Em diferentes religiões e mitologias, o sete é símbolo da virtude e da perfeição. Para lançar seu sétimo álbum, a banda americana Beach House calculou várias pequenas referências ao número. A mais óbvia é o nome do disco: 7, lançado no dia 11 de maio (1+1+5 =7). Com suas sete canções - a última delas, com sete minutos de duração -, o trabalho leva o catálogo da dupla formada por Alex Scally e Victoria Legrand a 77 músicas. A matemática resulta em conjunto de músicas imersivas, que combina momentos de contemplação e de intensidade.+++ Beach House mostra repertório do CD 'Bloom' O aparente misticismo, no entanto, tem pouco significado. É apenas um truque de mágica para esconder a fundação da música dos dois: anos de trabalho duro, segundo o guitarrista Scally. “Não gosto muito de relaxar, de férias... Na verdade, nem gosto muito de me divertir”, brinca ele, em entrevista por telefone ao Estado. “Quando paramos de fazer turnê, começamos a escrever. A vida é curta. Você tem que fazer o que precisa fazer antes que seu tempo acabe.”
Diferentemente de outras bandas da onda indie de meados dos anos 2000, o Beach House trilhou uma carreira consistente ao longo dos 13 anos de parceria entre Scally e Legrand. Os últimos álbuns da dupla testaram e aperfeiçoaram um som grandioso. Teen Dream (2010), Bloom (2012) e Depression Cherry (que em 2015 foi acompanhado por Thank Your Lucky Stars), foram recebidos com elogios pela crítica especializada. Scally não sabe explicar o sucesso. Ele desenvolve uma teoria de que, por trabalharem com afinco em seus shows, as apresentações ao vivo criam experiências memoráveis para os fãs. Para explicar, ele dá o exemplo de quando a banda tocou no Rio de Janeiro, em 2013, no Circo Voador - nome que ele pronuncia com dificuldade. “Fazer turnê é difícil, mas com as pessoas que vêm te ver, vocês têm a chance de fazer juntos uma noite linda acontecer. Foi uma noite especial no Rio”, diz. “E acho que quando você tem uma noite especial, cada uma daquelas pessoas vai e conta para os amigos. É uma divulgação orgânica.” Apesar de guardar a lembrança do Rio, o guitarrista diz não ter previsão de quando a dupla vai voltar ao Brasil. “Nós queremos ir, mas é difícil fazer ficar viável financeiramente”, diz Scally, que no próximo sábado será um dos destaques do Primavera Sound, na Espanha, um dos principais festivais europeus de música.Renascimento. Apesar de representar completude, o número sete foi escolhido pela dupla para marcar um ‘renascimento’. O trabalho é o mais pesado da banda. A instrumentação, que em discos anteriores ficava restrita ao que a dupla podia reproduzir ao vivo, ganhou novas camadas com a adição do baterista James Barone, que acompanha a banda em turnês, e de um novo produtor, Sonic Boom. Em faixas como Dive e Dark Spring, a guitarra faz mais referências à banda irlandesa My Bloody Valentine, principal expoente do subgênero que ficou conhecido como shoegaze no final da década de 1980 e começo dos anos 1990. As letras falam abstratamente da ideia de encontrar luz na escuridão, terror na beleza - como a dupla que fecha o disco, Girl of the Year e Last Ride. A representação disso vem nos vídeos que acompanham as músicas - imagens inspiradas na op art, figuras que provocam ilusões de ótica e parecem sugar o espectador para dentro da tela. “Queríamos que fosse meio divertido e ‘viajante’, algo para ajudar seu cérebro a começar a viagem. Sugar as pessoas para dentro desse mundo.” Mesmo com as mudanças na sonoridade, as músicas ainda soam como o Beach House de sempre: nostálgico e etéreo. Scally e Legrand chegaram a uma essência de quem são? “Será que alguém realmente chega a descobrir quem você é? Não poderia ser mais primal, mais primitivo o jeito que fazemos música”, conta. “Não sei se é saber quem somos, mas sim sermos quem somos.”Beach House'7'Sub Pop; plataformas digitais
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.