Ed Sheeran reinventa o show de um homem só em São Paulo

Centralizadora em sua imagem, a turnê de Divide desmonta a máxima de que artistas para estádios estão em extinção

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Foto do author Julio Maria

O nome da turnê é Divide, o símbolo é um sinal matemático de divisão mas poucos shows são tão centralizadores quanto o de Ed Sheeran. Ele chegou ao palco do Allianz Parque pontualmente, às20h, com seu violão semi picollo de cordas de nylon, camiseta preta e calça azul escura que realçavam as tatuagens coloridas dos braços e o cabelo laranja. Era o cenário que comporia a noite. Sheeran e seu violão o tempo todo, sem banda ou convidados a dividir absolutamente nada.

Ed Sheeran, durante performance no Billboard Music Awards, em 2015 Foto: REUTERS/Mario Anzuoni

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Sheeran está reinventando o show para massas em época de crise. As 40 mil pessoas que esgotaram os ingressos estavam em suas mãos desde o início. Ou antes mesmo disso. Gritavam "Ed, eu te amo", algumas às lágrimas, antes mesmo de sua chegada.

Ele vem então e inicia um ritual que se repetirá antes de todas as canções. Primeiro, toca a levada ao violão e coloca aquilo em looping, repetição. Depois bate no corpo do violão conseguindo o grave que sairia do bumbo de uma bateria e faz o mesmo.

A próxima sobreposição pode ainda ser uma ou outra frase nas regiões agudas do instrumento. Seu violão, assim, vai ganhando o comportamento de uma pick up. E Sheeran, se tornando um DJ que canta.

Ótimo para ele e seu empresário, que não precisam dividir o cachê com mais ninguém. Para a música, que sai em formatos engessados não permitindo nem um respiro de improviso, nem sempre.

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Seria uma deficiência em outro mundo, mas no universo de Sheeran, não é. Sua plateia vibra com Erasure, The A Team, Castle on the Hill e todo seu equilíbrio entre o pop lacrimoso e o baladeiro sem lhe exigir nada mais.

Ele tem carta branca para estar ali sozinho, assumindo o hibridismo entre o homem real e a máquina, com a diferença de que mostra o tempo todo como é que se faz a mágica. Se era difícil de produzir uma nova banda para encher estádios, imagine nomes que não precisem delas para fazer o mesmo.

Ed Sheeran está só, no palco, nos telões e no que faz. Nenhum outro artista de sua idade encara 40 mil pessoas por mais de 1h30 resolvendo o problema apenas com um violão. Sim, um violão pick up, mas um violão.

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