Chico Buarque tinha ‘ranço’ de Elis Regina? Novo livro aponta os possíveis motivos

Em ‘Trocando em Miúdos — Seis Vezes Chico’, o jornalista Tom Cardoso levanta hipóteses que teriam levado o compositor a deixar a cantora de fora da letra de ‘Paratodos’

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Foto do author Danilo Casaletti

O recém-lançado livro Trocando em Miúdos — Seis Vezes Chico (Record), escrito pelo jornalista Tom Cardoso, trouxe novas provocações para um antigo debate dentro da MPB: o compositor Chico Buarque não gostava da cantora Elis Regina?

A cantora Elis Regina e o cantor e compositor Chico Buarque Foto: Domicio Pinheiro/Estadão; Raimundo Valentim/Estadão

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Essa discussão sobre a relação entre Chico e Elis ganhou força quando, em 1993, Chico lançou a canção Paratodos. Na estrofe em que o compositor enaltece uma porção de cantoras e cantores brasileiros contemporâneos a ele, Chico deixou de citar Elis. “Viva Erasmo [Carlos], [Jorge] Ben, Roberto [Carlos]/[Gilberto] Gil e Hermeto [Pascoal], palmas para todos os instrumentistas/ Salve Edu [Lobo], Bituca [Milton Nascimento], Nara [Leão], Gal [Costa], [Maria] Bethânia, Rita [Lee], Clara [Nunes]/Evoé, jovens à vista”, enumera a letra

Partindo do que chama de “estranhamento” entre Chico e Elis, Cardoso foi buscar possíveis motivos para isso. Ele cita um fato ocorrido no festival Phono 73, realizado no Anhembi, em São Paulo, reunindo o elenco da gravadora Philips, da qual os dois artistas eram contratados.

O jornalista conta uma traquinagem de Chico: o compositor resolvera, antes de se apresentar, tomar banho no banheiro feminino, justamente no momento em que Elis se preparava para fazer o mesmo. E mais: Chico, para se precaver de que alguém entrasse no local, teria tirado a placa que indicava que ali era um espaço dedicado às mulheres.

Elis teria ficado enfurecida com Chico, que não lhe pediu desculpas. Nessa apresentação, Elis foi vaiada por parte da plateia que não a perdoava por um ano antes ter atendido o “convite” do governo militar para cantar na Olimpíadas do Exército.

Apesar desse suposto entrevero, um ano depois, em 1974, Chico e Elis se encontraram no palco, em um show de inauguração do Teatro Bandeirantes, em São Paulo. Os dois fizeram um dueto em Pois É, parceria de Chico com Tom Jobim. Eles cantam, trocam olhares carinhosos e beijinhos no final.

Em 1977, Chico e Elis se encontraram novamente em um show coletivo no Ginásio do Corinthians, em São Paulo. Há registros fotográficos desse dia, com Elis, Chico e o pianista Cesar Camargo Mariano, marido de Elis à época, conversando amistosamente.

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O empresário de Elis, Roberto de Oliveira - diretor do documentário Elis & Tom - deu um depoimento ao livro de Cardoso para explicar como tentou reaproximar a cantora do compositor.

“Quando propus a Chico de subir ao palco com Elis, ele topou na hora. Chico é um cara muito cuidadoso com as pessoas, sentiu a pressão sobre a Elis e a importância do seu gesto naquele momento. Mas isso, claro, não fez dos dois grandes amigos. Chico jamais engoliu algumas atitudes de Elis”, diz Oliveira ao livro.

O empresário cita uma suposta entrevista de Elis na Holanda na qual ela teria chamado os militares brasileiros de “gorilas” - da qual Chico e outros duvidavam - e a própria participação de Elis nas Olimpíadas do Exército para explicar a repulsa que o compositor teria em relação à cantora.

Sobre a ausência de Elis na letra de Paratodos, Chico, como reproduz o livro de Tom Cardoso, justifica que há mais gente do lado de fora do que dentro de Paradotos.

Elis gravou inúmeras músicas de Chico Buarque

Ao longo de sua carreira, dos anos 1960 até 1982, quando morreu, aos 36 anos, Elis Regina gravou Chico Buarque inúmeras vezes. Em seu disco de 1966, ela registrou Tem Mais Samba. Em 1968, o samba Bom Tempo. Nessa época, também se apresentaram juntos em programas da TV Record e gravaram em dueto a clássica Noite dos Mascarados.

Em 1972, lançou Atrás da Porta, parceria de Chico com Francis Hime que se tornou um de seus grandes sucessos de carreira. No álbum Elis & Tom incluiu Pois É e Retrato em Preto e Branco. No show Falso Brilhante, apresentado entre 1975 e 1977, Elis cantava três músicas dos compositor: Tatuagem, Mulheres de Atenas e Dom Quixote.

No show seguinte, Transversal do Tempo, Construção e Maravilha estavam no roteiro. No disco Saudade do Brasil, Elis regravou Sabiá, parceria de Chico e Tom Jobim que foi vaiada no Festival Internacional da Canção de 1968.

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