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Com toque brasileiro, McFly lança primeiro álbum de inéditas em dez anos

Em entrevista ao Estadão, banda inglesa fala sobre Young Dumb Thrills, que será lançado nesta sexta-feira, 13; o primeiro single, Happiness, tem sample de música maranhense

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Foto do author Carla Menezes

O ano de 2020 teve altos e baixos para os fãs de McFly, especialmente os brasileiros. Os primeiros meses foram tomados de expectativa pelos shows da banda inglesa no país — no que seria a primeira passagem deles por aqui desde 2011 —, marcados para março. Mas a pandemia forçou uma mudança de planos e o adiamento da turnê, que ficou para 2021. 

Boas novas não demoraram a vir, no entanto. Em julho, a banda anunciou a chegada de seu sexto álbum de estúdio, Young Dumb Thrills, que será lançado na sexta-feira, 13. É o primeiro álbum de inéditas do McFly em exatamente uma década: o disco mais recente, Above the Noise, foi lançado em novembro de 2010.

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De lá para cá, o grupo não esteve totalmente parado: em 2012, lançou uma coletânea com seus maiores sucessos, e em 2013, celebrou os dez anos da banda com shows especiais. E entre 2013 e 2015, juntaram-se a seus contemporâneos na cena do pop punk inglês do começo do século, a banda Busted, para um projeto especial intitulado McBusted, com o qual também gravaram um álbum.

Contudo, em 2016, o grupo entrou em um período de hiato indefinido que preocupou os fãs. Nesse meio tempo, os integrantes, o vocalista e guitarrista Tom Fletcher, o também vocalista e guitarrista Danny Jones, o baterista Harry Judd e o baixista Dougie Poynter, seguiram com projetos individuais, tanto no âmbito profissional quanto pessoal. O retorno em conjunto veio apenas no ano passado, com The Lost Songs (“as canções perdidas”, na tradução), coletânea de faixas demo gravadas em 2011 para o que seria originalmente o sexto álbum da banda.

O verdadeiro sexto álbum, Young Dumb Thrills, foi recomeçado do zero, escrito e gravado entre o fim de 2019 e o início de 2020. Nele, a banda segue fiel ao som pop que marcou toda a sua carreira, mas com um claro amadurecimento, tanto em sonoridade, quanto no conteúdo das letras. 

“Essa foi a primeira vez que nós quatro ficamos em um estúdio por dois meses. Não pensamos demais sobre nada, não tínhamos uma ideia definida do que o álbum deveria ser. O Above The Noise tem uma sonoridade bem distinta, todos os nossos álbuns têm. A sonoridade desse [Young Dumb Thrills] é mais diversificada”, disse Harry Judd em entrevista ao Estadão.  

O primeiro single do álbum, Happiness, lançado em julho, trouxe uma grata surpresa aos fãs brasileiros. A faixa, que abre o disco, traz já na melodia de início um sample da canção A Bela e a Fera, gravação de 1978 da banda maranhense Nonato e seu Conjunto

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O compositor da música original, Oberdan Oliveira, disse ter sido surpreendido pelo contato da equipe dos ingleses no início do ano. “É a prova de que não existe música feia”, brinca o músico. “A Bela e a Fera nem estava inicialmente no repertório do disco, não foi a música de trabalho. Foi escrita para encher as faixas, uma coisa totalmente sem pretensão”. O disco em questão, No Balanço Jovem de Nonato e Seu Conjunto, de 1978, é hoje uma raridade. Na internet, o preço do vinil varia de R$ 190 a R$ 300.

Danny Jones, que também é um dos produtores do álbum, disse ao Estadão que eles estavam em um momento de improviso, ouvindo samples de vinis, quando descobriram a composição de Oliveira. “A gente nem sabia o que era, só pensamos ‘isso é legal, soa brasileiro, talvez a gente devesse fazer algo assim’. A sensação foi boa, fez a gente dançar, se sentir bem e sorrir. Foi nisso que se resumiu aquele dia e é disso que a música fala, do momento em que estamos enquanto banda. Gostamos do fato de ser um aceno para os nossos fãs brasileiros, nunca tínhamos feito isso”, lembrou o guitarrista.  

O álbum conta ainda com outras colaborações menos inusitadas. A faixa promocional Growing Up, divulgada em setembro, tem a participação de Mark Hoppus, da banda Blink-182. Já na faixa título, Young Dumb Thrills, quem aparece é o artista inglês Rat Boy, que também assina com a banda a composição de outras canções do disco, incluindo o segundo single, Tonight is the Night.

Na entrevista ao Estadão, Danny Jones e Harry Judd falaram sobre os últimos anos da banda,  a relação com o público brasileiro, o processo de composição do novo álbum e os impactos da pandemia nos planos para 2020. Confira a entrevista abaixo:

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Young Dumb Thrills é o primeiro álbum do McFly em dez anos. Por que esperar tanto tempo?

Harry Judd: A verdade é que em 2010 lançamos Above the Noise e já no fim de 2011 começamos a escrever nosso sexto álbum. Fizemos uma viagem para compor em dezembro de 2011, que foi quando Red, Touch the Rain, Hyperion, We Were Only Kids, Dare You to Move e Break Me (faixas lançadas posteriormente na coletânea The Lost Songs) foram escritas. Estávamos super empolgados com elas. Em 2012, saímos em turnê e a nossa gravadora quis fazer um ‘greatest hits’ (a coletânea Memory Lane). O Tom (Fletcher, vocalista e guitarrista) tinha escrito Love is Easy, que o Danny produziu depois, e nos empolgamos com essa música, sentimos que era uma boa música para sair junto. Então pensamos: vamos guardar as outras músicas para o que eventualmente seria o álbum, e lançamos o greatest hits com Love is Easy. Outro ano passou com a turnê da coletânea, começamos a escrever novas músicas, escrevemos Love is On The Radio, que tinha um som diferente do que vínhamos escrevendo, e começamos a duvidar se era a direção certa a seguir. E basicamente escrevemos o resto das “canções perdidas” que formaram um álbum que gravamos em 2013 e iríamos lançar. Lançamos Love is on The Radio, que era do sexto álbum, e aí aconteceu o McBusted, que foi super bem sucedido, e decidimos engavetar as coisas do McFly, esperar e fazer um álbum do McBusted, o que nos levou a 2016. Aí tivemos uma pausa e, quando voltamos, pensamos “vamos finalmente liberar essas músicas, porque não vão ser do nosso sexto álbum oficial. E agora veio o novo álbum, que é o Young Dumb Thrills.

Muita coisa aconteceu desde então. Vocês todos tiveram seus projetos pessoais, tiveram filhos... Como o casamento e a paternidade influenciaram a forma com que vocês lidam com a música? Algo mudou?

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Danny Jones: Definitivamente mudou a forma que a gente monta a agenda… (risos). Não sei, crescemos muito desde o último lançamento. Formando famílias ou fazendo qualquer outra coisa na vida. Você tem mais maturidade, você aprecia mais as coisas, definitivamente. Essa é uma coisa que aprendi. Mal posso esperar para fazer shows e acho que aprendemos a apreciar mais isso. Não que a gente não desse valor, mas virou rotina. E agora temos as nossas próprias rotinas com as nossas famílias e a gente pensa ‘uau, aquilo não era comum, era empolgante’. Acho que o processo de criação é do jeito que é, a gente continua tentando se esforçar. Ainda temos a maneira clássica de escrever, mas mudamos um pouco o processo porque a tecnologia está ficando melhor.

Harry: Muda toda vez. Essa foi a primeira vez que todos nós quatro ficamos em um estúdio por dois meses. Não pensamos demais sobre nada, não tínhamos uma ideia definida tipo ‘ah, o álbum deveria ser assim’. O Above The Noise tinha uma sonoridade bem distinta, o Radio:Active (de 2008) tem uma sonoridade distinta, assim como o Motion in the Ocean (de 2006)… todos os nossos álbuns, na verdade. A sonoridade desse (Young Dumb Thrills) é mais diversificada e, para nós, a chave é o embalo. Como Tonight is the Night, Tom escolheu a música e a gente foi junto. Ótima música, e seguimos em frente. E pensamos ‘vamos lançar isso’, porque você vê o que acontece com o McFly quando a gente começa a questionar muito. O tempo passa e você perde o embalo. Tenho certeza de que da próxima vez que fizermos um álbum o processo será diferente. Dessa vez, não quisemos analisar demais ou pensar demais, só estávamos felizes de estarmos escrevendo juntos de novo. 

O primeiro single, Happiness, é bem pra cima, divertido. Já o segundo single, Tonight is the Night, tem uma pegada um pouco mais melancólica. Isso está presente em todo o álbum?

Harry: Acho que todos os nossos álbuns tem camadas diferentes. Quando a gente pensa no Radio:Active, Smile é uma música super pra cima, mas também temos músicas como POV. Para nós, vai ser sempre assim com a nossa música. Juntos, passamos a maior parte do tempo felizes, nos divertindo, e quando pensamos em Happiness, é uma música para se sentir bem. Foi natural escolher uma música como essa primeiro. Tinha a vibe certa. Tonight is the Night mostra o outro lado do álbum. 

Danny:Eu gosto de retratar esses temas, acho que é legal, é cru, e é vulnerável. Mais pessoas se identificam com isso e obviamente você não quer estar triste o tempo inteiro, mas é legal ver uma banda como nós fazendo isso. Sempre tem aquelas músicas no álbum que não se tornam singles, mas ter um single com essa mensagem agora é uma afirmação e tanto.

Harry: Havia um debate para escolher entre ela e uma outra música como o segundo single, mas foi isso que fez a gente escolher Tonight is the Night, porque sentimos que era importante ter uma música com esse significado e uma letra que se conecta não só com os nossos fãs, mas com outras pessoas também.

Existe uma espécie de “mágica” quando você escuta um artista que você admira admitindo suas vulnerabilidades. Qual de vocês chora mais?

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Harry: [aponta para o Danny]

Danny: É, tem sido assim ultimamente (risos). Sempre fui meio chorão.

Harry: A ordem seria Tom [Fletcher], depois Danny, e então eu e o Dougie [Poynter].

Danny: É, mas o Tom chora mais com filmes da Disney, e eu choro mais com…

Harry: Situações da vida.

Danny: É, situações da vida. E também com o The Voice Kids (Danny é jurado da versão britânica do programa desde 2017). Algumas das crianças que aparecem têm histórias… o relacionamento delas com os pais e avós, me identifico muito e é isso que me afeta. Eu era aquela criança dez anos atrás, sabe?

Nós também temos uma versão brasileira do The Voice Kids

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Danny: Por que vocês não nos convidam? O McFly poderia ocupar as quatro cadeiras!

Harry: Acho que eu não seria um bom técnico (risos).

Vocês lançaram Growing Up como faixa promocional. E falando em crescer (grow up, na tradução do inglês), vocês cresceram juntos como banda, cresceram junto dos fãs e cresceram diante dos olhos de todo mundo. Como foi isso? E como foi o período de hiato?

Harry: É uma pergunta difícil de responder rapidamente, mas, você sabe… se observarmos/olharmos qualquer casamento, qualquer amizade… Nós morávamos juntos, trabalhávamos juntos, fazíamos tudo juntos. Não é uma coisa fácil de manter. Nós nunca rompemos, só precisamos de um tempinho longe de tudo aquilo. Alguns mais que os outros. E, você sabe… as coisas mudam, pessoas mudam… É bem difícil de dizer, mas acho que essa experiência dos últimos três anos vai ser a pausa mais longa que vamos ter como uma banda, porque [a banda] é o que a gente sabe fazer, e é definitivamente a coisa mais divertida que conhecemos. Você chega nesse momento, estamos na casa dos 30, e começamos a pensar na vida de uma maneira diferente. O que quero para os próximos 20 anos da minha vida? Eu, pessoalmente, não tenho tantas outras aspirações. Eu gostaria de ver aonde a banda estará em 20 anos. Tenho certeza que todos sentem o mesmo.

Danny: É como qualquer família. Famílias têm suas diferenças, e nós precisamos fazer isso também profissionalmente, criativamente. A maior coisa que aprendemos conversando uns com os outros é como se comunicar, dizer que não está dizendo algo de maneira pessoal, e sim criativa… e tem outro nível, que é o de negócio. São muitas categorias para considerar, mas é como uma família. O nosso empresário disse algo engraçado outra noite que é como se fossemos uma família e algumas das crianças tivessem ido para a universidade, se mudado, e voltado pra casa. E o hiato foi isso. Uma família que passou por essas fases. (A banda) nunca ia acabar, a família não ia desaparecer, mas precisava talvez se rebelar ou se dividir um pouco, para manter aquilo vivo. Olhando em retrospecto, definitivamente renovou tudo. O respeito pelo outro, como conversamos, isso melhorou, o que é bom. É isso que queremos. 

Harry: Eu acho que com o passar do tempo vamos falar um pouco mais sobre esse período de tempo, esses três anos esquisitos. Agora que estamos de volta não quisemos nos prolongar muito nesse assunto. Certamente haverá um momento para contarmos a história toda. Lançamos um livro em 2011 (Unsaid Things: Our Story), e em alguns anos teremos outros dez anos de histórias e acho que todos gostam da ideia de realmente se abrir e contar tudo. Vocês terão as respostas em breve. 

Vamos falar sobre Happiness, o primeiro single. Tem um sample brasileiro. Como isso aconteceu?

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Danny: Na época, tínhamos um cara chamado Jordan (Cardy, conhecido como Rat Boy) trabalhando conosco para nos incentivar criativamente e musicalmente, porque podemos ficar presos na nossa forma de fazer. Ele tem uma coleção enorme de discos de vinil e de arquivos, é incrível. Nós estávamos brincando com os samples em nossos pequenos estúdios, eu, o Rat Boy e o Jason (Perry, produtor do disco), uma maneira muito legal de trabalhar. Acho que gostamos do fato de ser um aceno aos nossos fãs brasileiros. Nunca tínhamos feito isso, na realidade. E soou legal, nos fez dançar e sorrir. E essa música acabou dando o tom do resto.

Foi uma boa surpresa para os fãs brasileiros, depois de algumas surpresas ruins…

Danny: Nem me fale… a turnê é a ruína das nossas vidas nesse momento. É tudo que queríamos fazer. Estávamos tão animados para ir ao Brasil! Estávamos no meio dos ensaios no dia em que soubemos que iríamos entrar em lockdown e não poderíamos ir.

Harry: Estávamos literalmente ensaiando os shows do Brasil, já tínhamos planejado a setlist. Ia ser uma turnê muito, muito legal. É uma merda, mas literalmente não havia nada que podíamos fazer. Nós ainda vamos, só não sabemos quando.

Vocês têm uma lembrança favorita das vezes em que já estiveram no Brasil?

Harry: São os shows. Tentamos tirar uma foto nossa tocando no Brasil e você olha para a plateia, um mar de gente. Quando começamos a carreira, éramos mais novos e fazíamos shows para pessoas mais novas, as pessoas sentavam e tinham assentos em todo canto. As pessoas até ficavam de pé, mas era uma atmosfera diferente. Os shows que fazemos no Brasil são os tipos de shows que nós, como banda, queremos fazer. E que agora fazemos no Reino Unido também, um mar de pessoas animadas, pulando, tendo a melhor noite da vida delas. 

Danny: Tem uma certa energia que é única do Brasil. 

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O período promocional desse álbum tem sido um tanto estranho, com as limitações da quarentena. Vocês estão voltando a fazer música como McFly, promovendo o McFly, e fazendo isso em um período tão singular, tendo que se adaptar. Como tem sido para vocês?

Danny: Interessante. 

Harry: Não é o ideal. (risos) Obviamente, nossos planos, como os de todos no mundo inteiro, mudaram.

Danny: Não é o ideal, mas gosto do fato de estarmos nos adaptando e tentando criar o melhor conteúdo possível. O clipe de Happiness foi gravado à distância, filmamos com os nossos celulares, mas foram incluídas animações e achamos que aquela foi a melhor forma de fazer conteúdo de qualidade e um bom vídeo naquela época. Não podíamos estar juntos… 

Harry: Todo mundo estava fazendo essas performances pelo Zoom, e os primeiros foram inovadores, mas depois de um tempo ficou um pouco…

Danny: Ficamos um pouco cansados daquilo.

Harry: É, e para um clipe de apresentação de uma música, pensamos em como fazer um clipe de verdade.

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Danny: Foi incrível que todos se esforçaram para fazer algo como aquilo. Esse é o clipe de Happiness, todos nós nos esforçando para fazer o melhor vídeo possível, em circunstâncias de lockdown. E ficou legal. 

Harry

: Nós tínhamos uma ideia geral, mas o diretor, Diego (Huacuja, artista mexicano), fez um trabalho incrível e merece 95% dos créditos. Para mim, a aleatoriedade das animações foi perfeita para a música. Foi divertida, interessante, boa para assistir. Tem sido difícil, mas nos adaptamos.

Tonight is the Night

tem um clipe mais tradicional. Claro que seguimos as medidas de segurança na gravação, mas conseguimos fazer uma filmagem de verdade. 

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