Nos cartazes dos festivais de música, os olhos encontram fácil os tal head liners – as principais atrações, aquelas que encerram as noites de evento. São eles, afinal, que brilham tanto, mas tanto, que até podem cegar algum desavisado. E, diante de tal destaque, vem a tal constatação: “Ué, mas essa banda aqui já não esteve naquele outro festival?”.
É uma crise, mesmo. Na falta do novo e inédito, recicla-se uma, duas, três vezes... Sem uma nova fonte de mais atrações que atraiam as massas – fruto da pulverização do consumo da música pela internet, serviços de música por streaming e YouTube –, os tal nomões se repetem numa frequência até incômoda.
Red Hot Chili Peppers passou pelo Brasil há sete meses, no Rock in Rio. The Killers e Pearl Jam já estrelaram o topo do cartaz do Lollapalooza na edição de 2013. O que esses três estão fazendo aqui, de novo, afinal?
Eles, meus caros reclamões, são como a cobertura daquele doce que vai ser o mais vendido do dia em uma doceria. São os ingredientes mais vistosos, que fazem salivar a boca até daqueles que preferem um cafezinho sem açúcar. Conhecer um punhado de músicas desse trio que tem a responsabilidade de encerrar as atividades do festival realizado no Autódromo de Interlagos, nos dias 23, 24 e 25, é fácil.
Com exceção dos fãs fervorosos – e, acredite, eles existem e adoram perseguir jornalistas em redes sociais –, o restante do público que frequenta esses eventos gigantescos de música vai, mesmo, pelo recheio, pela experiência de descobrir uma nova banda favorita, para reclamar dos shows decepcionantes e, claro, postar fotos no Instagram.
O recheio, amigos, é o que faz um bom doce. A apresentação minimamente razoável garante a compra, o interior é que não pode ser doce demais ou massudo. Mas a cobertura poderia variar e não ser só aquele bom e velho chocolate? Poderia.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.