Em meio à expectativa pelo anúncio do line-up dos grandes festivais que dominam a cena musical brasileira atualmente, há uma certeza: o público do Coala encontrará, ano a ano, uma programação que cabe no seu desejo. Criado há 10 anos pelos empresários e produtores Gabriel Andrade, Guilherme Marconi, Christiano Vellutini, Thiago Custódio e Fernanda Pereira, o Coala terá mais uma edição neste fim de semana, dias 6, 7 e 8, no Memorial da América Latina, espaço que virou sua casa.
Dedicado à brasilidade, o Coala olha, sobretudo para o midstream, ou seja, para artistas que não estão no chamado mainstream, a cena dominante do mercado, mas que não sejam totalmente desconhecidos do público. As exceções - e neste ano, há uma porção delas - são tratadas como atrações especiais e ‘estreantes’ em festivais da ‘nova geração’, como foi o caso de Caetano Veloso, em 2017, Gal Costa e Maria Bethânia, em 2022, e Simone, em 2023. A aceitação do público fez com que esses artistas passassem a ser chamados para outros festivais.
Para esta edição comemorativa de 10 anos, Andrade, Marconi e o curador Marcus Preto programaram nomes como Os Paralamas do Sucesso, Planet Hemp, Lulu Santos e João Bosco, além da despedida da banda O Terno. A novidade fica por conta de mais uma expansão no formato do Coala. O festival, que começou com apenas um dia e um palco e se fixou com três dias e dois palcos ao ar livre, agora terá apresentações dentro do Auditório Simón Bolívar. Serão shows mais específicos, como o pianista Arthur Verocai, 79 anos, acompanhado por orquestra (veja programação completa mais abaixo).
O Coala também evoluiu em sua transmissão ao vivo. Inaugurará a parceria com a plataforma Disney + - nos anos anteriores, foi transmitido pelo canal do festival no YouTube.
“Este ano será a versão mais desenvolvida do festival”, afirma Andrade ao Estadão. Além dessas novidades, ele destaca o desenvolvimento de ações que se tornaram características do Coala e que, de certa forma, fez com que ele virasse o ‘queridinho’ dos fãs de música brasileira - que ficam à vontade, sem disputar espaço com roqueiros ou fãs de artistas pop.
“Todas as coisas que fazem a experiência do Coala ser incrível continuam e estão ainda mais desenvolvidas, como a distribuição de água grátis, uma variedade grande no cardápio de alimentos e bebidas e ativações de marca que enriquecem a experiência do público. Toda a cenografia do festival vai refletir a comemoração dos 10 anos”, enumera.
Em um ano em que o cancelamento das megasturnês da Ludmilla e Ivete Sangalo e da edição do Primavera Sound pegaram o público de surpresa e acenderam o debate sobre um possível esgotamento do formato - em 2023, segundo dados do Mapa dos Festivais, ocorreram 70 festivais, e para 2024, estão previstos outros 40″-, Andrade se apega à “autoralidade” do Coala para que o evento siga relevante e viável comercialmente.
“Além dos festivais, existe o movimento das turnês nacionais e internacionais. Então, o mercado está realmente muito concorrido e as margens estão sendo achatadas devido à alta dos custos, gerada pela alta demanda de artistas e fornecedores. Nesse contexto, são poucos os festivais que vão conseguir sobreviver mesmo”, analisa o empresário.
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Segundo Andrade, ter expandido o negócio para além dos três dias do festival, ou seja, ter criado a marca Coala Music - movimento que o Rock in Rio fez desde o início, por exemplo - foi fundamental. Um dos passos mais importantes foi ter levado o Coala para Portugal, nos dias 31 de maio e 1º de junho deste ano, em Cascais.
“Estamos testando uma nova versão no Brasil, expandimos a atuação da empresa como um todo para outras frentes de negócio, como gerenciamento de carreira de artistas, selo/gravadora, produção de turnês, merchandising e consultoria e conteúdo para marcas. Durante a pandemia, fomos obrigados a diversificar o negócio”, explica. Tudo isso sem descuidar do line-up.
Despedida de O Terno e encontros no palco
A banda paulistana de indie rock O Terno - formada pelos músicos Tim Bernardes, Guilherme D’Almeida e Gabriel Basile - tem uma ligação forte com o Coala: tocou na primeira edição, ainda em início de carreira. Tim também esteve ao lado de Gal na última apresentação da vida da cantora, no Coala, em setembro de 2022.
O show deste ano, na sexta-feira, marcará a despedida - eles dizem ser apenas um hiato - da banda. “Quando tocamos no Coala, há 10 anos, tanto a banda quanto o festival estava apostando, tentando ganhar um espaço na cena brasileira. O festival era pequeno, a banda também era pequena. Fechar a primeira noite, com o Coala grande como agora é, e com O Terno tendo conquistado público, será marcante”, diz Bernardes.
Se em 2014 eles, mesmo com um repertório autoral, apostaram em versões de clássicos como O Trem Azul, do repertório do Clube da Esquina, e no afro-samba Canto de Ossanha, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, para essa despedida O Terno se dedicará às canções autorais que lançou em quatro álbuns. “Vai ser uma seleção de greatest hits de O Terno”, antecipa Bernardes.
A cantora Tulipa Ruiz que se apresentará no Coala tendo como convidado o rapper Criolo, no sábado, também destaca o espaço que o festival abre para a música brasileira e autoral.
“Festivais são lugares de encontros e os que priorizam a música brasileira autoral e, sobretudo, aqueles que reconhecem e valorizam o protagonismo da mulher na música, devem ser celebrados. O Coala abre muitos caminhos nesse sentido e, inclusive, pauta e inspira muitos outros festivais”, diz.
Tulipa adianta que ela e Criolo vão “celebrar a música brasileira” no palco. “Nossos encontros musicais são sempre produtivos, vide nossas colaborações em músicas como Víbora e Cartão de Visita, diz.
Confira a programação das principais atrações
Sexta-feira, 6/9
- Silvia Machete - 14h30
- Boca Livre - 15h50
- Lenine e Suzano revivendo Olho de Peixe - 17h25
- 14 Bis com Flávio Venturini e Beto Guedes (Auditório Simón Bolívar) - 18h30 *sem transmissão no Disney+
- Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes - 19h
- O Terno - 20h
Sábado, 7/9
- Tulipa Ruiz com participação de Criolo - 14h15
- João Bosco - 15h35
- Sandra Sá, Hyldon e Tássia Reis - 17h05
- Arthur Verocai e orquestra (Auditório Simón Bolívar) - 17H45 *sem transmissão no Disney+
- Os Paralamas do Sucesso - 18h40
- Lulu Santos - 20h
Domingo, 8/9
- Mariana Aydar e Mestrinho - 12h50
- Joyce Alane - 14h05
- Xande canta Caetano - 15h30
- 5 a Seco - 17h
- Orkestra Rumpilezz com Luedji Luna (Auditório Simón Bolívar) - 17h45 * sem transmissão no Disney+
- Timbalada e Afrocidade - 18h40
- Planet Hemp - 20h
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Coala Festival
Quando: 6, 7 e 8/9, 12h/22h
Onde: Memorial da América Latina. Av. Mário de Andrade, 664, Barra Funda.
Quanto: R$ 170/R$ 460.
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