ABBA não existe mais como banda há três décadas. Isso, no entanto, não impede em nada sua sobrevida. Dancing Queen ainda está longe de passar incólume nas pistas. O musical Mamma Mia!, baseado nos hits do grupo sueco, estreou em Londres, em 1999 - onde está em cartaz até hoje -, e teve remontagens mundo afora, incluindo São Paulo (por aqui, a versão em português foi apresentada em 2010).
Os números desse musical reforçam a ideia de sucesso póstumo da banda: no total, mais de 50 milhões de pessoas já assistiram ao espetáculo ao longo desses 15 anos. E onde quer que seja montado, Mamma Mia! segue padrões de procedimento exigidos pelos “chefes” Benny Andersson e Björn Ulvaeus, compositores e fundadores do ABBA.
Em 2008, a fórmula do musical extrapolou os palcos e ganhou as telas. Com um elenco afiado, encabeçado por Meryl Streep, Mamma Mia!, o filme, arrecadou mais de US$ 600 milhões, mas representou mais do que cifras. Junto com o musical, ajudou a fazer a manutenção do público da banda, chegando a plateias mais jovens.
Ainda no quesito ‘perpetuando o sucesso entre outras geração’, vale lembrar que Madonna usou os acordes de Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight), do ABBA, em Hung Up, de seu álbum Confessions on a Dance Floor, de 2005. Foi um feito a cantora conseguir a autorização de Andersson e Ulvaeus, que são rígidos com sua obra - por isso o auê na época em torno da conquista.
Para o escritor brasileiro Daniel Couri, que, em 2011, lançou a biografia da banda, Mamma Mia!, pela Panda Books, a repercussão que o grupo consegue até os dias de hoje se deve à simplicidade de suas músicas, “apesar dos arranjos sofisticados e complexos”. “É fácil se ‘viciar’ nelas. A harmonia das vozes é impecável. As melodias e refrões são extremamente cativantes”, analisa. “Eles não tinham pretensões de fazer letras de protesto ou mesmo canções que se enquadrassem nos modismos da época.”
Formado no início dos anos 70, o grupo só alçou fama internacional em 1974, quando a canção Waterloo ficou em primeiro lugar no concurso musical do popular programa de TV Eurovision Song Contest. Para lembrar esses 40 anos, o pacote comemorativo de lançamentos inclui Abba - A Biografia, de Carl Magnus Palm, e a coletânea ABBA Gold: Greatest Hits 40th Anniversary Edition, reunindo três discos (dois de hits e um com lados B da banda).
Era janeiro de 1974 e faltava muito pouco para o fim das inscrições para o Melodifestivalen, concurso de música sueco que servia como porta de entrada para o festival de TV Eurovision. Nos dois anos anteriores, eles haviam chegado perto de ganhar o Eurovision, mas terceiro lugar não tem o mesmo peso do pódio mais alto. Àquela altura, o quarteto não se chamava mais Björn & Benny, Agnetha & Frida. Já batizada como ABBA, uma combinação das iniciais dos nomes deles, a banda precisava da música certa para ter chances reais. A balada dramática Hasta Mañana lembrava muito os últimos vencedores do festival, mas, por sugestão do empresário Stig Anderson, decidiram ousar com Waterloo.
Venceram a fase eliminatória, conquistaram, logo em seguida, os países nórdicos com o disco Waterloo, mas queriam ir mais longe. E, para isso, foram a Brighton, na Inglaterra, em abril, para participar da final da Eurovision. Contrariando todas as expectativas e favoritismos, a banda ficou em primeiro lugar. E ali o ABBA nascia para o mundo. “Aquele foi definitivamente um marco. No início dos anos 1970, ninguém fora da Escandinávia estava interessado em música pop sueca. Era difícil para o ABBA e seu empresário serem levados a sério pelo mundo dos negócios da música internacional”, diz o biógrafo sueco Carl Magnus Palm.
“É por isso que eles participaram do festival: sua teoria era que, se tivessem uma canção e uma performance que fossem fortes o suficiente, poderiam chegar a centenas de milhões de telespectadores que assistissem à competição e, ao fazê-lo, sua canção se tornaria um sucesso - não importa que eles fossem da Suécia. Eles estavam certos, porque a vitória com Waterloo lhes deu sucesso internacional”, continua.
Neste 2014, em que se comemoram os exatos 40 anos de vitória da banda na emblemática competição, foi lançado no Brasil o livro ABBA - A Biografia, de autoria de Palm. Há 15 anos escrevendo sobre o grupo, o escritor recupera a trajetória dos integrantes, com o material que acumulou nesses anos de pesquisa - incluindo entrevistas que fez com o quarteto ao longo desse tempo. Ele acompanha a história de Benny Andersson, Anni-Frid Lyngstad, Björn Ulvaeus e Agnetha Fältskog desde as respectivas formações na música, passando pela fama, casamentos de Frida/Andersson e Agnetha/Björn, desentendimentos, o divórcio dos casais. Mesmo com as separações, os quatro continuaram juntos como grupo, mas cada vez mais se distanciavam entre si.
Há quem considere os divórcios como os grandes responsáveis pelo fim da banda, em 1982. Palm diz que as separações contribuíram, em algum nível, para o desfecho, mas não foram o principal motivo. “Principalmente, Björn e Benny se cansaram de fazer apenas canções pop. Eles haviam sonhado por muitos anos fazer um musical.”
Todos seguiram suas vidas - e carreiras. Mas, desde o começo, assustada com o assédio causado pela fama, Agnetha se isolou. Suas aparições públicas sobre projetos do ABBA sempre foram uma dúvida para público, mídia - e para os próprios ex-colegas de banda. Palm descreve, no início do livro, um flagrante de um desses raros momentos. Em 2005, o musical Mamma Mia! faria sua estreia em Estocolmo. No local, fãs enlouquecidos para vê-los de perto e, com sorte, conseguir autógrafos. Seria a primeira vez em 19 anos que os quatro integrantes da banda apareceriam juntos em público. Björn, Benny e Frida chegaram primeiro. Até que um carro parou na frente do teatro e dele desceu Agnetha. Acompanhada de seguranças, ela recebeu atenção especial pela produção por causa de sua fobia da euforia exagerada dos fãs. Mesmo desconfortável com a situação, ela permaneceu no lugar, de forma reservada. Repetiria a aparição em outras ocasiões especiais, como a première do filme Mamma Mia!, em 2008.
Waterloo
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