Coldplay estreou no Brasil há 20 anos com show intimista, Nokia ‘tijolo’ e ingresso a R$ 100

Em 2003, banda britânica veio pela primeira vez ao País, numa apresentação sem pirotecnia para 6 mil pessoas em São Paulo; fotógrafo do ‘Estadão’ relembra como foi

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Foto do author João Abel
Atualização:

Ir a um show do Coldplay se tornou mais que uma experiência musical. Os hits do grupo liderado por Chris Martin vêm acompanhados de luzes sincronizadas nas pulseiras da plateia, mensagens sobre amor, sustentabilidade e muita pirotecnia. Mas nem sempre foi assim.

Em setembro de 2003, quando os britânicos vieram ao Brasil pela primeira vez, o tom do show era bem mais simples e intimista. Se hoje eles estão no País para uma maratona de 11 apresentações (seis em São Paulo, duas em Curitiba e três no Rio), há 20 anos, foram apenas duas: uma na capital paulista e outra em terras cariocas.

Duas décadas mais jovem: em 2003, Chris Martin tinha só 26 anos Foto: TIAGO QUEIROZ

Era a turnê de divulgação de A Rush Of Blood To The Head, apenas o segundo álbum de estúdio da banda, que tinha na playlist sons como In My Place, The Scientist e Clocks. Eles tinham recebido naquele ano os Grammys de melhor banda e melhor performance de rock alternativo.

A primeira apresentação foi no Via Funchal, casa de shows que fechou as portas em 2012. No local onde o Coldplay tocou seus primeiros acordes em solo brasileiro, hoje estão prédios comerciais e residenciais na região da Vila Olímpia. A extinta casa tinha capacidade para cerca de 6 mil pessoas, número 12 vezes menor do que a banda recebeu em cada uma das suas performances mais recentes no Estádio do Morumbi.

Fotógrafo do Estadão registrou show

Tiago Queiroz, fotojornalista do Estadão, viu Chris Martin cantar de pertinho naquela noite de 3 de setembro de 2003. “Eu lembro que fotografei as duas músicas iniciais na beira do palco e, mesmo depois que eles [produção do show] tiraram a gente, eu continuei tirando fotos no meio do povo”, relata o profissional, que está no jornal desde 2001. “De certa forma, eu estava trabalhando, mas também curtindo a música e a vibração.”

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São poucas as imagens da apresentação, que durou uma hora e meia. São poucas, mas valiosas. Nos 11 cliques cadastrados por Queiroz no sistema de acervo fotográfico do Estadão, é possível ver um Chris Martin bem mais jovem, mas com uma energia que conserva até hoje.

As fotos do público, no entanto, são as que mais chamam a atenção. Pulseiras luminosas? Flashes de smartphones? Nem pensar. De mãos limpas para o ar, a maioria dos fãs fazia coro com o quarteto britânico sem se preocupar muito em registrar o momento.

Fãs do Coldplay: acima, no Via Funchal, em 2003, de mãos limpas. Abaixo, no Allianz Parque, em 2016, com pulseiras coloridas e smartphones Foto: Tiago Queiroz e JF Diorio/Estadão

Mas em uma das imagens feitas por Queiroz, é possível ver uma fã com uma câmera fotográfica na mão. E uma outra erguendo um possante Nokia 2280, celular muito popular à época. O famoso ‘tijolão’, não necessariamente pelo seu tamanho, mas por ter a fama de ser ‘inquebrável’. O modelo, claro, não era capaz de tirar fotos. Seu grande atrativo, além das ligações móveis, era o game Snake, mais conhecido como o ‘jogo da cobrinha’ ou da ‘minhoquinha’. Eram realmente outros tempos.

Celular Nokia e fãs muito animados chamam atenção em foto no show do Coldplay de 2003 Foto: TIAGO QUEIROZ

“Hoje um show do Coldplay gera milhões, bilhões de registros. Naquele show, eu fui com uma câmera gigante, bem pesada, modelo DCS 520, se não me engano”, relembra Queiroz. “Era uma parceria da Kodak com a Nikon. Tinha só 3 megapixels e um cartão de memória muito limitado. A gente tinha que selecionar muito bem o que ia fotografar, era quase como fotografar com filme.”

Um Coldplay bem menos colorido

Aquele show do Coldplay foi descrito no Caderno 2 como um ‘êxtase absoluto’ que ‘levou a plateia ao delírio’. “O público cantava em coro afinado os refrões e o cantor flanava entusiasmado pelo palco, feliz como pinto no lixo”, escreveu o repórter Jotabê Medeiros, na matéria publicada na edição de 5 de setembro.

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Aparentemente, a paixão de Chris Martin pelo Brasil foi um amor à primeira vista. Ainda segundo a reportagem, já naquela exibição de estreia por aqui, ele arriscou algumas palavras em português, como ainda faz com muito gosto 20 anos depois.

Reportagem do Estadão sobre o show do Coldplay em São Paulo, publicada em 5/9/2003 Foto: Reprodução/Acervo Estadão

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Não dá para chamar de ‘triste’ uma banda que arrebatou de forma tão impactante seus ouvintes desde o início. Mas o Coldplay era definitivamente mais melancólico na sua primeira década de uma estrada que começou lá em 1997. A fase colorida e alegre de Chris, Jonny, Guy e Will começa a ser gestada com X&Y, álbum de 2005, se consolida com Mylo Xyloto (2011) e explode com A Head Full Of Dreams (2015).

“O show [de 2003] não tinha nenhuma pirotecnia visual. Eles se amparavam literalmente apenas no próprio som. Era bem intimista, mas numa vibração muito legal. De muita paz. É um show que esquenta meu coração ao lembrar dele”, afirma Queiroz.

Eis o setlist daquela noite:

  • Politik
  • One I Love
  • Trouble
  • God Put a Smile Upon Your Face
  • Shiver
  • The Scientist
  • A Rush Blood to the Head
  • The World Turned Upside Down
  • Everything’s Not Lost
  • Pour Me
  • Yellow
  • See You Soon
  • Daylight
  • Clocks
  • In My Place
  • Amsterdam

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Chris Martin estava feliz 'como pinto no lixo' em sua estreia em SP, escreveu Jotabê Medeiros Foto: TIAGO QUEIROZ

Ingresso já era ‘salgado’

Não foi barato ver o primeiro concerto do Coldplay em São Paulo. Os ingressos custavam R$ 100 na pista, onde ficaram a maioria dos fãs, R$ 150 no mezanino e R$ 200 no camarote. O salário mínimo no País era de R$ 240 à época.

No longínquo ano de 2003, nada de vendas pela internet. Elas começaram duas semanas antes da apresentação e eram feitas por telefone ou presencialmente na bilheteria da casa de shows.

Para as apresentações mais recentes em SP, o Coldplay cobrou entre R$ 490 a cadeira superior e R$ 980 a pista premium. Fora as taxas de serviço de quem comprou pela internet no site da Eventim. Todos os setores do estádio do Morumbi tinham opção de meia-entrada. A banda tem hoje uma das turnês mais lucrativas do mundo.

De lá para cá, muitas vindas ao Brasil

Nas últimas duas décadas, o Coldplay veio ao Brasil oito vezes. Relembre:

2003: Além do Via Funchal, a banda tocou no Rio de Janeiro, no ATL Hall, hoje chamado de Qualistage, na Barra da Tijuca. O show na capital paulista tem alguns registros no YouTube, como este de Yellow:

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2007: Quatro anos depois, eles retornaram e fizeram mais três shows no Via Funchal, entre os dias 26 e 28 de fevereiro. A qualidade e o som não são os melhores, mas a performance foi registrada na íntegra por um fã e também está no YouTube:

2010: Com a turnê Viva La Vida, a banda tocou no Brasil pela primeira vez em espaços maiores: a Praça da Apoteose, no Rio, e o Estádio do Morumbi, em São Paulo. Rolou até entrevista no Caldeirão do Huck, da Globo:

2011: No ano seguinte, a primeira apresentação no Rock in Rio, para mais de 100 mil pessoas. Eles fecharam a programação do Palco Mundo no penúltimo dia de festival, numa data que teve ainda Frejat, Skank, Maná e Maroon 5.

2016: Após um intervalo de cinco anos, o Coldplay voltou ao Brasil e se apresentou pela primeira e única vez no Maracanã. Também fez um show no Allianz Parque.

2017: Logo no ano seguinte, estavam de volta com a turnê A Head Full of Dreams. Foram dois shows em São Paulo, no Allianz Parque, e um em Porto Alegre, na Arena do Grêmio.

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2022: O Coldplay se apresentou pela segunda vez no Rock in Rio e faria mais shows em São Paulo, Rio e Curitiba. As apresentações, no entanto, foram adiadas após uma infecção pulmonar do vocalista Chris Martin.

2023: Com Chris recuperado, os shows foram remarcados para março deste ano. A atual turnê tem 11 apresentações por aqui. Em São Paulo, elas contaram com participações especiais de Seu Jorge, Sandy e Rael.

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