Um dos mais ambiciosos artistas da música eletrônica da atualidade é o produtor e DJ britânico Richard James, conhecido pelo codinome de Aphex Twin. É dele o set musical mais "vanguardeiro" do Free Jazz, na noite eletrônica. O show deveria contar com a arte do videomaker Chris Cunninghan, mas o videoartista desistiu com medo de embarcar em avião nesse momento quente da política internacional. Costuma lançar seus discos pela gravadora Warp Records, mas também possui o próprio selo, Rephlex. Seu novo trabalho, Drukqs, está sendo lançado oficialmente hoje e pode ser ouvido na Internet (www.drukqs.net). Aphex Twin cultiva com algum zelo a imagem de esquisitão. Respondeu a algumas questões somente por e-mail, na semana passada, após alguma insistência. Boa parte delas teve resposta monossilábica - ele parece ter-se empenhado mais em mostrar o que não quer da música do que o que quer. Em Drukqs, seu álbum recém-lançado, ele faz um trabalho que inclui lições do R&B, da música dos clubes e também da composição erudita. "É a marca do meu tempo - o patchwork pós-moderno -, mas eu não posso falar pelos outros", afirmou o músico. "Se alguém mais quer fazer disso a marca de sua época, esteja à vontade!" Aphex Twin não dá pistas sobre suas maiores influências. Assume um leque que vai de Stockhausen e das vanguardas contemporâneas à arte pop de Kraftwerk e Pink Floyd. E, embora tenha trabalho com Chris Cunningham em projetos visuais, como uma instalação plástica para a London´s Royal Academy of Arts (a exposição Apocalypse: Beauty and Horror in Contemporary Art, que intentava "refletir aspectos da riqueza, beleza, horror e diversidade do mundo de hoje"), ele acha que o que faz é "definitivamente, música". "Você está vendo as coisas em uma perspectiva fashion", ele diz, rebatendo afirmação de que o sampler e os DJs fizeram uma pequena revolução na música. "Eu acho que há revoluções sem o uso da música eletrônica sendo realizadas o tempo todo e, se não há nada de novo soando fresco, haverá sempre experiências vitais à espera de serem descobertas", pondera o produtor. "Muitas pessoas estão interessadas na ´próxima grande coisa´, o que facilita o marketing - eu encontro minhas ´próximas grandes coisas´ apenas ouvindo o que está sendo lançado", afirma. "Você já ouviu Bernard Parmagiani? Ele pode ser sua próxima grande coisa. A música eletrônica pode ser o que quisermos que seja, em teoria." Aphex Twin é tido como o homem que expandiu as fronteiras do techno, nos anos 90, em direção a outras terras, incorporando elementos de acid-thrash, ambient-noise e industrial drum-and-bass. Mas mostra-se ligado em tudo que é novo e numa perspectiva multicultural. Chega mesmo a sugerir um site de música eletrônica brasileira ao repórter (http://www-crca.ucsd.edu/~bobw/brazil.html), dizendo que tem "links interessantes". O site em questão, Computer Music in Brazil, tem links para pesquisas universitárias e também conduz a experiências de artistas como os compositores Lívio Tragtenberg, Wilson Sukorski, Tim Rescala e Rodolfo Coelho de Souza. É de fato uma ótima fonte para pesquisa e contatos. A música eletrônica, para Aphex Twin, pode ser fonte de pesquisa ou não - não é uma contingência, adverte. "Depende do que você ouve - está cheio de coisas soando novas aí fora, procure por elas", diz. Ele também não se furta a emitir uma opinião sobre o conflito no Afeganistão, confusão que causou uma baixa na sua equipe com a desistência do soturno Chris Cunningham - estrela audiovisual da última Bienal de Artes de Veneza e diretor de dois consagrados clipes de Aphex Twin, Come to Daddy e Windowlicker. "Vejo (essa luta) como um monte de colegiais brigando na escola", ele diz. "O governo americano é totalmente fascista quando diz que ou você está com eles ou está contra eles", afirma. "Que tal outras opções, como por exemplo: nós somos contra o terrorismo, mas nós não acreditamos que se vá acabar com ele matando mais pessoas que não estão envolvidas." Aphex Twin nasceu na Cornuália, Inglaterra. Tornou-se DJ no auge das raves, no início dos anos 90, e lançou seu primeiro disco, Analogue Bubblebath, em 1991. Além do codinome Aphex Twin, também já usou "disfarces" como Caustic Window, AFX e Polygone Window.
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