Todos conhecem a brincadeira Seis Graus de Kevin Bacon: quantos passos precisamos para conectar qualquer famoso ao ator personagem onipresente?
Seis Graus de Dave Stewart, em contraste, seria um jogo muito tedioso, já que o antigo participante da banda Eurythmics e gênio louco do pop está aparentemente a um passo de distância de nomes importantes de sua geração, como Mick Jagger, Damien Hirst, Bono e Tony Blair.
Vestido de preto da cabeça aos pés, o músico, produtor, fotógrafo, apóstolo da tecnologia e zelig do rock, hoje com 63 anos, sentou-se no Crosby Street Hotel em Manhattan, recentemente, para falar de seu novo livro de memórias Sweet Dreams Are Made of This: A Life in Music (Doces Sonhos São Feitos Disso: uma vida na música), no qual relembra quase meio século de música, bebendo shots de tequila com Bob Dylan de sombrero, tomando alucinógenos com Daryl Hall e brincando debaixo das cobertas com Stevie Nicks. Seguem trechos da nossa conversa:
O que faz de você um ímã para superestrelas como Mick Jagger e Bob Dylan?
Você leu o livro O Ponto da Virada? Existem algumas pessoas conectoras. Não sei por que, mas sempre estão me perguntando, “Ei, Dave, você pode nos reunir?”. Como sou louco por tecnologia, quando surgiu o Apple Watch, arrumei um rapidamente. De repente, recebo um texto no relógio, de Grace Potter, dizendo: “Meu Deus. Os Rolling Stones vão fazer um tour. Meu sonho é cantar no palco com eles”. Pensei, vou experimentar esse relógio e mandar um texto para o Mick dizendo: “Ei, Mick, você lembra da Grace Potter? Ela quer cantar com você no palco”. E ele mandou de volta: “Que música?”. Pouco tempo depois, recebo esse vídeo dela no palco cantando Gimme Shelter com eles. A coisa mais incrível é que tudo começou com o relógio. Foi como estar vivendo no futuro.
Como pioneiro de vídeos musicais na MTV, qual foi a importância dos ternos combinando e o cabelo pintado de laranja para o seu sucesso?
Éramos vistos como se estivéssemos fazendo uma declaração sobre moda, mas não era isso. Fomos muito influenciados pelo movimento artístico, então compramos ternos do mesmo alfaiate que fazia as roupas de Gilbert & George (duo britânico de arte). Se você vê os vídeos que filmávamos na época, eram muito baseados em Buñuel, em imagens surreais e em mim escrevendo histórias como Dave e Annie Estão em Uma Sala de Reuniões e Uma Vaca Entra. A gravadora dizia: “Que diabos é isso?”. Mas quando a MTV mostrava, todos os telefones tocavam.
Mas você começou na cena do rock no começo dos anos 1970, quando todos poderiam usar camiseta e jeans no palco.
Você não sabia o que estava usando porque tinha tomado LSD e estava olhando para o lado errado, o que aconteceu comigo uma vez. Pensei que a multidão estava ficando maluca, mas eram os ajudantes de palco balançando os braços e dizendo: “Lado errado!”.
Você e Annie Lennox foram um casal, mas se separaram antes da fama internacional. Como você lidou com as consequências emocionais.
Quando Sweet Dreams fez sucesso, já não estávamos juntos há dois anos. Mas no tour promocional, havia apenas os dois se hospedando no mesmo hotel, no mesmo banco de trás do carro. Não havia cinco pessoas para suavizar as coisas. Então, muitos dos entrevistadores perguntavam: “Vocês não eram um casal? O que aconteceu?”. Foi uma terapia de grupo que durou uns três meses seguidos.
Como é o seu relacionamento com a Annie agora?
Moramos juntos por dois anos e tivemos 100 filhos. Então, sempre que alguém quer fazer alguma coisa com uma de nossas canções, temos que conversar e concordar se ela deve estar em um filme ou no que quer que seja. Tem esse lado. Mas se ela me visita para um martini ou para jantar com seu novo marido, nunca falamos de música ou do Eurythmics. O público pensa que se Mick e Keith se reúnem, vão contar velhas histórias dos Stones. Não. Você fala de coisas que estão acontecendo com seus filhos, entende?
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