Como seu próprio sobrenome sugere, Paula Toller Amora sabe falar de amor e isso ninguém discute. Nos vocais do Kid Abelha, a carioca apaixonou o Brasil com hits como Pintura Íntima, Nada Sei e Como Eu Quero. O término do grupo em 2016, contudo, propiciou a cantora a mergulhar na sua almejada trajetória como artista solo. Ela está rodando o Brasil com a turnê Amorosa e se apresenta neste sábado, 9, no Vibra São Paulo, com ingressos esgotados, para um espetáculo que celebra os 40 anos de carreira.
“Sempre falei de amor de uma forma não óbvia. Se pegar minhas letras, em geral, estou tentando fugir dos clichês e evitar esse lado excessivamente sentimental, de que sem a outra pessoa a gente não vive. O amor não é um sentimento tosco, é algo construído”, conta Paula ao Estadão, por telefone, entre as mixagens de um novo registro audiovisual gravado no início do ano no Rio de Janeiro.
Mesmo com o sucesso recente de turnês de bandas do pop/rock nacional, como Skank, Capital Inicial e Titãs, ela descartou um retorno iminente do grupo que integrava ao lado de George Israel e Bruno Fortunato. “O fim do Kid Abelha aconteceu naturalmente. Quando se é muito novo, você faz tudo em grupo, vai ao cinema junto, viaja junto, mas depois tem outros interesses, quer trabalhar com outras pessoas, outros estilos. Adorei a volta dos Titãs, mas não estou pensando em algo desse tipo agora”, explica.
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Paula está com 61 anos. A musa dos anos 1980 disse não se sentir cobrada pela conservação da beleza. “Você perguntaria sobre isso a um artista homem?” – replicou ao repórter, antes de complementar – “As pessoas me elogiam e eu gosto. Tenho uma cobrança pessoal que não é necessariamente de beleza. Cuido do corpo e cabeça. Não é pra agradar ninguém em especial, é para eu me sentir bem e um respeito com o público. Eu envelheci bem”, conclui.
Ela não nega, porém, o etarismo na indústria musical. “Existe sim, principalmente no showbusiness, onde precisamos de novidade o tempo todo. Mas eu me sinto bem, não sinto a necessidade de competir com ninguém. Não sou escrava do trabalho e durante os shows me sinto com 18 anos, muito melhor até, pois eu era muito tímida (risos)”, analisa.
A cantora ainda lembrou o incômodo de tocar na primeira edição do Rock In Rio, em 1985. Na ocasião, o Kid Abelha abriu o dia de rock pesado, que tinha atrações como Scorpions e AC/DC. Em determinado momento, Paula chegou a mostrar o dedo do meio ao público em meio a uma chuva de vaias. “Foi um erro da organização do festival e ingenuidade nossa. Eu nem sabia que tinha feito isso, vi na internet. Foi um dia muito difícil, mas passado todo esse tempo, foi bom e aprendemos muita coisa”, rememora.
O momento irado, inegavelmente, foi um ato de coragem e comum na geração dos artistas desregrados e irreverentes, algo raro nesta era de redes sociais e media training. “Hoje em dia você vai falar uma frase e tem que pensar se o verbo vai pegar bem ou pegar mal. Isso é uma tirania. Na geração atual, a pessoa já é empresária, já é influencer. Na minha época era bem diferente. A gente dava opinião em tudo e por isso havia tanta personalidade”, explica.
Segundo informações do jornal Valor Econômico, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está sendo processado por Toller pela utilização não autorizada de uma música do Kid Abelha na campanha presidencial de 2018, a qual Haddad concorreu pelo PT.
Questionada se está satisfeita com o atual governo, ela evitou tomar partido. “Artista nenhum tem a obrigação de ser posicionar politicamente. Não vou responder essa pergunta diretamente, mas digo que recentemente entrei numa situação de fake news a meu respeito e sofri pedrada dos dois lados, da esquerda e da direita. Falando de futuro, eu rezo para o Brasil ter opções mais moderadas, mais democráticas, independentemente do que eu acho do governo atual ou do governo passado. Precisamos de gente nova, com a cabeça mais moderna. O Brasil precisa andar pra frente e não estou vendo isso”, opina.
O show deste sábado, que marca o retorno de Paula à capital paulista, está com os ingressos esgotados. “O repertório tem músicas de todas as fases, é uma antologia, são os maiores hits, pra cantar do começo ao fim. Temos uma banda espetacular, com direção musical e participação especial do Liminha no violão, e cenários bem vibrantes do artista modernista Genaro de Carvalho. É um timaço e o show é festa”, adianta a cantora.
Paula Toller - Turnê ‘Amorosa’
- Onde: Vibra São Paulo
- Data: 9 de março de 2024
- Ingressos: esgotados
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