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Em 'Celeebration', filho de Rita Lee permite às novas gerações ouvir ao vivo a obra de seus pais

'A molecada nunca pôde ver um show da minha mãe', reflete Beto Lee ao 'Estadão'; tributo com músicas da cantora e Roberto de Carvalho estreia neste domingo, 17, no festival Rock Brasil 40 anos

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Por Bruno Cavalcanti

Foi no Carnaval de 2019 que, de passagem pelo bloco Ritalina, uma homenagem à trajetória da roqueira Rita Lee, o guitarrista Beto Lee percebeu uma situação curiosa: o evento reunia uma grande quantidade de jovens de menos de 20 anos de idade cantando clássicos como Lança Perfume, Mania de Você e Doce Vampiro, compostos com o companheiro de vida e música Roberto de Carvalho, com quem fez hits e três filhos, sendo Beto o primogênito.

Beto Lee, filho de Rita Lee e Roberto de Carvalho, está à frente do Celeebration Foto: Silmara Ciuffa/Divulgação

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“Aquela molecada cantava as músicas que faziam parte da minha vida. Eu vi essas músicas sendo feitas, e eu fiquei muito surpreso, porque eles nunca puderam ver um show da minha mãe, ela se aposentou dos palcos há dez anos”, relembra o músico que, impactado com a força do repertório criado pelos pais decidiu que era hora de celebrar o legado que a dupla deixou para o mundo quando decidiu, em 2012, deixar os palcos.

Assim nasceu Celeebration, tributo que Beto presta em vida aos pais, e que chega aos palcos neste domingo dentro do festival Rock Brasil 40 Anos, no Memorial da América Latina, em São Paulo. “Eu vinha alimentando esse desejo desde que ela se aposentou. Tava na hora de fazer um projeto como esse porque, com a minha experiência somada a esses 50 anos de serviços muito bem prestados ao país e ao fato de essas músicas não serem executadas há muito tempo, uma nova geração vai ter acesso a essas canções”.

O show, que estava pronto para estrear em 2020 e contava com as participações de Maria Rita e Ney Matogrosso, foi suspenso devido a pandemia do Coronavírus. Sem as participações dos intérpretes, a produção retorna com um apanhado da trajetória da compositora, desde sua estreia no grupo Os Mutantes, passando pela fase band leader à frente do Tutti-Frutti, até a era hitmaker ao lado de Roberto de Carvalho.

“É difícil pegar os hits e sintetizar a carreira de uma artista do tamanho dela em uma hora e meia de show. Se eu fizesse um show com todos os hits, eu ficaria um ano e meio no palco”, ri. 

Para o tributo, Beto reuniu em cena um time de músicos que fizeram história ao lado da homenageada. Em cena com o artista estão nomes como Edu Salvitti, Danilo Santana, Roger Pica-Pau e o lendário Lee Marcucci, que compôs a formação original do Tutti-Frutti e não só tocou com a roqueira, como é co-autor de hits como Jardins da Babilônia e Miss Brasil 2000.

Com a estreia do show, Beto também leva de volta à cena a atriz e cantora Débora Reis, longe da cena desde que compôs o elenco de O Frenético Dancin Days após arrebatar o teatro musical com sua performance como Hebe Camargo em Hebe - O Musical há cinco anos. “A Débora é uma figura super importante. É uma mulher que apoiou a minha mãe durante anos. Sem ela esse show também não poderia acontecer”, diz o músico que lembra que, antes de ser uma atriz premiada dentro dos musicais, Reis foi backing vocal da banda da homenageada por quase 15 anos.

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“Foi um Mestrado em música e teatro. A Rita é uma artista verdadeiramente completa, não existe escola melhor em todo o mundo senão estar no palco com ela. Eu nunca me acostumei com essa genialidade, era sempre surpreendente”, relembra Reis, que encara o show como um dos maiores desafios de sua carreira. 

“Fui convidada e morri de medo, mas topei na hora. Beto e eu fomos parceiros de banda por 14 anos, viramos irmãos de estrada e de palco. Eu sempre admirei muito a personalidade e o estilo de tocar do Beto, um guitarrista moderno, com uma incrível bagagem old school”, derrete-se.

Beto Lee ao lado de outros músicos da banda Foto: Silmara Ciuffa/Divulgação

O retorno da artista à cena acontece no campo em que ela se sente mais à vontade: a música. “É meu berço, foi onde comecei. Tocava piano e cantava na sala de casa, e mesmo antes de fazer teatrinho pra família, eu já compunha e cantava jingles na infância. Voltar para a música é voltar para casa”, afirma. Celeebration, após a estreia neste domingo, segue em turnê pelo interior de São Paulo antes de retornar à capital no segundo semestre.

Entrevista com Beto Lee

A ideia

Como você sabe, minha mãe se aposentou há muito tempo dos palcos, e desde então eu fiz discos, gravei, toquei com outras pessoas. Vida de músico, mas eu sempre mantive essas músicas, que fazem parte da minha vida, e é engraçado, porque há uns anos fui no Ritalina e reparei uma molecada da idade da minha filha cantando essas músicas e eu ficava abismado porque eles nunca tinham visto o show da minha mãe, então pensei que seria bacana fazer um show.

E ela comemorando 50 anos de estrada, tava na hora de fazer um projeto como esse, porque, com a minha experiência, acho que com toda a história dela, com tudo que ela contribuiu para a música e cultura desse país, 50 anos de serviços bem prestados, e essas músicas não são executadas faz tempo, e aí [o porquê de] apresentá-las para uma nova geração.

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Eu venho alimentando esse projeto desde que ela se aposentou, e tá na hora de colocar para frente. Estávamos na boca do gol quando aconteceu a pandemia, a poucas semanas da estreia. Aí o mundo entrou em pausa e dois anos depois aqui estamos pra estrear esse show, passando por Mutantes, Tutti Frutti e a carreira dela com meu pai.

Beto Lee, Rita Lee e Roberto de Carvalho durante ensaio de show em agosto de 1997 Foto: Milton Michida/Estadão

Como foi a escolha do repertório, o que vocês queriam transmitir?

Minha mãe é uma hitmaker e fica difícil pegar todos os hits dela e sintetizar a carreira de uma artista em uma hora e meia de show. Tem tanto material de Mutantes, Tutti-Frutti, da carreira dela com meu pai, foi difícil chegar num setlist. Se eu fizesse um show com hits dela, o show durava um ano e meio no palco, é muita coisa.

Mas eu cheguei num consenso legal comigo mesmo, o que entra, o que sai, o que vale à pena, o que talvez mais pra frente a gente toque. Apesar de eu gostar muito de um lado B, é um show calcado em hits. Você imagina a minha incumbência de colocar tudo isso num setlist e pesar, não é uma tarefa fácil. Mas acho que faz jus à carreira dela o que vamos tocar. 

O que mudou da ideia original do show em 2020 para este?

Não mudou nada. A gente manteve o setlist. Claro que no show teríamos participações, até da minha mãe, ela tava toda animada. Meu pai também, Ney Matogrosso, Maria Rita... Tudo o que a gente tinha planejado não vai acontecer mais. Mas mais pra frente meu pai vai dar uma canja.

O show já existe, ele está aí, é uma questão de apresentá-lo, e finalmente pintou essa oportunidade. Eu boto uma fé, eu acredito muito na força desse show. Eu cresci com essas músicas, elas estão imbutidas em mim.

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Como filho e músico que tocou com a Rita por tanto tempo, como foi aceitar fazer essa homenagem, mexeu em muitas memórias?

A banda é formada por pessoas que já tocaram com a minha mãe, como o Lee Marcucci, e a Débora é uma figura super importante para esse show. É uma mulher que ficou ali apoiando a minha mãe durante anos e que entende do riscado. Sem ela esse show também não poderia acontecer. Ela tá ali na linha de frente comigo, eu tô capitaneando, direcionando esse show, e é um prazer tocar com essa turma. É que nem andar de bicicleta. A coisa flui, não foi difícil recapitular tudo isso.

Entrevista com Débora Reis

Como surgiu o convite?

Fui convidada para participar entre 2019 e 2020, por Beto Lee e pela produtora Silvia Venna. Eles me telefonaram juntos e eu 'gelei' quando falaram do projeto. Pensei: "Meu Deus, é uma responsabilidade gigante cantar os hits de nossa rainha, junto com Beto. Mas, ao mesmo tempo, um convite irrecusável!”.

Morri de medo, mas topei na hora. Beto e eu fomos parceiros na banda da Rita por 14 anos, viramos irmãos de estrada e de palco. Eu sempre admirei muito a personalidade e o estilo de tocar do Beto, um guitarrista moderno, com uma incrível bagagem old school.

Como foi trabalhar com Rita Lee?

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Trabalhar como backing vocal da Rita foi como um Mestrado em Música e Teatro. Rita é uma artista verdadeiramente completa e eu sabia que não existia escola melhor no mundo do que estar no palco dela. Eram muitos os detalhes que me encantavam todas as noites.

Eu nunca me acostumei com sua genialidade, era sempre surpreendente vê-la atuando. Rita é uma grande atriz, tem o timing perfeito da comédia e do drama. Eu ficava lá atrás admirando seus gestos e movimentaçoes de palco, e ela sempre trazia alguma novidade em suas falas. Sempre antenada ao que acontecia no mundo, sem ensaio algum, nos surpreendia improvisando textos maravilhosos. É diferente de tudo.

É um privilégio enorme trabalhar com seu ídolo e era assim que a banda sempre sentiu. Sempre estivemos ali diante de um ídolo, não de uma patroa. E só pra registrar: ela é a chefe mais querida do mundo! Carinhosa, incentivadora maternal, amorosa… Rita não é deste planeta. Rita é puro amor.

O que diria aos mais jovens sobre a obra de Rita Lee?

A garotada pode não saber, mas Rita fez parte da vida de toda mãe brasileira. São mais 500 músicas gravadas, mais de 100 hits feitos por ela. Não existe nenhuma outra compositora com esse marco. Portanto, jovem, se você não teve a chance de ver Rita ao vivo, pelo menos devore sua discografia inteira! E, claro, assista a um show do Celeebration, onde tocamos parte de suas composições mais amadas. Difícil é escolher alguns hits pra tocar entre tantos!

Como foi seu retorno à música?

Música é meu berço, foi onde comecei. Tocando piano e cantando na sala de casa… mesmo antes de fazer teatrinho pra família, eu já compunha e cantava jingles na infância. Voltar pra música é voltar pra casa.

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