Beatles no Grammy 25: Como indicação reacende debate sobre uso de inteligência artificial na música

Especialistas destacam preocupação com uso de IA na música, mas não no caso de ‘Now and Then’, lançada em 2024, mais de um século depois do fim da banda, que pode ganhar o prêmio de Gravação do Ano neste domingo, 2

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Por Maggy Donaldson (AFP)
Atualização:

Os Beatles, separados há mais de meio século e com apenas dois membros vivos, estão entre os candidatos ao Grammy de Gravação do Ano, uma indicação surpreendente que destaca o debate contínuo da Academia sobre como lidar com a inteligência artificial.

A notícia de que os Beatles lançariam a música Now and Then com a ajuda de IA provocou entusiasmo em alguns fãs, mas indignação em outros, pois alguns chegaram à conclusão de que havia deepfakes envolvidos.

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Esse não é o caso: Now and Then foi feito com o uso de “stem separation”, um tipo de tecnologia de IA que permitiu a limpeza da demo lo-fi de décadas atrás, com excesso de ruído.

A ferramenta foi usada para isolar os vocais de John Lennon das partes indesejadas da gravação, tornando-a utilizável.

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Em seguida, os criadores acrescentaram violão elétrico e acústico gravado em 1995 pelo falecido George Harrison, completando a música com a bateria de Ringo Starr e baixo, piano e slide guitar de Paul McCartney, além de outros vocais de apoio.

Os Beatles em 1964; banda pode ganhar o Grammy mais de 50 anos depois de seu fim Foto: AFP

A Academia considerou o single elegível para ganhar o prêmio de Gravação do Ano, um dos principais do Grammys, que acontecerá no próximo domingo, 2, bem como o de Melhor Performance de Rock.

Elementos elegíveis de IA

A instituição vem debatendo há anos sobre as implicações da IA para o setor musical, já que muitos artistas expressam séria preocupação com a ética da música gerada pela tecnologia.

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Em 2023, a Academia emitiu uma decisão segundo a qual “somente criadores humanos são elegíveis” para concorrer ao Grammy.

E “um trabalho que não contenha autoria humana não é elegível em nenhuma categoria”, dizem as regras detalhadas.

Mas, acrescenta, “um trabalho que apresente elementos de material de IA (ou seja, material gerado pelo uso de tecnologia de inteligência artificial) é elegível nas categorias aplicáveis”.

Nesse sentido, trabalhos criados com IA puramente generativa não são elegíveis.

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As músicas tocadas por ferramentas de IA que aprimoram em vez de criar, como Now and Then, podem ser consideradas.

Como McCartney disse sobre a faixa dos Beatles: “Nada foi criado artificialmente”.

Em Tóquio, em 1966: Paul McCartney, Ringo Starr, George Harrison e John Lennon; banda pode ganhar Grammy por música feita com ajuda de inteligência artificial Foto: Jiji Press/AFP

Repercussão foi exagerada, mas debate é importante

A cantora e compositora de Nashville, Mary Bragg, disse à AFP que o tipo de tecnologia usada em Now and Then é bastante comum, chamando seu desenvolvimento de um verdadeiro “momento a-ha” para produtores e engenheiros.

Ela disse que a ferramenta é usada rotineiramente e que o choque na cobertura da mídia sobre seu uso na música dos Beatles foi um pouco exagerado.

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Ainda assim, Bragg disse que as implicações das ferramentas de IA na música continuam sendo um “grande problema, porque é um novo domínio em que todos nós estamos vivendo agora”.

As perguntas são de longo alcance e “é certamente uma ladeira escorregadia”, disse ela à AFP. “As pessoas estão aprendendo cada vez mais sobre o que é possível”.

“Se a integridade da arte não for preservada, isso é motivo de grande preocupação.”

Na vanguarda das preocupações dos artistas estão questões como o uso de seu trabalho sem permissão clara ou para treinar software de IA, ou sua semelhança sendo forjada.

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Linda Bloss-Baum, professora da American University e membro da diretoria da Songwriters of North America, disse que muitos aspectos da IA a preocupam, mas não a tecnologia usada na faixa dos Beatles.

“Há muitas coisas ruins que a IA pode trazer para os artistas, mas esse é um exemplo de algo realmente bom”, disse ela.

“Acho que é um exemplo muito bom de como a IA pode beneficiar os artistas, se eles quiserem”, acrescentou ela sobre a música, que foi criada com a permissão dos responsáveis por Lennon e Harrison.

O anúncio de que os Beatles estavam concorrendo a um dos principais Grammys provocou algumas críticas de observadores do setor e usuários de redes sociais.

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No entanto, o Grammy é um prêmio do setor e não é escolhido pelos fãs e, às vezes, os critérios da Academia não coincidem com a opinião popular.

Por um lado, Bragg observou que o prêmio de Gravação do Ano vai para os engenheiros e produtores de música, além dos artistas.

Incluir os Beatles é “um aceno para o que provavelmente acontecerá no futuro no mundo das gravações”, disse ela.

É a quinta chance do grupo na categoria; a última vez foi em 1971, com Let It Be.

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