Muita coisa mudou na vida de O Bardo e o Banjo em 2015. A peregrinação musical pelas ruas do País só aumentou. O grupo fez uma turnê pelo Sul do Brasil, passando por cidades como Curitiba, Santa Catarina e Porto Alegre no fim do ano passado. Outra novidade: o antes trio agora é um quarteto. Os paulistanos têm um baixista, Maurício Pilcsuk, e acabam de lançar Homepath, primeiro disco da banda. “O grave do baixo nos deu uma projeção maior de som. Também passamos a fazer mais apresentações em lugares fechados”, afirma o vocalista Wagner Creoruska.
A história de Wagner (banjo, percussão e vocal), Marcus Zambello (mandolim e vocal), Antonio de Souza (violino) e Maurício (baixo), que fazem show de lançamento do novo álbum nesta quinta-feira, 19, no Centro Cultural São Paulo, tem ingredientes de ficção. A ideia era sair tocando pelas ruas da capital paulista. Sem compromisso, o projeto inicial pertencia a Wagner, que, com o banjo nas mãos, queria contar histórias por intermédio da música. “Foi preciso coragem para começar. Lembro que sabia o lugar exato onde iria tocar, mas, quando cheguei, passei reto. Não consegui, eu simplesmente travei. Pensei que, de alguma forma, precisava fazer aquilo. Voltei, tirei o banjo das costas e lancei os primeiros acordes. Desde então, não parei mais”, lembra.
Em uma dessas apresentações, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, Wagner conheceu o violinista Antonio, que assistia ao show e se ofereceu “para fazer um som”. “A gente não sabia o que estava fazendo. Queríamos tocar. Foi tudo acertado ali na hora, sem ensaio. Nada planejado. Marcamos de tocar de novo no outro dia. Nunca mais saí”, afirma Antonio.
Com a entrada de Marcus, amigo de infância de Wagner, na banda e o dinheiro das apresentações de rua, o Bardo e o Banjo gravou seu primeiro EP no início de 2013, Synergy. “Desconstruímos o conceito do lançamento de uma banda, que primeiro grava, depois divulga o material e, na sequência, vai atrás de shows. Nós conquistamos nosso público, arrecadamos verba e só depois gravamos o disco”, complementa Wagner.
A música do Bardo e o Banjo é baseada no conceito de Old Time Music, gênero norte-americano com raízes na música folk irlandesa. “Este tipo de som é muito comum no sul dos Estados Unidos, pois foi quando as famílias irlandesas migraram para lá e trouxeram histórias de uma terra distante no formato musical”, diz Antônio.
O ano passado também ficou marcado por uma frustração na precoce carreira da banda. Os integrantes tiveram problemas para entrar nos Estados Unidos, onde fariam uma turnê. Os vistos obtidos pelo quarteto não foram suficientes para os agentes de imigração. “Nós tiramos o visto de negócios e turismo, mas eles exigiram o de trabalho. Tínhamos guardado dinheiro para a viagem com as apresentações nas ruas. Foi um baque. Havia tantos planos. Não sabíamos o que fazer. Acabamos presos no aeroporto de Chicago e retornamos um dia depois. Fomos levados para uma cela com quatro camas e um banheiro sem porta. Ficamos por lá até que o horário do nosso voo finalmente chegasse”, recorda Maurício.
Da decepção com a viagem surgiu Music Is My Business, nona composição do CD. A música fala justamente sobre a dificuldade de viver de música e de como tudo é burocrático. Grasy Coat e Hangman’s Reel, temas tradicionais do bluegrass, também estão no álbum.
No intervalo entre o EP
Synergy
e o primeiro disco,
Homepath
, a banda também lançou um disco com clássicos do rock internacional. No CD, vendido apenas nas ruas, a banda reinterpreta músicas do Motörhead, Lynyrd Skynyrd, Dire Straits e de Johnny Cash na versão bluegrass. “Acho que voltamos meio sem saber o que fazer e, como essas músicas caíam muito bem nos shows, decidimos regravá-las. Não foi nada assim muito planejado”, lembra Marcus. As músicas de O Bardo e o Banjo quebram barreiras e atraem diferentes públicos, da criança ao idoso. “Muita gente pensa que somos estrangeiros e chegam falando em inglês. Outras perguntam se estamos tocando música do Pica-pau e Pernalonga, o que faz total sentido”, brinca ainda Wagner.
O que é bluegrass?
O estilo mescla a sonoridade das tradicionais ilhas britânicas com a antiga música rural negra. Há, também, referências do jazz e do blues. É característico do sul dos Estados Unidos e utiliza principalmente instrumentos acústicos como banjo, guitarra acústica, violão, baixo acústico, dobro e violino
INFLUÊNCIAS
Bill Monroe
Nascido no Kentucky, o cantor, compositor e instrumentista norte-americano William Smith Monroe (1911-1996), mais conhecido como Bill Monroe, é considerado como o criador do bluegrass. O gênero musical leva o nome de sua banda, o Blue Grass Boy
Della Mae
Formado por cinco garotas que tocam, compõem e cantam, o quinteto Della Mae é original da cidade de Boston, Massachusetts, e foi criado em 2009. Com um primeiro disco lançado de maneira independente, em 2011, três anos depois elas foram indicadas para o maior prêmio da música mundial, o Grammy
Steve’n’Seagulls
Com bandolim e diversos instrumentos inusitados, a banda formada por cinco finlandeses se destaca pela espontaneidade de suas apresentações
O BARDO E O BANJO
Centro Cultural São Paulo. Avenida Vergueiro, 1.000, tel. 3397-4002. 5ª, dia 19, às 20h30. R$ 20
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