Dia 21 de outubro de 2015. Marty McFly, interpretado por Michael J. Fox no clássico De Volta Para o Futuro 2, esteve entre nós. E Demi Lovato também. “Como McFly não promoveu meu disco? Poxa, ele deveria saber que sairia agora”, graceja ela, sobre a data. Por sinal, o álbum, Confident (Universal Music), lançado na semana passada, é o motivo pelo qual a cantora pop veio ao Brasil, nessa curta viagem de dois dias.
O trabalho traz uma versão renovada da ex-teen do Disney Channel, madura e segura de si. Na entrevista exclusiva ao Estado, na quarta-feira, 21, na suíte presidencial de um hotel na zona sul de São Paulo, Demi, de 23 anos, garante que os problemas que a afetaram no passado, sua baixa autoestima e falta de segurança em si, já não a atingem mais. O título do álbum está aí para provar: “Percebi que não preciso mais tentar agradar às pessoas”, ela diz.
Se McFly não tomou conhecimento do novo trabalho de Demi no 2015 imaginado pelo filme, a recíproca é verdadeira no nosso presente. “Não lembro mais do filme. Assisti faz muito tempo”, diz ela. E brinca: “Mas meu disco é ótimo!”.
Há alguma coisa que surpreenderia Marty McFly caso ele chegasse ao nosso 2015? Ele se surpreenderia com as redes sociais. Quero dizer, as pessoas do passado teriam dificuldade para entender isso. Ter tudo tão próximo, das suas músicas preferidas aos seus melhores amigos.
E sobre futuro dele. Teria algo que você gostaria de ter, como aquele hoverboard? Para falar a verdade, não lembro mais do filme. Assisti faz muito tempo. Mas meu disco, Confident, é ótimo!
Os fãs de rock às vezes são blasé. Dizem: ‘gosto só dos dois primeiros discos de tal banda’. Isso não parece ocorrer no pop. Seus fãs, no pocket show da última terça-feira, por exemplo, cantaram com entusiasmo as novas músicas. Por que esse tipo de fã, de pop, é tão devoto? Entendo o que você quer dizer. Eu mesma passo por isso. Gosto só dos primeiros discos de algumas bandas. Acho que as coisas são diferentes no pop. Pelo menos no meu caso, a minha música ficou mais autêntica com o passar do tempo. Esse é o disco mais autêntico que já criei. Tento ser uma pessoa e uma artista verdadeiras. Às vezes, as bandas tentam mudar para atrair mais pessoas. Aprendi o contrário: ser mais verdadeira. E não agradar às pessoas.
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Você diz que esse é o disco mais autêntico da carreira. O que desencadeou essa mudança? Há um ano, fiz muitas mudanças no meu estilo de vida. Comecei a aprender a me amar mais. Ser mais autêntica com quem eu sou. E isso acabou sendo levado para a minha música. Um ano depois, já me sinto muito melhor dentro deste corpo. Me trato melhor. Me sinto melhor com a minha música. Parei de me preocupar com o que as pessoas pensam.
Foi duro colocar essa “nova você” nas músicas do disco? Enquanto escrevia algumas delas, eu pensava: ‘Meu Deus, será que devo dizer isso?’. Mas disse: ‘F...-se. Vou seguir assim mesmo’. Se eu digo que não ligo para o que os outros pensam, tenho que fazer isso, não apenas falar. No fim, tudo o que está ali é um reflexo de quem sou hoje.
O disco tem letras mais ousadas, algumas com linguagem explícita, e roupagem mais adulta. Ao mesmo tempo, há muitas fãs jovens que acompanham você. Como você lida com a questão de ‘não ligar para os outros’ e ser exemplo para os jovens? Por ter crescido diante da TV, no Disney Channel, aprendi desde muito nova que seria um modelo para meninas e meninos. Especialmente para as garotas. Eu dizia que não queria ser um exemplo de conduta para ninguém. Queria ser uma cantora. Inevitavelmente, quando você se torna uma cantora, você acaba se tornando também um exemplo para pessoas mais novas ou com a sua idade. Eu entendi isso agora e mantenho essa ideia ali no fundo da minha cabeça quando tomo decisões. Veja a capa do disco, por exemplo. Algumas pessoas verão essa capa e os pais delas talvez não aprovem. Ao mesmo tempo, estou usando uma roupa mínima e isso é poderoso, já que, no passado, eu tinha vergonha de cada centímetro do meu corpo. Acho mais impactante e poderoso mostrar isso para uma pessoa jovem. E dizer a ela: ‘Olhe o que você pode se tornar caso se trate bem, caso você cuide de si?’. O que quero dizer é que tudo tem um propósito, um significado.
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