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Bailes Funk da elite carioca mantiveram identidade

Descaracterizado pela moda, o funk ainda conserva suas características na terra em que surgiu, mesmo quando o público da festa é da zona sul carioca

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Por Agencia Estado
Atualização:

Domingo, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. A reportagem foi a Ilha dos Pescadores, um dos bailes funk cariocas que faz a ponte entre o asfalto e o morro, assim como o baile Castelo das Pedras - no sábado promoveu o seu primeiro evento na capital paulista. Mesmo como parte de uma cultura em transformação e a principal referência para ditar o padrão do funk em São Paulo e outros Estados, esses eventos, no Rio, ainda são bailões de verdade. Chegaram ao asfalto sem o apoio da massiva divulgação da TV e por alguns caminhos alternativos, como os CDs piratas e as equipes de som que fazem cerca de 360 bailes no Rio, segundo Formiga. A brutal diferença entre o fenômeno natural e a forçosa fabricação de bailes na capital começa pelo preço. Ilha dos Pescadores: damas (cachorras ou tchutchucas) pagam R$ 5,00 e cavalheiros, R$ 10,00. Em São Paulo, o preço de um ingresso está na média de R$ 25,00 para mulher e R$ 35,00 para homem. Ou seja, o funk entra aqui selecionando o seu consumidor. Nem tudo é tão recomendável nesse bailão. Jovens a partir de 14 anos podem entrar e ficar no baile das 21 horas até as 4 da madrugada. No entanto, burla-se a regra e meninas entre 10 e 12 anos entram acompanhadas por algum adulto responsável. Elas dançam lascivamente, sem que haja nenhum tipo de fiscalização do Juizado de Menores que, ultimamente, se mostra sempre enérgico nesta cidade. Três garotinhas chamavam a atenção em frente do palco. Vestidas como as adultas, que se autodenominam cachorras, elas foram levadas por uma das mães da turma, Ana Ligia da Silva, de 31 anos. A mais nova, G., tem 10 anos. A mais velha, M., tem 13. São amigas e adoram a música. Sabem todos os hits do início ao fim. Ana Ligia diz que não vê problema no ambiente. "Acho que as músicas são um modo de falar daqui. Não é má influência", acredita. O som da casa é comandado pela equipe Espião Choque de Monstro, que também quer a sua fatia no promissor mercado e nos próximos dias lança CD pela gravadora Indie Records. A equipe é uma das concorrentes da pioneira Furacão 2000, assim como a Pipo´s e a do Castelo das Pedras, todas bem conhecidas no ramo. No repertório, basicamente o funk "sensual", capaz de manter a babilônia de popozudas e pixadores pela noite inteira. Dançarinas no palco não eram necessárias, pois todo mundo sabe como proceder. A escolha do figurino é fundamental no ritual funk, que parece as preliminares do ato sexual e do ato em si: mulheres de calça ou saia muito justa e os seios vestido por tops ou biquínis e homens sem camisa, exibindo o físico malhado. Entre as típicas popozudas, estava a recepcionista Andréa de Castro, de 29 anos. "A gente dança funk há muito tempo. Ele é legal para as mulheres porque dá liberdade para criar um estilo sexy. Não é só passinho. Você dança como quiser", conta ela, que ficou até o fim do baile, ignorando o cansaço do outro dia. Moradora do bairro da Lapa, no centro do Rio, Andréa dominava não só o estilo funk. O namorado servia de acessório na coreografia de nítida conotação sexual. A funkeira Andréa afirma que hoje o baile está mais divertido. "Freqüento os bailes funk desde a época em que ele era violento. Ele está muito bom hoje, justamente por causa dessa mudança. A violência quase não existe. Só entra em baile de corredor quem quiser." De fato, não há sinal de confusão. As galeras nos bailes do asfalto não agem como num baile do corredor, onde o espaço é imprescindível para definir territórios e extravasar revolta. Muito pelo contrário, os funkeiros evitam o assunto, preferem hoje que a sua música seja conhecida apenas pelo humor e sacanagem e por ser pano de fundo para a exuberância das popozudas. Em meio aos funks sensuais, o DJ deixa escapar hits antigos, como o Rap da Felicidade e até um rap paulistano, a música Us Mano As Mina, do rapper Xis, remixada com a batida do miami bass, já quase no fim do baile. A essa altura, a música passa despercebida e o que tocar daí em diante vai sendo mastigado e digerido pelo restante do País.

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