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Chris Cornell: 'Hoje, sinto-me confortável com um show em voz e violão'

Vocalista do Soundgarden vem ao Brasil em dezembro; shows em São Paulo está marcado para o dia 11

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Chris Cornell tem gostado da liberdade que só alguém que tenha dedicado mais de 30 anos ao rock pode ter. É a autonomia de fazer o que bem lhe der na telha - em uma entrevista ou em uma apresentação. Em busca dessa liberdade, ele iniciou a carreira solo, duas décadas atrás, enquanto se ocupava com outros projetos, tais quais a superbanda Audioslave e o Soundgarden que, se não é uma superbanda por definição do termo (não reúne integrantes notáveis de outros grupos), merece a alcunha pelos serviços prestados às músicas com guitarra, principalmente durante a ebulição do grunge na virada das décadas de 1980 e 1990. Cornell, hoje, pode ser tanto o performer que se espera dele em uma apresentação com banda, barulhenta e ruidosa, como um sujeito que se aproxima da plateia, com o violão pendurado no pescoço e conversa, ouve pedidos de canções e improvisa sem medo.

Chris Cornell Foto: Jeff Lipsky

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A segunda “versão de Cornell” vem ao Brasil no próximo mês. A turnê começaria em Porto Alegre (no Teatro do Sesi, dia 5 de dezembro), mas foi cancelada por incompatibilidades na agenda do cantor. 

O giro, então, tem início no Rio de Janeiro (Teatro Bradesco, dia 5), segue para Curitiba (Ópera de Arame, dia 9) e se encerra em São Paulo (Citibank Hall, dia 11). No palco, ele é acompanhado por Bryan Gibson, produtor, violoncelista e parte do duo The Waking Hour. Ele é o responsável pelo piano em algumas canções e o acompanhamento em outras. 

A quarta vinda solo de Chris Cornell ao Brasil - uma relação com o País iniciada em 2007 -, é impulsionada pelo novo disco dele, o quarto de estúdio, Higher Truth, lançado no ano passado. O álbum é até o objeto central do show, mas está longe de ser o foco. Por exemplo, em 27 de julho, no Canadá, na última performance de Cornell antes da parada para os shows especiais de reunião da banda Temple of the Dog e da vinda à América Latina, foram seis faixas de Higher Truth de um total de 26.

A grande graça desta turnê que passa por lugares mais intimistas, embora o Citibank Hall tenha espaço para pouco mais de 4,1 mil pessoas sentadas, é a abertura ao improviso. Naquela mesma apresentação canadense, entraram covers de Prince (Nothing Compares 2U), Bob Dylan (The Times They Are A-Changin’ Back), Michael Jackson (Billie Jean), John Lennon (Imagine), além de canções do Soundgarden, Audioslave e Temple of the Dog, costumeiramente pesadas, em versões acústicas.  “Talvez o Chris Cornell de 25 anos atrás não tivesse a mesma tranquilidade para fazer uma apresentação dessas como hoje”, admite o músico, ao telefone. Falando de Miami, do calorento e úmido Estado da Flórida, nos Estados Unidos, onde mora e mantém o bronzeado atualmente, Cornell admite que em situações nas quais ele atua como frontman de uma banda, como nos shows eventuais que o Soundgarden faz, é necessário “seguir certos padrões de comportamento”. “Meu eu anterior possivelmente estaria preocupado demais em como estaria me apresentando, pensando em coisas que não deveria fazer. Minha posição como vocalista de uma banda como o Soundgarden não funciona como artista solo. Devo respeitar que se tratam de dois animais diferentes.” Dentro da sua carreira solo, Cornell roda o mundo sem pompa de uma banda de apoio há cinco anos.

Chris Cornell com o Audioslave Foto: Danny Clinch/Reuters

Entendeu a duras penas a necessidade de se conectar com o público de uma forma diferente daquela à qual ele se acostumou, com poucas palavras, alguns elogios e algo que mexesse com os brios de plateias em estádios e festivais. “Foi preciso mudar a concepção do show e a interação com o público”, ele conta. “É preciso subir ao palco e olhar no olho daquelas pessoas. Ser você mesmo e não interpretar um personagem que não seja você mesmo. O bom é que a experiência pode ser fácil se você entender quem é, qual é a sua proposta para um show como esse. A partir desse entendimento, você chega lá, conversa com as pessoas, conta histórias a respeito das músicas que está prestes a tocar, atende a pedidos da plateia.” “Em shows assim, são muitos pedidos”, ele diz, rindo. 

O formato atual, intimista ao extremo e sem pretensão, dá espaço para a voz de Cornell, conhecida como uma das melhores do rock. O jornal britânico The Independent se rendeu ao potencial da voz do músico ao dizer, em maio deste ano, que “quando ele solta aquela voz, você é capaz de sentir as moléculas do ambiente se transformarem, como se todos estivessem com medo de respirar sob o risco de emitir qualquer som que seja”. “No início, tentava decorar algumas histórias, algo para falar”, relembra Cornell. “Agora, não. Existe uma confiança mútua com o público.” AS BANDAS DE CHRIS CORNELL

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Soundgarden:  É a principal banda de Chris Cornell, fundada por ele, o baixista Hiro Yamamoto e o guitarrista Kim Thayil, em 1984. Originalmente, além de cantar, Cornell tocava bateria. Integrante da emergente cena grunge de Seattle, ao lado de grupos como Pearl Jam e Nirvana, o grupo fez um sucesso estrondoso na virada da década de 1980 para a seguinte. A banda interrompeu as atividades em 1997 e voltou em 2010. Lançaram, em 2012, o álbum King Animal. Atualmente, não têm mais shows previstos. 

Temple of the Dog: Ainda no Soundgarden, Cornell fundou o grupo em homenagem ao amigo Andrew Wood, morto em 1990. A banda trazia integrantes do Mother Love Bone, fundada por Wood, que depois fundariam o Pearl Jam. 

Audioslave: Terceiro projeto de Cornell com banda foi um acaso. Zack De La Rocha, vocalista do Rage Against The Machine, deixou a banda e os integrantes buscaram alguém para assumir o posto. Com Cornell, criaram um novo grupo. 

Vindas ao Brasil incluem consagração e brigas 

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“Desde a primeira vez em que me apresentei no Brasil, percebi que havia algo de especial”, disse Chris Cornell ao Estado. Embora não tenha medo de se mostrar populista, a frase se justifica com a presença razoavelmente constante do cantor em palcos do País. Ao todo, foram sete apresentações no Brasil em quatro turnês distintas. A estreia do vocalista foi no Rio de Janeiro, em dezembro de 2007, um dia antes da apresentação em São Paulo. Cornell havia acabado de retomar a carreira solo após a saída dele do Audioslave, projeto mantido com os antigos integrantes do Rage Against the Machine (veja mais acima). 

Desde então, a presença de Cornell tem sido frequente – e marcante. O momento mais curioso, sem dúvida, se deu durante o festival SWU, em sua segunda edição, realizado em Paulínia, no interior de São Paulo. Após muita chuva e ventos fortes, a programação dos shows foi atrasada em mais de uma hora. Durante o show do Ultraje a Rigor, Roger Moreira, vocalista, achou que era a produção de Cornell que tentava encurtar seu show e promoveu uma série de vaias ao norte-americano. Ele errou. A produção que reclamava dos atrasos era de Peter Gabriel, responsável pelo encerramento da noite. 

A apoteose de Cornell por aqui, mesmo, foi com o seu Soundgarden, na única apresentação por aqui, em 2014, no festival Lollapalooza. Fechando as atividades de um dos palcos, a banda mostrou o veneno musical dos anos 1990. 

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