sinto que é a cor do meu espírito.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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