Então é Natal… e o que tocará na sua festa? Conheça a corrida milionária por playlists natalinas

Hits natalinos movimentam mais de R$ 800 milhões por ano. Entenda o mercado, veja opções de trilhas para sua festa e leia o papo surpreendente com Simone, rainha desapegada: ‘Existem essas playlists? Que maravilha!’

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Foto do author Sabrina Legramandi

Já é tradição: basta começar dezembro para Mariah Carey, dona do hit All I Want For Christmas Is You, publicar um vídeo destruindo abóboras, trocando as roupas de bruxa pelas de Natal ou sendo descongelada. “Está na hora”, anuncia ela todo ano em publicações que sempre bombam no TikTok. A de 2023, por exemplo, soma mais de 100 milhões de visualizações.

Não é só a cantora, porém, que é simbolicamente descongelada na virada do dia 31 para o dia 1º: um mercado de música milionário toma força, impulsionado pelas disputas pelas trilhas natalinas. Mariah sabe bem o impacto de All I Want For Christmas Is You. Só em 2021 a cantora e sua gravadora, Sony Music, faturaram US$ 1,36 milhão, ou R$ 6,7 milhões, apenas com essa música, estima a revista Billboard.

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A tradição de ouvir músicas de Natal não é algo novo: há tempos, artistas e gravadoras apostam no lançamento de álbuns festivos. Hoje, CD já é coisa do passado: o que vale são playlists bem ouvidas no Spotify ou no YouTube. Estar em uma dessas listas é um presente do Papai Noel para artistas que querem dar um gás nos seus rendimentos. Só uma das playlists, a “Christmas Hits”, do Spotify, é seguida por 5,6 milhões de ouvintes.

Prova disso é o primeiro lugar assumido pela veterana Brenda Lee, 78, nas paradas dos EUA na semana do dia 16 de dezembro. Depois de 65 anos, a canção Rockin’ Around the Christmas Tree desbancou All I Want For Christmas Is You e chegou ao número 1 do ranking da Billboard. Foi a música mais antiga e a cantora mais velha a chegarem ao topo dessa parada.

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O motivo? A música foi impulsionada por playlists de plataformas de streaming, além de um novo videoclipe e uma conta no TikTok criadas por Lee.

Segundo a Billboard, o mercado de canções natalinas já movimentava em 2021 mais de US$ 177 milhões – cerca de R$ 878 milhões, conforme a cotação atual – nos Estados Unidos anualmente. Dados enviados pelo Spotify ao Estadão mostram que houve um crescimento de 104% no número de listas com as palavras “Natal” ou “canção natalina” em comparação com o ano passado. Ao todo, são 500 mil playlists na plataforma no Brasil com esses termos.

O gosto pelas músicas festivas já é parte de todos os finais de ano da paulistana Laís Martins, 27 anos. Ela conta que, desde a infância, ouvia músicas clássicas de Natal, mas que hoje é a responsável por selecionar as playlists que serão ouvidas pela família na data. “Agora, eu sou a pessoa que garante que, no Natal, a gente vai ouvir músicas de Natal”, brinca.

Para ela, ouvir canções festivas não se limita apenas à véspera da data: Laís começa a alterar as músicas que ouve para seleções apenas natalinas já no início de dezembro. Ela relata que, além de criar playlists para “tudo na vida”, também escuta seleções feitas por outras pessoas ou pelo próprio Spotify.

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Isso se estende até aos dias em que trabalha no mês. “Para trabalhar, eu não consigo ouvir música com letra. Não consigo me concentrar. Mas o Spotify tem uma playlist – Cozy Christmas Jazz –, que é o piano no ritmo de Natal, então eu ouço essa”, diz.

Neste ano, a jornalista passou a morar com o namorado e já criou uma tradição: montar a árvore de Natal ao som das playlists. “Eu quero que a memória esteja atrelada às músicas. [...] As pessoas [que convivem comigo] meio que sabem que elas vão ouvir música de Natal. Não tem outra opção”, diz.

Na seleção, Laís busca agradar a todo mundo: desde canções de Frank Sinatra até clássicos brasileiros. A única exceção? “Tem um monte de artistas pop regravando versões atuais de músicas [natalinas]. Ariana Grande, por exemplo. E eu não gosto”, comenta.

O que vale são os clássicos

Não é só Ariana que apostou no mercado de músicas natalinas recentemente. Neste ano, a cantora dos EUA Sabrina Carpenter resolveu lançar fruitcake, um EP de seis músicas compostas especialmente para a época. Ela apostou até em uma nova versão – feita por ela em 2022 – para um de seus maiores sucessos, Nonsense, que virou A Nonsense Christmas.

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Mas, cercada por grande concorrência, ela ainda não emplacou seu lançamento. No topo da Billboard Hot 100, apenas clássicos ocupam as primeiras posições. Além de Mariah e Brenda Lee, Jingle Bell Rock, de Bobby Helms, e Last Christmas, do duo Wham!, aparecem no topo das paradas da semana do dia 16.

A regra se estende também para as playlists. Segundo os dados do Spotify, as canções mais incluídas em listas temáticas nos últimos 90 dias foram as mesmas: All I Want for Christmas Is You, Jingle Bell Rock, Last Christmas e Rockin’ Around The Christmas Tree. Ariana aparece apenas na quinta posição, com Santa Tell Me.

Playlists ajudam a dar um gás em sucessos de Natal, garantia lucrativa para artistas ao final do ano. Na foto, Sabrina Carpenter, Mariah Carey e Simone. Foto: Charles Sykes/Invision/AP, Brent N. Clarke/Invision/AP e Wilton Junior/ESTADÃO

É um desafio para as novas gerações concorrer com os clássicos de Natal. Daniel Levitin, professor emérito de psicologia e neurociência na Universidade McGill em Montreal, explicou, em entrevista ao The New York Times, que pessoas que possuem boas lembranças com a data podem ter um aumento nos níveis de serotonina e liberar prolactina ao ouvir canções tradicionais.

Mas não dá para desistir. Julia Braga, diretora de Marketing da Som Livre, comenta que a época do Natal “é, e sempre foi, marcada pelo alto consumo de música”. Hoje, com a possibilidade de ter o hábito reforçado pelas playlists, a gravadora, segundo ela, trabalha com um foco: o de “criar novos clássicos”.

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“É sempre bom para o artista e para a música, porque essa é uma importante vitrine para a faixa e mais uma forma de consumi-la”, conta ela, que lembra que as seleções ganham um fôlego ainda maior com o início do verão e das confraternizações de final de ano.

Playlists de Natal e pessoas que ouvem músicas natalinas no final do ano. Na foto, Laís Martins dando play em uma playlist e com a árvore de Natal que ela montou Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Versão brasileira

Julia pontua que a tradição em lançar novas músicas de Natal é mais forte nos EUA do que no Brasil. “O tema ‘Natal’ aqui, muitas vezes, denota uma atmosfera de música para toda a família, amigos e festas”, comenta a diretora. Nomes como Raça Negra, Luan Santana, Michel Teló e Xuxa já apostaram em canções natalinas.

Nenhuma delas, porém, alcançou o status de Então É Natal, da cantora Simone, trilha sonora de incontáveis reuniões familiares e confraternizações até virar “meme” nos finais de ano. Em 2020, a artista disse ter sofrido bullying do público mais jovem durante uma entrevista ao Conversa com Bial.

“A música tocou tanto que uma geração que não me conhecia, não conhecia a minha história, foi influenciada por pessoas que não queriam que acontecesse essa coisa boa que aconteceu comigo, porque há pessoas que têm raiva do sucesso do outro”, declarou à época.

Seriam as playlists de Natal a chance de que Então É Natal caia no gosto desse público? Em conversa com o Estadão, ela dá uma resposta surpreendente. A rainha brasileira das listas natalinas de streaming, desapegada das atuais tecnologias, nem sabe muito bem da existência do formato: “Existem essas playlists? Que maravilha!”, ela responde.

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A canção foi lançada no álbum 25 de dezembro, data também do aniversário da artista, em 1995. Ela é a versão brasileira de Happy Xmas (War Is Over), de John Lennon e Yoko Ono, com letra de Claudio Rabello. Menos de um mês e meio após o lançamento, Então É Natal vendeu mais de 1,5 milhão de cópias. O disco foi pioneiro no tema festivo e ganhou até uma versão em espanhol.

“Essas opiniões sobre música sempre mudam e isso é muito natural”, avalia Simone sobre a possibilidade de a música ganhar novos ares com as playlists. “Quando novas gerações surgem, elas vêm limpas dos preconceitos estéticos da geração anterior. Com isso, injustiças têm sido desfeitas ao longo dos anos, artistas têm sido reconhecidos e colocados em seus lugares de respeito, canções têm ganhado novas oportunidades de interpretação e ouvidos mais carinhosos.”

Capa do disco '25 de Dezembro', da cantora Simone. Incomum entre artistas brasileiros, discos e músicas de Natal são muto comuns nos EUA. No Brasil, o álbum de Simone foi sufocado pelos memes e virou um disco subestimado. Foto: Polygram/Divulgação

A cantora conta que a vontade em criar um lançamento de Natal veio dela mesma após ter ouvido discos festivos de grandes nomes da música, como Frank Sinatra, Elvis Presley, Bob Dylan e Ella Fitzgerald.

No Brasil, nunca houve essa tradição. Eu queria fazer e fiz. [...] Eu nunca imaginei que pudesse fazer tanto sucesso.”

Simone

Simone nunca mais cogitou fazer outro disco de Natal, mas não descarta a possibilidade. Ela, que atualmente realiza a turnê Tô Voltando em comemoração aos 50 anos de carreira, conta ter conversado recentemente com Marcus Preto, diretor dos shows, sobre o tema.

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“Ele me disse uma frase: ‘Vamos lançar logo uma porção de trabalhos inéditos para poder, daqui a uns cinco anos ou dez anos, fazer outro disco de Natal. Já está na hora de atualizar aquele primeiro’”, diz. “Nem sei se faremos, mas gostei do que ele disse porque me fez pensar.”

Por enquanto, a única certeza é que Então É Natal voltará novamente às playlists no ano que vem. Conforme a data se aproxima, Laís Martins já lamenta o dia em que vai parar de ouvir suas listas e canções natalinas.

“Eu fico triste quando acaba o Natal e, aí, não é mais aceitável [ouvir] música de Natal”, declara. “Eu acho que é isso que torna tão especial. Se a gente ouvisse essas músicas o ano inteiro, talvez elas não teriam essa magia.”

3 dicas de playlists não óbvias para ouvir no Natal

1 - Natal MPB

Se você é do tipo que não dispensa uma boa MPB até no final do ano e queira dar um toque brasileiro à data, a seleção de músicas da gravadora Biscoito Fino é uma ótima opção. A playlist tem músicas e versões cantadas por grandes nomes do gênero, como Maria Betânia, Elba Ramalho e Flavio Venturini.

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2 - Natal super clássico

Para quem não dispensa mesmo os clássicos de Natal, existem diversas playlists com as músicas festivas mais ouvidas ao final do ano. No YouTube, porém, uma delas chama a atenção: a que promete uma hora de canções lançadas entre os anos 1930 e 1960. A lista possui músicas como Rockin’ Around The Christmas Tree, de Brenda Lee, It’s The Most Wonderful Time Of The Year, de Andy Williams, e Jingle Bells na voz de Frank Sinatra.

3 - Ok... só Mariah Carey

Ok, você gosta mesmo da diva do Natal. No YouTube, há uma playlist feita apenas com músicas festivas de Mariah Carey que vão bem além de All I Want For Christmas Is You. Dentre as músicas selecionadas, estão Christmas Time Is In The Air Again e Oh Santa!, parceria com Ariana Grande e Jennifer Hudson.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Playlists de Natal e pessoas que ouvem músicas natalinas no final do ano. Na foto, Laís Martins dando play em uma playlist e com a árvore de Natal que ela montou Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO
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