Documentário no Globoplay retrata força e doçura de Nara Leão

'O Canto Livre de Nara Leão' terá cinco capítulos e depoimentos de nomes como Chico Buarque e Roberto Menescal

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Foto do author Danilo Casaletti
Atualização:

“Será que ela tem na fala, mais do que charme, canhão? Ou pensam que, pelo nome, em vez de Nara, é leão?”. Os versos foram escritos pelo poeta Carlos Drummond de Andrade em defesa de Nara Leão (1942-1989), depois da cantora ser ameaçada de prisão pela ditadura militar por ter declarado que as Forças Armadas brasileiras não serviam para nada, em 1966.

Eles mostram que Nara era muito além da versão reducionista de “musa da bossa nova” ou dos “joelhos mais bonitos da música brasileira” que ainda tentam impingir a ela. Ao contrário. Era uma artista engajada – que sabia se posicionar por meio da música e opiniões – transgressora e defensora de pautas feministas.

Cena do documentário 'O Canto Livre de Nara Leão'; cantora, que morreu em 1989, completaria 80 anos em 2021 Foto: Globoplay/Divulgação

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Essa outra face da cantora capixaba é um dos temas do documentário O Canto Livre de Nara Leão, que estreia dia 7 de janeiro no Globoplay, a tempo de comemorar os 80 anos da artista, que seriam completados no dia 19. 

Dividido em cinco episódios, com direção de Renato Terra – o mesmo de Uma Noite em 67 (2010) e Narciso em Férias (2020), ambos codirigidos com Ricardo Calil – o doc, por meio de fotos e imagens da época, reconstruiu os famosos encontros de bossa no apartamento da família Lofego Leão, em Copacabana, e ouviu depoimentos de amigos e parceiros de vida de Nara, como Roberto Menescal, Chico Buarque, Marieta Severo e Maria Bethânia – coube à cantora baiana ler o poema de Drummond.

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“A Nara ainda não tem o tamanho que merece no imaginário das pessoas. Ela está no mesmo patamar de Carmen Miranda, Elis Regina e Bethânia. Ela foi uma mulher que não só estava à frente de vários movimentos musicais, como também revolucionou comportamentos. Essa série tem essa pretensão, de trazer um retrato mais completo da Nara”, diz Terra.

O primeiro episódio, de tom mais jornalístico, mostra os primeiros shows de bossa que Nara participou e termina quando ela começa a flertar com o samba de morro. “Nelson Motta diz que aí nasceu a hoje chamada MPB”, comenta Terra. Os demais falam sobre a atuação de Nara no show Opinião, a relação dela com compositores como Chico, Sidney Muller e Dominguinhos, suas abordagens sobre questões do comportamento, até chegar no último, que aborda sua vida pessoal.

“Os episódios não têm uma linguagem biográfica pura. Não é um resumo de informações que você pode encontrar no Google. É uma experiência sensorial sobre cada ambiente pelo qual Nara atuou. É uma vivência. O mundo polivalente e tridimensional da Nara. O episódio da bossa tem uma malemolência, tem espaços. No que fala sobre o Opinião, tem uma pegada mais pulsante, rítmica, com a sombra da ditadura”, explica Jordana Berg, montadora do documentário. 

Cena do documentário 'O Canto Livre de Nara Leão'; cantora, que morreu em 1989, completaria 80 anos em 2021 Foto: Globoplay/Divulgação

Terra afirma que um dos trunfos da série é a pesquisa de fotos, imagens e documentos, como um trecho raro de uma entrevista que Nara deu ao documentário Les Carnets Brésiliens, do diretor francês Pierre Kast, no qual a cantora fala sobre o show Opinião, e um encontro informal de Nara com Tom Jobim em que cantam juntos a canção Wave, além de uma visita à casa de Nara em Itatiaia, na região serrana do Rio de Janeiro, jamais mostrada anteriormente.

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“Sobre Nara, Ferreira Gullar escreveu: ‘sua voz quando canta me lembra um pássaro. Mas não um pássaro cantando, me lembra um pássaro voando’. Isso tem tudo a ver com o espírito da série. Espero que as pessoas fiquem um pouco mais esperançosas com o Brasil e orgulhosas com a nossa cultura depois de assisti-la”, diz Terra.

Cena do documentário 'O Canto Livre de Nara Leão'; cantora, que morreu em 1989, completaria 80 anos em 2021 Foto: Globoplay/Divulgação

Em família

Isabel Diegues, filha de Nara com o cineasta Cacá Diegues, conta que Terra já vinha conversando com ela sobre a série há alguns anos. Ela atuou como uma espécie de consultora da produção. “Foi algo muito informal e não tem a ver com o conteúdo. Dei apoio para ele encontrar pessoas e lugares. Não sou especialista em minha mãe. Sou apenas filha”, explica. O filho de Isabel, José Bial, de 19 anos, é um dos roteiristas do documentário.

A contribuição de Isabel foi, na verdade, muito mais do que indicar contatos. Ela deu liberdade para que a série pudesse ser feita – Nara e Diegues tiveram outro filho, Francisco, que atualmente mora na Inglaterra. “Nosso papel maior sempre foi de facilitadores. É abrir as portas de forma generosa para quem quer contar a história de um personagem público. É importante que haja respeito ao que Nara fez, porém, o entendimento, o recorte, é de cada um que está fazendo seu projeto”, diz.

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Outra iniciativa para marcar os 80 anos de Nara vai sair em março pela editora de Isabel, a Cobogó, dentro da coleção O Livro do Disco. O jornalista e escritor Hugo Sukman vai abordar o primeiro disco de Nara, que leva apenas o primeiro nome da cantora e foi lançado em 1964.

Em Nara, a cantora já afastava o rótulo de musa da bossa nova – ela só dedicaria um disco totalmente voltado ao gênero em 1971 – promovendo o encontro de nomes como Carlos Lyra e Vinicius de Moraes com compositores do morro, entre eles, Zé Kéti, com o sucesso Diz que Fui Por Aí, e Cartola e Elton Medeiros, em O Sol Nascerá.

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