Opinião | Deep Purple, à prova do tempo, faz show poderoso e renovado em SP antes do Rock In Rio

Banda britânica criada nos anos 60 mesclou hits com músicas do novo álbum em apresentação intimista na capital paulista; eles tocam no festival carioca neste domingo, 15

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A palavra que talvez melhor defina a atual formação do Deep Purple é “unidade”. Não à toa, o novo álbum do grupo foi batizado de =1 (igual a um), indicando que a soma dos cinco integrantes – Ian Gillan (vocais), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria), Don Airey (teclados) e o novato Simon McBride (guitarra) – resulta numa encarnação única, colossal e quase em extinção na era moderna.

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Das raras bandas de rock com mais de 50 anos na ativa (veja aqui a lista), o Purple se apresentou nesta sexta-feira, 13, em São Paulo, sem um pingo de azar – pelo contrário: ali pareceu existir uma maldição que preservava a vitalidade daqueles senhores, alguns deles quase octogenários.

Comparada às duas últimas visitas do conjunto a São Paulo, essa foi a performance mais intimista e entusiasmada. Em 2017, eles trouxeram uma suposta “turnê de despedida”, a qual Ian Gillan depois confessou não passar de uma estratégia para vender mais ingressos. O show foi dentro do festival Solid Rock, com Cheap Trick e Tesla, no Allianz Parque. Em 2023, voltaram ao estádio do Palmeiras para integrar o line-up do Monsters Of Rock, com Kiss e Scorpions.

O vocalista Ian Gillan, do Deep Purple, em show do Deep Purple no Espaço Unimed, em São Paulo Foto: Divulgação/Ricardo Matsukawa/Mercury Concerts

A apresentação ocorreu no Espaço Unimed, na zona oeste da capital, e começou às 22h10, horário comum na casa de espetáculos com capacidade para até 8 mil pessoas. O local estava lotado de roqueiros na faixa dos 40 a 60 anos, todos preparados para gritar a plenos pulmões clássicos como Smoke On The Water, Hush, Space Truckin’, Highway Star, Black Night – os mais aguardados da noite.

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“Obrigado! Aqui estamos novamente em São Paulo. Nós te amamos!”, saudou Gillan após a quarta canção. O cantor entrou e saiu diversas vezes do palco, demonstrando bom humor, fôlego e poderoso alcance vocal. Na última vinda ao Brasil, seu estado de saúde havia preocupado alguns fãs por causa das perceptíveis mãos trêmulas, aspecto mais discreto dessa vez. Em entrevista ao Estadão, ele não quis comentar o tema e disse ter registros médicos confidenciais.

Ao contrário de anos anteriores, o repertório do Purple foi renovado de forma considerável, principalmente devido à inclusão de quatro músicas do álbum recém-lançado: Bleeding Obvious, com toques de Iron Maiden; Portable Door e A Bit on the Side, mergulhos no hard-rock dos anos 70; e Lazy Sod, cuja letra é uma ode à preguiça tal como Lazy, o blues pesado do Machine Head (1972), com Gillan brilhando no solo de gaita.

Deep Purple se apresenta em São Paulo, no Espaço Unimed, antes do Rock In Rio Foto: Divulgação/Ricardo Matsukawa/Mercury Concerts

Houve também escolhas não óbvias, como a dobradinha Hard Lovin’ Man e Into The Fire, do seminal Deep Purple In Rock (1970); a belíssima balada When a Blind Man Cries, dedicada por Gillan aos “menos afortunados”, e a opereta Anya, do esquecido The Battle Rages On (1993), com roupagem energizada graças ao talento de McBride, contratado em 2022 para substituir Steve Morse, que, por sua vez, substituíra o fundador Ritchie Blackmore nos anos 90.

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O novo guitarrista, de 45 anos, rapidamente revigorou o som da banda, um tanto acomodada na última década, trazendo uma amálgama dos estilos de Morse e Blackmore. Ele teve destaque com um solo no meio do concerto, assim como Don Airey, ovacionado após um pot-pourri instrumental que incluiu Aquarela do Brasil e o Hino Nacional.

No setlist de 15 músicas, executadas ao longo de 1h40, houve ainda espaço para o tema Uncommon Man, de inspiração erudita e dedicada o tecladista Jon Lord, fundador do Deep Purple falecido em 2012. A única omissão chocante foi do hit Perfect Strangers, que talvez seja guardado para o Rock In Rio, onde o grupo se apresenta neste domingo, 15, no Palco Sunset, às 22h45.

Opinião por Gabriel Zorzetto

Repórter de Cultura do Estadão

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