Consagrado produtor da Tropicália, Manoel Barenbein revela em livro bastidores do movimento

Publicação sobre seu trabalho conta em detalhes como foram gravações de obras-primas da MPB

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Por Danilo Casaletti

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Mutantes, Nara Leão e Rogério Duprat. Os principais nomes da Tropicália estão bem consolidados na história e na memória de quem conhece esse que é um dos mais transformadores capítulos da música popular brasileira.

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Entretanto, parafraseando uma das canções símbolos do “grupo”, havia alguém ali que organizava o movimento, orientava o carnaval, ao menos no estúdio.

Esse cara é Manoel Barenbein, que agora conta grande parte de sua atuação na música no livro O Produtor da Tropicália - Manoel Barenbein e os Álbuns de um Movimento Revolucionário (Garota FM Books), do jornalista e produtor musical Renato Vieira, com prefácio escrito por Gilberto Gil.

Na gravadora Philips, entre 1967 e 1971, o produtor Manoel Barenbein chegou a comandar as gravações de 40 discos. Foto: Hélvio Romero/Estadão

A publicação é derivada dos novos episódios do podcast O Produtor da Tropicália, de 2021. Com capítulos dedicados a cada artista e, consequentemente, para os discos que Barenbein produziu de cada um, o livro avança pela história das composições, do trabalho dentro dos estúdios e mostra como o profissional era querido e respeitado por intérpretes, músicos e compositores.

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Entrevistado por Vieira, o produtor relata, por exemplo, os bastidores do álbum Tropicália ou Panis Et Circenses e revela como foi feita a “cena” final da canção Panis Et Circenses - aquela em que vozes simulam estar na mesa da sala de jantar, com direito a sonoplastia de copos e talheres.

Ao Estadão, Barenbein, atualmente com 80 anos, aponta a canção como a mais importante que produziu. “Nunca haviam feito uma cena parecida com uma radionovela dentro de uma música. Foi algo totalmente novo. O técnico de gravação usou um gerador de frequência para fazer a passagem do instrumental para a ‘sala de jantar’”.

Perenidade

O produtor vai além e destaca a perenidade não apenas da canção, mas também do álbum fundamental da Tropicália. “Não é uma estátua, ali esculpida, exposta diariamente. É música! E se fala dele depois de mais de 50 anos...”, ressalta.

Saudado certa vez por Caetano com a frase “ele é a tropicália”, Barenbein diz que Gil e Caetano é que são o centro da história. “Além do trabalho, criamos uma amizade. Nos entendemos, algo muito difícil de acontecer entre as pessoas. E, com isso, pudemos produzir algo incrível juntos”.

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Para além do tropicalismo

Para além do movimento, o livro tem capítulos dedicados a Chico Buarque, Claudette Soares, Erasmo Carlos, Jair Rodrigues, Jorge Ben Jor, Maria Bethânia, Ronnie Von e ao álbum até hoje inédito que uniu João Gilberto, Caetano e Gal.

Para Vieira, é fundamental que se jogue luz na trajetória de Barenbein dentro da música brasileira - o pesquisador estima que, durante a fase em que esteve na gravadora Philips, entre 1967 e 1971, o produtor chegou a comandar as gravações de 40 discos.

“Barenbein não é uma pessoa vaidosa, sempre foi discreto em relação à fama. Penso que o livro mostra que ele também foi um protagonista. Ele era o olho da gravadora, mas com grande compreensão do que os artistas desejavam”, diz, sobre o “biografado” que trabalhou com músicas por mais de 50 anos e há cinco está morando em Israel.

Capa do livro 'O Produtor da Tropicália', de Renato Vieira, sobre o produtor Manoel Barenbein.  Foto: Garota FM Books

Vieira conta que as lembranças estão muito vivas na memória de Barenbein - o produtor participa semanalmente de um programa dedicado à música brasileira em uma rádio israelense - e destaca, além dos discos tropicalistas, os discos que ele fez com Chico Buarque, a quem ele convenceu a entrar no estúdio para cantar.

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“São artistas que pautaram a cultura brasileira dali por diante. Barenbein, e os discos que ele produziu, têm lugar garantido em qualquer antologia da música brasileira”, finaliza Renato Vieira.

Dez importantes gravações produzidas por Manoel Barenbein

Alegria, Alegria (Caetano Veloso - 1967)

A música apresentada no 3.º Festival da Música Popular Brasileira ganhou sua versão definitiva no primeiro disco solo lançado por Caetano.

Prá Chatear (Ronnie Von e Caetano Veloso - 1967)

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Ronnie tentava se distanciar do sucesso de ‘A Praça” e chamou Caetano para dividir o vocal na canção com acento tropicalista.

Roda Viva (Chico Buarque - 1968)

Letra de forte crítica social, a canção está no segundo disco de Chico. Tornou-se um hino atemporal contra tempos sombrios.

Aquele Abraço (Gilberto Gil - 1969)

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Clássico incontestável do repertório de Gil e da música popular brasileira. Uma despedida de Gil e Caetano do Brasil após a perseguição do governo militar.

Meu nome é Gal (Gal Costa - 1969)

O rock composto por Roberto e Erasmo Carlos se tornaria uma das marcas da cantora. Nessa primeira versão, conta com um acompanhamento orquestral.

Charles, Anjo 45 (Jorge Ben Jor - 1969)

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A canção fala sobre um Robin Hood do morro. Um dos sucessos de Ben Jor, gravado também por Caetano Veloso e Gal Costa.

Como É Grande o Meu Amor Por Você (Claudette Soares - 1969)

Com a gravação, que contou com arranjos de César Camargo Mariano, Claudette quebrou a barreira de que cantoras como ela, ligada à bossa nova, não gravavam a dupla Roberto e Erasmo.

Mano Caetano (Maria Bethânia - 1971)

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Jorge Ben Jor escreveu a música para Bethânia saudar a volta do irmão do exílio a que o levou a ditadura militar.

Dois Animais na Selva Suja (Erasmo Carlos - 1971)

Lançada no cultuado disco Carlos, Erasmo, a música de Taiguara fala sobre um casal “amigado”, algo visto com preconceito pela sociedade da época.

Festa Para um Rei Negro (Jair Rodrigues - 1971)

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O samba-enredo do Salgueiro ganhou uma versão diferente da escola. Na hora do desfile, a bateria tocou em uma velocidade e o público cantou na eternizada por Jair.

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