Caetano traz as "Noites do Norte" a São Paulo

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Por Agencia Estado
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Caetano Veloso dá início amanhã, no Directv Music Hall, em São Paulo, à temporada paulistana do espetáculo Noites do Norte, cuja estréia nacional foi no Rio no início do mês. Sucesso de público e crítica, Noites do Norte, o show - que leva o mesmo nome do disco mais recente de Caetano -, ia, inicialmente, ficar no Directv somente de amanhã a domingo. Como resultado direto do sucesso carioca, a temporada paulista ganhou mais três dias, de sexta-feira a domingo da semana que vem. A banda que acompanha Caetano Veloso é bem diferente daquelas de seus últimos espetáculos. Mais elétrica, considera ele, sem abrir mão da ênfase percussiva já ouvida no show Livro. São quatro percussionistas (os mesmos de Livro) - Márcio Vítor, Josino Eduardo, Eduardo Josino e André Júnior - além de um baterista - Cesinha, que também participa dos vocais. Ao contrabaixo, guitarra e nos vocais, Pedro Sá; ao bandolim e guitarra, e ainda nos vocais, Davi Moraes, filho de Moraes Moreira; e ao violoncelo e baixo, o diretor musical Jaques Morelenbaum. Detalhe: Jaques toca baixo elétrico e um violoncelo elétrico, que nem corpo de madeira tem. "É um instrumento moderno, de desenho gozado", diz Caetano. "Um objeto bonito, vazado. O meu violão, também elétrico, não tem corpo, mas um contorno que sugere o corpo; o violoncelo de Jaquinho tem só metade do contorno e fica uma coisa parecida com A Vaca e o Frango, lembra, aludindo ao desenho animado de traços ligeiros, gaiatos. "De forma que ficou uma banda mais rock-and-roll e há momentos em que as duas guitarras tocam juntas", conta o compositor. E, apesar de o violoncelo ser elétrico, é tocado de forma convencional, com arco: "Faz comentários, soa ali nos interstícios, criando uma textura muito interessante", completa. Caetano insiste na textura sonora porque ficou surpreendido com ela. "O formato, eletrificado, é convencional - mas a sonoridade é muito peculiar", observa. E foge, completamente, ao modelo, aquele evidentemente inovador, que misturava tambores baianos de rua e orquestra à cool jazz, apresentado em Livro. "Os naipes dialogavam, opunham-se - a orquestra de um lado, os tambores de outro; agora, tudo soa junto, integradamente, e soa moderno", entende. Elogia seus músicos: o novato Pedro Sá, uma revelação; o virtuose Davi Moraes, que, até por ser também baterista, "conversa" com os percussionistas em língua comum: "Durante os ensaios, cada questão que era exposta para o Davi tinha resposta imediata; foi tudo muito fácil", conta. Caetano não vai deixar o público sem o famoso momento intimista do show - aquele em que fica só, no palco, com seu violão. "Mas vai ser um quadro curto, com três músicas apenas, todas samba-canção." Noutro momento, canta Caminhos Cruzados, de Tom Jobim e Newton Mendonça, gravado por João Gilberto e também por Maysa. No livro Verdade Tropical, Caetano dedica páginas à comparação entre as duas gravações. Do disco Noites do Norte entram sete músicas (Rock in Raul, Zera a Reza, entre elas); combinam-se com elas os grandes sucessos da carreira (Menino do Rio, Leãozinho), músicas que foram sucesso na voz de terceiros (Nosso Estranho Amor, Tigresa) e outras que são da eterna admiração do compositor, como a já citada Caminhos Cruzados e o Samba de Verão, de Marcos e Paulo Sérgio Valle. Mas ele foi também buscar músicas suas pouco conhecidas do público, coisas tiradas de discos como o experimental Araçá Azul ou o mais pop Bicho. São composições, segundo o autor que, de alguma forma, remetem ao mote inspirador de Noites do Norte - a questão da escravidão no Brasil. Por sugestão da mulher, Paula Lavigne, Caetano começa o espetáculo misturando as músicas do novo disco e as tais mais antigas e pouco conhecidas. Um risco. O público, em geral, precisa de números conhecidos logo no início do espetáculo. Pela reação carioca, risco vencido.

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