Já dá para dizer que Taylor Swift tem o filme de show mais bem-sucedido da história. O longa que mostra quase três horas de apresentação da turnê The Eras chegou aos cinemas norte-americanos e de outras regiões do mundo na última quinta-feira, 12, e impressionou com os números de seu fim de semana de estreia.
Antes dos números, é importante notar: The Eras Tour virou um “filme-evento”, do tipo que tem levado as pessoas de volta aos cinemas após a pandemia de covid-19, assim como foi o fenômeno Barbenheimer.
Barbie levou grupos de mulheres vestidas de rosa e famílias aos cinemas, e alavancou a bilheteria de Oppenheimer pela ironia de filmes tão distintos saírem no mesmo dia. Talvez antes disso só a Marvel tenha tido o poder de mobilizar as pessoas dessa forma.
O que Taylor tem feito é semelhante: ao levar sua turnê para as telonas, ela fez fãs se juntarem, tirarem os figurinos dos armários, trocarem mais pulseiras da amizade e levarem aquela energia dos shows para as salas de cinema. É a transformação de um fenômeno já bem-sucedido em outro, e deu certo.
As cifras comprovam o fenômeno: o filme acumulou 92,8 milhões de dólares (cerca de R$ 467,5 milhões) somente nos Estados Unidos, segundo dados da cadeia de cinemas AMC Theatres. É a segunda maior estreia doméstica de um longa para o mês de outubro da história, atrás apenas de Coringa (2019).
É também a sétima maior estreia de 2023, atrás de Barbie, Super Mario Bros. O Filme, A Pequena Sereia e três blockbusters da Marvel, e logo à frente de Oppenheimer. Já nos outros 94 territórios em que o filme já foi lançado, a arrecadação estimada é de cerca de 32 milhões de dólares (R$ 161,2 milhões), segundo o The New York Times.
No Brasil, Taylor Swift: The Eras Tour chega aos cinemas a partir de 3 de novembro - mesmo mês em que a turnê passa por Rio de Janeiro e São Paulo - e deve ficar em cartaz até o fim do mês. A pré-venda já está disponível. Veja datas e valores. As exibições antecedem os shows de Taylor no País, na segunda quinzena do mês, com ingressos esgotados.
O longa deve superar os números gerais de Justin Bieber: Never Say Never, de 2011, que arrecadou “apenas” 41 milhões de dólares (R$ 206,5 milhões) no seu primeiro final de semana e 138 milhões (R$ 695 milhões) durante a exibição ao redor do mundo.
Vale pontuar que a The Eras Tour não acabou - Taylor ainda passa pela América do Sul em 2023 e por Europa, Ásia e uma segunda etapa norte-americana em 2024. Mesmo assim, os fãs foram em peso aos cinemas. O que pode justificar tamanho sucesso? Para entender, é preciso analisar o frenesi que envolveu a turnê desde o começo.
Turnê é fenômeno cultural
Desde seu anúncio, a The Eras Tour gerou grande mobilização. A turnê chama “as eras” justamente porque passa por todos os dez álbuns de estúdio da cantora, uma espécie de homenagem à empreitada da artista de regravar seus seis primeiros discos, cujos direitos comerciais foram vendidos sem a autorização dela.
Nos Estados Unidos, a procura por ingressos foi tanta que virou tema de debate no Senado Americano por conta do monopólio da Ticketmaster, empresa que comercializou as entradas. No Brasil, gerou protestos contra a ação de cambistas, mobilizou o Procon e a Polícia Civil e até a sugestão de um PL que cria a “Lei Taylor Swift”.
A turnê estreou no dia 17 de março em Glendale, no estado do Arizona, com mais de três horas e 30 minutos de duração e 44 canções selecionadas para representarem os 17 anos de carreira da cantora.
Tradições começaram a ser formadas: fãs se vestem a caráter, trocam pulseiras de amizade e esperam ansiosamente pelo segmento das músicas surpresas, quando Taylor canta duas faixas que não fazem parte da setlist e são diferentes a cada noite. Transmissões dos shows no TikTok e no Instagram viraram rotina e a The Eras Tour foi se tornando um dos grandes assuntos culturais dos EUA e do mundo.
Nesse sentido, é natural que quem foi ao show queira reviver a experiência nos cinemas - com direito a todos os detalhes que se “perde” acompanhando de uma pista ou arquibancada - e que quem não compareceu tenha a curiosidade de descobrir o que está por trás de toda a mobilização.
Greve e negociação com cinemas
A produção e distribuição do filme também geraram um burburinho. Ele foi filmado ao longo de três noites de apresentações no SoFi Stadium, em Los Angeles, no início de agosto - o Estadão esteve presente em um desses shows e explicou a catarse e os melhores momentos do evento. Veja aqui.
No final daquele mês, a cantora anunciou o lançamento do filme nos Estados Unidos. Para diminuir a duração do longa, ela cortou algumas faixas e partes das apresentações. Fora isso, a produção é quase uma reprodução exata e detalhista do show apresentado por ela.
A gravação e edição foram feitas pela produtora da artista, a Taylor Swift Productions, que desde 2018 produz todos os seus videoclipes e filmes. A distribuição, no entanto, não foi feita por meio de um estúdio, como tradicionalmente ocorre.
Taylor negociou diretamente com a AMC Theatres para lançar a produção sem o intermédio de uma distribuidora. O acordo, segundo a imprensa americana, renderá à cantora 57% dos lucros do filme, com a empresa ganhando o restante.
Veículos internacionais afirmaram que o ato gerou incômodo nos grandes estúdios em meio à greve dos roteiristas e dos atores de Hollywood - a primeira foi encerrada no último dia 27 de setembro, enquanto a segunda segue ativa após diálogos fracassados entre o sindicato e a Associação de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP).
O lançamento do filme da The Eras Tour ajudou a alavancar a arrecadação das salas de cinema após o adiamento de longas como Duna: Parte 2 e a sequência de Ghostbusters, que teriam potencial de arrecadar mais de 1 bilhão de dólares ao redor do mundo, segundo analistas do The New York Times.
Uma negociação semelhante à de Taylor foi feita também por Beyoncé, que anunciou o lançamento do filme da turnê Renaissance diretamente pela AMC Theatres. Ainda não há previsão de estreia do longa no Brasil, mas ele também deve se tornar um dos maiores filmes de show da história.
*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais
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